Repentinamente um dia perdido do passado
Coberto por teias e um tanto de pó
Reapareceu-me diante dos olhos perplexos
Caído entre minhas mãos ágeis e trabalhadoras
Que tudo se dispunham a organizar.
Impressas numa folha de papel amarelada
Antigas palavras e rasuras de próprio punho
Riscadas em ponta de caneta azul tinteiro
Expuseram mágoas e tristezas do coração
Derramadas em letras por chorosos poros.
O amor por algumas horas correspondido
Não correspondeu na sucessão de horas a fio
O amado entediado com a calmaria do romance
Respingou olhares de sedução a novas aventuras
Abandonando ao léu um coração apaixonado:
“...E como tolos
Perdemos todos
Sobrou nada de mim
Nada para ti
Nada para os lados de lá.
Ficamos a vagar no vazio:
Sem imagem, sem palavras
Sem o amor nem um amado.
Não restou nem um frasco de perfume...”