quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Retorno à família e aos amigos

“Aposentadoria: uma nova fase - retorno à família e aos amigos”


O tema era este: Retorno à família e aos amigos. Achei interessante. Assim sendo, o convite para a palestra foi aceito prontamente. Porém, fazia bastante tempo que eu evitava falar em público, uma pequena resistência adquirida com o desempenho do papel de professora universitária. Por isso, falar para os funcionários do DAER tornou-se um desafio a me instigar. O êxito do evento poderia representar a retomada de um fazer, ou o seu efetivo descarte.

Pensando em como trabalhar o assunto, optei por abordá-lo de maneira descontraída, explorando ao máximo os exemplos da vida real, para posteriormente disponibilizar um texto correspondente. E neste blog.

Então, a cumprir com intenções e o compromisso assumido ontem, segue abaixo o prometido.



Aposentadoria:

Aposentadoria é o estado de inatividade laboral do indivíduo humano, após certo tempo de serviço, com direito ao recebimento de salário pelos anos trabalhados. Representa o cumprimento de um compromisso da vida adulta e, frequentemente, a conclusão de uma etapa do percurso da vida.
Diante da remodelação da rotina advinda da aposentadoria, surgem necessidades e novas perspectivas de futuro, assim como também a conveniência do redirecionamento das ações para a resignificação da existência. É tempo de refazer escolhas e de investir em sonhos. É tempo de se reinventar, mais uma vez.


Retorno:

Com a aposentadoria a exigência do trabalho se desfaz, embora o desejo pela ação produtiva ainda possa e deva sobreviver, porém sob outro prisma. Com ou sem a labuta, é comum a pessoa do aposentado disponibilizar-se na dimensão do tempo para o lar e o convívio familiar. E a esse merecido direito de retomada às suas bases, o aposentado deve cuidar para não se conflitar em disputas por domínios com os que ficaram ou voltaram antes, nem se perder em vazios ou se apagar em meio às sombras.
Retomar é difícil e urge por negociações. É preciso conquistar e reconquistar direitos minimizando impactos decorrentes da nova ordem; é preciso fortalecer a confiança entre os membros do núcleo familiar, assim como estreitar os vínculos afetivos; é preciso redefinir os deveres entre as individualidades, renegociar os limites da autoridade mediante sua redistribuição, rever os espaços coletivos e individuais, etc. A aposentadoria é um processo que evolve o grupo familiar e social, e nele se reflete.
Enfim, é tempo de mudanças e de renovação.


Presente:

Dentro de outra perspectiva, mas com uma fala integralmente adequada ao nosso tema, o psicanalista Bruno Bettelhaim disse que “agora que estamos livres para desfrutar a vida, sentimo-nos profundamente frustrados porque a liberdade e o conforto, tão avidamente procurados, não dão sentido nem objetivo a nossas vidas”.
A vida humana pede um sentido para a sua existência. E este sentido se define, e se redefine, a partir dos nossos desejos e ações. Quando faltam os desejos ao indivíduo, as ações perdem sua força e direção, e desta forma o futuro escoa rapidamente pelos espaços desprovidos de sentido. O homem sem futuro não existe no amanhã, ele morre no hoje, quer seja na concretude do ser, quer seja na subjetividade da sua existência, e neste segundo caso, tanto individual como socialmente.
Isso quer dizer que a aposentadoria, mesmo que em nosso vocábulo e cultura ainda nos remetam aos aposentos como destino, de forma alguma deve ser entendida como um período de reclusão, nem sob o pretexto do tão almejado descanso. A aposentadoria deve ser vivida como a merecida jubilação (termo do vocabulário espanhol), como o grande momento de alegria e contentamento decorrente do pleno cumprimento dos compromissos profissionais. Período de alegrias que deve se expandir ao desbravamento de novos horizontes, visto que o jubilado continua sendo um ser capaz, ativo e desejante, e com vivências que lhe conferem valor e credibilidade. Além do mais, com uma longa, muito longa expectativa de vida.
Devo frisar que longe estamos de a aposentadoria ser sinônimo de velhice, e esta, por sua vez, sinônimo de decadência. A aposentadoria, hoje, se abre a descobertas, e nos oferece liberdade para investimentos, empreendimentos, e realizações diante de uma vida com parâmetros cada vez mais transgressores em relação ao tempo e às competências humanas.



Próximos itens a serem postados:

-  passado e presente se rearticulando com vistas ao futuro;
-  na dança das cadeiras o lugar social pode ser reconfigurado e o reconhecimento simbólico do adulto maduro mantido;
- revitalização da vida com a elaboração das perdas e superação de etapas;
-  ócio ativo e criativo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Oh, inquieta vida


Inquieta vida que se diverte mergulhada em excessos. Que brinca de arrastar as pessoas por seus fluxos, criando situações inusitadas (ou rotineiras) com as quais: ora vai nos expondo aos encontros, ora nos impondo às despedidas. E nós, reles mortais, a mal nos governar por entre os puxões e empurrões da vida - caminhando, tropeçando e se perdendo - vamos dando um jeito de escrever a própria história com alegrias e desilusões.


Inquieta vida que transformou os encontros em amizades e as despedidas em saudades. Que nos permite construir e reconhecer incontáveis formas de amigos no transcorrer dos anos. Amigos! Muitos passaram e alguns tantos ficaram. Eu fiz amigos de momentos que se evaporaram sem deixar rastro; conquistei amigos eternos e inabaláveis que resistiram às distâncias do tempo e do espaço; descobri amigos merecedores do mais alto crédito e das minhas confidências. Passei por amigos divertidos, de muitas falas e risadas; descobri amigos mutáveis e instáveis como a vida. Encontros e despedidas, e reencontros surpreendentes (com margem de erro de quase nada para mais e para menos).


Inquieta vida que no presente me presenteou com uma amizade alinhavada e costurada de forma incomum, uma amizade falante e de instantes, brilhante como estrela. Porém, diante da perspectiva da amizade se expandir, os ventos sopraram inesperadamente e mudaram o destino sugerido. Sem ter o que fazer, eu me despeço do amigo com um forte e carinhoso abraço, acalentando as esperanças de me maravilhar às impensadas possibilidades da amizade na sequência do porvir. Sentirei saudades, bem sei, mas sabe-se lá, por onde ainda viajarão as amizades em nossas andanças ao tempo futuro? Oh, inquieta vida...