segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Viver a vida



Lendo algumas linhas sobre a vida e o viver, minha mente animou-se e saiu etérea para se perder por aí. O livro que eu tinha nas mãos caiu suavemente no colo, e viajei mesmo de olhos abertos. Devaneei em idéias habituais com tempero de novos pensamentos.

A vida se faz extensa. O tempo se alarga e promete mais. E o viver? Tem valido a pena? Olho para os lados e duvido um pouco que o ser humano esteja preparado para as vantagens de um futuro longo. Vejo adultos de meia idade e velhos cheirando cocaína como se fosse perfume a ser apreciado, ou bebendo litros de álcool como se fosse refrigerante. Será que estes se encontram perdidos desde a adolescência, ou estão se perdendo diante do porvir? Vejo adultos de idades variadas frenéticos correndo a tudo conquistar, sem distinguir o sabor de cada ação ou aquisição. Gastam a vida aproveitando pouco do muito que fazem. Creio que muitas pessoas não sabem e não buscam desfrutar das benesses que a longevidade incita.

A vida se faz extensa. O tempo se alarga e promete mais. E o viver? Tem valido a pena? Olho para os lados e tenho certeza que o ser humano quer e almeja se preparar para as vantagens de um futuro longo. Vejo adultos de meia idade e velhos nadando e treinando para competições como se fossem peixes, ou voltando aos bancos escolares para ainda realizar sonhos, como se o tempo desse mais uma  largada para as novas oportunidades. Será que para estes o prenúncio será alcançado? Considerando a vida perdendo-se no horizonte, vejo o adulto com vida para retomar planos esquecidos ou adiados, ou mesmo inventar novos projetos. Creio que muitas pessoas estão descobrindo e desfrutando das benesses que a longevidade incita.

A vida se faz extensa. O tempo se alarga e promete mais. E o viver? Tem valido a pena? Olho para mim e percebo minha confiança no futuro, como ser humano me vejo preparada aos enfrentamentos e às vantagens de um futuro longo. Vejo-me na meia idade alcançando a velhice e vislumbrando o pódio como se toda etapa superada, com maior ou menor sucesso, fosse sempre uma vitória, ou almejando amar e aprender, sempre e cada vez mais, como se nem a morte fosse limite para isso. Será que viver dessa forma já não é uma transgressão? Quero viver as alegrias e os percalços da vida com consciência, experimentar as emoções de cada momento como aprendiz e também como referência, inclusive diante da vivência da morte, nossa última experiência de vida. Creio na minha disposição e desejo para desfrutar das benesses que a longevidade incita.

Já propaguei aos ventos minha imensa vontade de viver até perder a conta dos  anos. De viver até que a vida se canse de mim, porque eu sei, eu sinto, jamais hei de me cansar dela. E para isso, conto com a poderosa força do diálogo: as necessárias conversas que tenho comigo mesma na direção de uma harmonia de ser e de estar; a fala que posso e me esforço ter com as pessoas do meu universo na constante busca por acordos e paz. E o espaço que mantenho bem aberto para dialogar com o estranho e sedutor mundo que me circunda.

             Lendo algumas linhas sobre a vida e o viver, e ao embalo dos  pensamentos, percebo com que convicção eu persigo meus ideais. Eu quero tudo da vida, ah, como quero! E estou bem feliz com o que tenho obtido dela, apesar de não serem só flores...



sábado, 25 de fevereiro de 2012

AINDA ASSIM



Lembro-me de criança

Ouvir o canto do galo ao amanhecer

Mas hoje não há canto nem galo.

Ainda assim, existe o amanhecer;

O dia colorido a resplandecer

Por detrás dos arranha-céus

Dos compromissos enfileirados

E barulhos de carros e gentes da cidade.

O sorriso do sol despertando faz esquecer:

A falta do orvalho e gramados, a ausência

Dos cheiros do café, do pão,da brisa

Do saboroso gosto da manhã.

Ainda assim, existe o amanhecer

Que, vez por outra, ainda consigo 

Fascinar-me diante da magia

Da noite em dia voltar a se fazer.





segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

RETORNO DO LITORAL



Carros e muito mais carros

Em correrias passam por mim

Estrada e pessoas em carros ou carrões

Viajam dentro da noite de acolá até ali.

Extravagantemente iluminados por raios,

Carros molhados pela chuva e

Sacudidos pelos trovões

Seguem-se em alinhamento sem fim.

Olhos acessos e faróis ligados

Carros clareiam outros carros arregalados

Que se orientam na estrada alumiada

Do começo, pelo meio, até o destino por fim.


Mais uma revolução sexual?




           Nasci em período de transformações sociais. Naquela época a revolução sexual fervilhava promovendo mudanças na moral estabelecida. O feminismo levantava sua bandeira provocando a aceleração da inserção da mulher no mercado de trabalho, e expandindo seus direitos tanto na vida privada quanto na pública. A expressão afetivo-sexual alargava seus horizontes; jovens homens e mulheres, além das crianças, conquistavam maiores espaços, inclusive na ciência. A sociedade clamava por mudanças. O povo se mobilizou em busca desta renovação. Gritou, lutou, transgrediu, radicalizou. Evoluímos.

            Vivi este momento histórico, mas não atuei. Eu era apenas uma criança. Porém, desfrutando hoje da maturidade, assisto e participo de uma silenciosa e nova revolução sexual, na qual muitos de seus atores nem se apercebem dela. Sutil, sem bandeiras, e sem mobilização popular, pequenos movimentos sociais somados ao grande desenvolvimento da ciência do envelhecimento, abrem e consolidam um real espaço para a erótica no envelhecer, viabilizando e estimulando a sexualidade da população longeva, numa verdadeira revolução de paradigmas.

            A atividade sexual, antes privilégio do adulto jovem – belo, produtivo e reprodutivo – hoje compõe e completa a vida do adulto de qualquer faixa etária, embora ainda como um processo de conquista ao mais velho. Apesar das contínuas mudanças, encontramos pessoas e seus discursos rejeitando o erotismo na velhice, pois  permanecem associando o envelhecimento à doença e entendendo que a sexualidade causa dano físico. Ou ainda, por desqualificarem a sensualidade e a beleza do ancião, imaginando-o infantilizado no seu afeto ou perverso em seu desejo.

Certo é que a cronologia vem perdendo importância como referência para determinar ou caracterizar comportamentos, deslegitimando antigos papéis e promovendo modificações nas identidades e experiências corporais. As idades, derrotando a rigidez de seus limites e provocado a crescente similaridade entre o pensar, agir e desejar - do adulto pai, filho ou avô -, produzem condutas menos estereotipadas e facilitam a inclusão social do adulto idoso. E com a elasticidade de espaços e comportamentos, a sexualidade amplia suas possibilidades diante do envelhecer. Minimizamos o preconceito.

            Assim, a sexualidade em curso, não sendo sinônimo de genitalidade, embora a inclua, estende ao idoso a feliz perspectiva de manter o diálogo com seus desejos, de explorar seu potencial sensual, de redescobrir seu corpo excitável, além de poder desfrutar de suas emoções voluptuosas. A força do conhecimento possibilita falar de autonomia e afirmar a existência do amor erótico, de prazeres e de orgasmos ao longevo.  E afirmar, com propriedade, que dispomos de diferentes formas de expressão de afeto e gozo, sem discriminação de gênero ou idade.

E na sucessiva desacomodação dos fatos, emerge uma discreta e diferente revolução sexual. Sim, mais uma revolução sexual; esta agora a desvendar e imprimir  o direito aos prazeres do erótico em toda a extensão da vida, e incluindo efetivamente a velhice à vida. Porém, uma revolução que  implica  no conhecimento dos riscos iminentes da AIDS - crescente em número de casos nos adultos mais velhos - e aos cuidados pertinentes à sua evitação.

          “Revolução, Consciência, Evolução”. Nós merecemos isso!



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O casamento e o elo perdido



Coisas da vida. Quando menos esperamos a paixão bate em nossa porta e, quantas vezes, de forma devastadora. Sentimento maravilhoso, rico em vida, violentamente cheio de emoção. E como se pode ser feliz, inimaginavelmente feliz quando estamos apaixonados. A parceria cresce e a gente realmente se conhece, acomodando as fantasias e as projeções do ideal em relação um ao outro. Os “defeitos” de ambos se descortinam com clareza e, mesmo assim, mantemos nossa escolha. A paixão vai se transformando lentamente, e nesse cenário nos deparamos com a descoberta de outro sentimento, também maravilhoso, porém diferente: o amor.

Sentimento forte, mais real, quase palpável, mas ainda impregnado do idealismo que preserva, acima de tudo, a grande admiração de um pelo outro. Contudo, já exige maior empenho para adequação e bom aproveitamento das trocas do dia a dia. Torna-se chama de um gostar profundo, apesar das dificuldades e compromissos que se ligam à estabilidade e continuidade da relação. Mesmo com as imperfeições e carências da dupla, nem sempre bem atendidas, o amor vem e se instala.
 
       Essa onda de felicidade atinge o casal envolvido no projeto de vida a dois, forja uma “liga” poderosa que pode sustentar com naturalidade a chegada de novos elementos ao seio da união. Entretanto, diante do descuido e da falta de investimento, até o amor-fogo pode se apagar e deixar de aquecer os corações e corpos dos amantes, distraídos ou pretensiosos, supostamente seguros de suas conquistas e econômicos de dedicação.

       Com o passar do tempo é natural que as exigências aumentem e os compromissos tomem conta de quase todas as nossas horas, e de boa parte de nossas vidas. Afinal, os papéis atribuídos a cada um se avolumam. Antes éramos apenas aprendizes em início de carreira. Depois, assumimos compromissos como marido ou mulher, como pais e profissionais responsáveis. Muitas vezes nos deparamos ainda com cargos de responsabilidade em outras esferas sociais.

      O zelo pelo bom desempenho de nossos papéis, e atribuições, nos leva quase que inevitavelmente à diminuição da atenção para aquele amor antes tão contagiante, cedendo lugar ao amor compreensivo, que aceita as contingências da vida. Entretanto, como decorrência dessa compreensão, nem sempre são gerados sentimentos positivos. Muitas vezes o que acaba prevalecendo é o sentimento acomodado, aliado da indiferença e primo do ressentimento. E, ao se impregnar na relação leva à perda da intimidade e ao esquecimento de que, outrora, aquele que caminha ao nosso lado já foi escolha, a nossa vibrante e radiante escolha. Resultado: o amor ao outro se desaquece, o amor-próprio anda na sequência e, de repente, nos encontramos frios em relação ao amor e às coisas da vida.

      Redescobrir esse sentimento e reconquistá-lo pode ser belo e revigorante. Para muitos de nós o amor, já bem apagado, não mostra possibilidade de vida. Mas, vale à pena tentar!

      Vivemos numa época de consumo extremado, onde diariamente somos seduzidos a trocar o “velho” pelo “novo”. Parece mais fácil. Quem sabe viver uma nova paixão, viver outro amor? Mas, cuidado!!! Nós continuamos sendo os mesmos e tendemos a repetir nossos jeitos e procedimentos em outra relação. Então, por que não tentar revigorar esse velho amor e torná-lo novamente paixão? Certamente não é fácil, mas o fácil nem sempre é o melhor e não nos oferece o mesmo sabor de vitória. Investir no que já temos não é comodismo, é algo muito desafiador. E que desafio!

A receita é individualizada, cada caso é um caso, mas os princípios gerais seguem os mesmos padrões. Comecemos pelas mudanças em nós mesmos. A relação de amor precisa dos dois, porém se somos os primeiros a acordar, que seja nossa a iniciativa de puxar o outro. Esperar, se queixar ou cobrar do par nunca nos levará muito longe. Não expressa sabedoria.

Quando uma das partes já se reativou em auto cuidado e atenção para si, reanimando o amor-próprio, é hora de buscar o outro. Pequenos gestos como a quebra de rotina, o namoro sem exigência nem compromisso, o revitalecimento do vínculo, do carinho e da sensualidade, podem representar a retomada da intimidade e da cumplicidade perdidas no transcurso da vida do casal. Partimos, assim, rumo ao reencontro da emoção, de um amor mais maduro, mas sem nunca deixarmos de fora o pouquinho de adolescentes que carregamos em nós.

Não queiramos pouco do “novo-velho-amor”. Desejar a paixão e descobrir esse novo no velho amor pode ser extremamente excitante. Amar o outro e suas transformações é se permitir ser amado com intensidade, respeitando as marcas do tempo, da sabedoria acumulada, e das imperfeições. Nunca será como antes, mas poderá ser bem melhor!
 


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Maltrato no trânsito


Confesso que estou bastante abalada com minhas últimas conclusões. Depois de sofrer consecutivas agressões no trânsito – seja estacionada, parada ou trafegando pelas ruas de Porto Alegre – constatei, como hipótese mais provável, que a cidade está sendo invadida por animais perigosos.

Disfarçados como respeitáveis e bem vestidos senhores, ou como jovens bem apessoados de ambos os sexos, esses seres muito hostis indiscutivelmente são monstros ferozes. Usualmente vejo-os emoldurados em luxuosos carros, em imponentes e reluzentes caminhonetes, mas eventualmente, sentados no volante de veículos utilitários. Esses animais truculentos e nocivos à sociedade, talvez fugidos de algum zoológico intergaláctico, encontram-se soltos aterrorizando desavisados humanos como eu. Quando menos se espera, e de forma injustificada, esses seres se põem a agredir com vasto vocabulário ofensivo e, por vezes, inclusive com atitudes de intimidação física.

Vítima do maltrato no trânsito, também testemunhei semelhantes ações maldosas e despropositadas infligidas aos que circulam pelas ruas no cumprimento de seus desígnios. Assim, constatei que pessoas de caráter pacífico e dócil ficam mais expostas à humilhação perante os sádicos animais, que se avolumam na promoção do esfacelamento da dignidade e da auto-estima do outro.

Após identificar-me alvo recorrente da belicosidade dos destemperados do trânsito, voltei para o meu reduto, incomodada, cansada, e me sentindo desprotegida em mais este aspecto. Percebo minha vulnerabilidade crescendo com o comportamento sem limites e desrespeitoso de marginais, estressados, desequilibrados e rebeldes da nossa cidade.

E, agora ao escrever essas linhas, me pego refletindo:

Será que um dia todos nos tornaremos agressivos animais e nos ameaçaremos uns aos outros? Enquanto houver tempo, como podemos nos esquivar da fúria dos mal-humorados irracionais, no trânsito ou em qualquer outro lugar? Como humanizar esses seres perversos que degradam a sociedade com suas atitudes injustificadas? Como podemos gerar gentileza e o mínimo de civilidade entre seres iguais, independente das diferenças circunstanciais? Será que é querer demais pedir um pouco de paz?

Como desejaria dispor de capacidade para lançar um slogan bem criativo, e dar início a uma campanha efetiva na promoção da paz no trânsito. Seria um começo para sair da posição educada-amedrontada que adotei, e deixar de me desculpar por situações das quais não sinto ter responsabilidade.