terça-feira, 5 de julho de 2016

Desabafo

Um dia eu sabia sonhar, 
sabia brincar com os sonhos, 
e escrevê-los e compartilhá-los; 
eu acho que sabia. 
Aí eu quis o vento, que soprou vigoroso e mudou de lado uma 
e muitas vezes, 
o vento que revirou o ontem, o hoje, e talvez até o amanhã; 
eu quis, mas ele me derrubou. 
Então, 
sei lá como ou porquê, 
eu passei a perceber paredes interceptando ideias, 
muros rompendo caminhos, 
buracos obstaculizando esperanças, 
e sem mais, fiquei com menos. 
Mesmo assim, de um jeito ou de outro, eu sentia. 
E ainda sinto. E morro aos pedaços na sequencia das horas, 
seguindo o rumo em passos trôpegos, 
atingida por mentiras 
e trapaças e engambelações que ferem. E me sufocam, 
como mãos que se entrelaçam em torno do pescoço, 
levando tudo ao nada.

sábado, 21 de maio de 2016

Sexo...



SEXO... 

"O casamento esfacelou-se na sua inconsistência; os filhos crescidos tomaram o próprio rumo enriquecendo a qualidade e a quantidade dos laços familiares; e a vida, recheada de pessoas amigas, estava satisfatória. Eventualmente havia quem se penalizasse diante do meu caminhar sem par pelas ruas do cotidiano, mas confesso, me sentia feliz de imprimir ritmos e modos aos passos. Sentia-me leve: esvoaçando ao vento ou gotejando de calor sob o sol ardente ou compondo com os coloridos das estações. Mas qual não foi a surpresa quando o destino pôs um par de olhos esverdeados estacionados nos meus. O brilho que irradiava daquele olhar iluminava com graça as linhas franzidas ao redor dos olhos. Outras marcas mostravam-se naquele rosto, mas nem percebi. O tempo sempre tão apressado parou ali e se perdeu em mim. Restaram apenas os nossos olhares sorridentes e cheios de assunto. Nossos olhares desejosos por se experimentarem na proximidade. Olhares emocionados buscando partilhar emoções. Plenas!"

...E ROMANCE SEM PRECONCEITO DE IDADE, faz bem à saúde!


Nós somos cuidadores de idosos. Ligue e tire suas dúvida: (51) 9985.5786. 


#cuidadoresnativa #cuidadoresidososportoalegre #cuidadoresidososrosa

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Somos cuidadores de idosos

Sempre fui cuidadora de pessoas, mesmo quando não sabia ao certo o que fazia. Era menina ainda e cuidava da irmã inquieta, acompanhando-a em suas múltiplas atividades para que ela realizasse suas aventuras e sonhos, como o de ser atleta na adolescência. Cuidava da avó querida e arteira que, volta e meia, necessitava de alguma assistência, inclusive para fazer curativos na perna frequentemente ulcerada. Cuidei de amigos quando eles, na juventude, bebiam além da conta. Depois cuidei de marido e filhos e pacientes ao longo da vida adulta. Como psicóloga fui adiante e estudei gerontologia, que é o estudo do envelhecimento, sem que eu entendesse com clareza o rumo que a vida tomava. Apenas fui seguindo intuições e inspirações. Quando meus pais, saudáveis até hoje com a graça dos céus, somaram anos além da expectativa de vida apontada pelas estatísticas, passei a cuidá-los mais de perto para que continuem saudáveis e felizes enquanto transitam por esse mundo afora. 
Assim, foi natural transformar-me em “equipe” de cuidadores de idosos. Hoje multiplico o meu fazer pela ação de cuidadores selecionados e treinados e supervisionados, alicerçado na vasta prática destes quase sessenta anos de vida. Foram conhecimentos adquiridos inicialmente com o coração, e que depois foram qualificados com muitos e dedicados estudos, além de atividade profissional focada e exitosa. 
Somos cuidadores de idosos e estamos prontos para acolher o seu idoso com competência e carinho. Talvez não tenhamos o melhor preço do mercado, sabe-se lá, mas asseguro sem sombra de dúvida alguma, oferecemos o melhor cuidado ao seu ente amado através da minha experiência e do nosso balizado trabalho de equipe. 
Somos cuidadores por natureza - tenho orgulho do caminho percorrido assim como do caminho que estamos construindo em direção ao futuro.



fone (51) 9985.5786


domingo, 3 de janeiro de 2016

Sumiram dias


Jogada no sofá de pernas para o ar e completamente relaxada, sem compromisso reivindicando atenção, sem viva alma a preencher os vazios da casa, e sem qualquer esforço da vontade consciente, caí na rede dos meus pensamentos poéticos. E lá estavam eles fazendo uma suave retrospectiva do ano que findava. Pensamentos faceiros passeando por acontecimentos vividos, singelamente enfeitados por véus de musselina coloridos em tons pastéis. O sorriso já ia solto invadindo os lábios e as emoções. De súbito dei um salto, tropecei em meus próprios pés, e caí sentada e desajeitada no chão em frente ao sofá.

"Espera", disse eu a mim mesma. "Cadê os outros? Afinal, o ano não tem que ter 365 dias? Está me faltando um bom punhado de dias neste ano aí, eu não vivi tudo isso, não senhor!!! Tem cilada nisso, ah, tem mesmo." E esse pensamento aflito se ocupou rápido e plenamente de mim. Instintivamente soltei um gemido, e depois, sem dar por mim, gritei desconsoladamente:

- Socorro, eu fui roubada, fui roubada embaixo do meu nariz. Não pode ser, perdi pelo menos um quarto de tudo! Eu fui roubada, eu fui roubada...

E ali mesmo no chão, abraçada em minhas pernas, com a testa levemente apoiada nos joelhos, desatei em choro convulsivo.

Em minutos a campainha do apartamento tocou. Paralisei, pois aquela não era uma boa hora, eu não queria atender ninguém nem receber visita, nem que fosse quem fosse. Mas a campainha voltou tocar com insistência. "Diabos, a gente não consegue mais sofrer em paz?" Sequei as lágrimas, arrumei a cara e fui à porta abrindo inicialmente uma fresta, e logo a porta toda. Para meu espanto vizinhos se espremiam e falavam ao mesmo tempo diante de mim:

- Estás bem? Não te machucaram?
- Viste a cara do bandido? Por onde ele entrou?
- Foi agora? Que perigo! A gente nem viu nada.
- Fica calma que nós vamos te acompanhar até a delegacia para o registro da queixa, isso não vai ficar assim. O maldito do ladrão há de pagar por isso.
- Que susto minha querida, precisas de alguma ajuda? Um calmante, talvez?

Atônita, com os olhos molhados e arregalados, olhando os bons corações solidários, e intrometidos, eu fiquei na iminência de simplesmente fechar a porta e voltar ao momento de introspecção com minhas subjetividades. Porém, como faria? A boa educação me fez secar a última lágrima que escorreu desgarrada, e amenizar o mal entendido.

- Por favor, desculpem-me pela confusão, eu falei alto, não é? Mas foi sem querer, não consegui conter a emoção. Na verdade, não foi bem um ladrão quem me roubou, foi o destino. Inclusive, pensando melhor, acho que não foi um roubo, eu fui lesada por uma trapaça da vida. Lamento o sobressalto que criei. Estou ainda um pouco atordoada, mas fiquem tranquilos, já estou melhor.

Enquanto eu explicava o inexplicável, sutilmente fui encostando a porta até fechá-la, separando novamente as minhas apreensões das preocupações deles. Entre olhares, os vizinhos pareciam não entender nem se convencer da minha conversa, no entanto, devagarinho foram se dispersando.

Pé ante pé eu voltei para perto do sofá, me agachei no chão abraçando as pernas como antes, e retornei a chorar, sentidamente, o sumiço dos oitenta e poucos dias do meu ano que findava. Porém, dessa vez, soluçando e murmurando baixinho para não incomodar mais ninguém:

- Onde foram parar meus dias faltantes? Onde?