terça-feira, 23 de outubro de 2012

ATÉ AQUI...



...Dominei doloridas paixões

Escapei de vultosos tubarões

Fugi de um bocado de safados

Livrei-me do fel de mal amados

Esquivei-me de ranços e venenos

Venci seres pérfidos e pequenos

Enfrentei traiçoeiras armadilhas

Desviei rumo percorrendo trilhas

Superei os sofrimentos da alma

Silenciei para manter a calma

Resisti a tantas formas de perigo

Lutei até em território inimigo

Subsisti a lamentáveis percalços

Derrubei injúria e os cadafalsos:

- Sobrevivi!


      Acervo pessoal

domingo, 14 de outubro de 2012

ADOECI


A  luz  da  alma  tremeluziu

O  corpo  molengamente

Lúgubre,  curvou  e  sucumbiu.
 
 
by Rosa Helena

Livro

                                                                       clicada por Rosa Helena


Gosto de livros. Não, não! Eu adoro livros.

Embora leia infinitamente menos do que a minha fascinação pelos livros reivindica, quase sempre tenho algum em minha companhia. E junto com o livro, carrego como acessório indispensável, um lápis e um dicionário, que, enfim, também é um livro. Igualmente me encanta a intimidade com o dicionário. Acho-o mágico quando desvenda o desconhecido sentido das palavras, ou quando ele reinventa o sentido das minhas ideias através do uso de palavras sinônimas.

Assim, costumeiramente estou em boa companhia. E me orgulho em dizer: eu jamais deito só. Refestelada entre lençóis e com a mente livre, na certeza dos prazeres vindouros, agarro firme o livro entre as mãos e relaxo. As fantasias, dirigidas por mestres da literatura, agitam-se e emocionam-me.  E o sono, de mansinho provocado, vem semeando o enredo dos infalíveis sonhos que ocuparão minhas noites.

Enquanto leio, tenho por hábito marcar no texto as passagens que me tocam pela astúcia, ou pela lógica inteligente ou, ainda, pela sensibilidade poética. Ao lado das palavras, cujo sentido ficou esclarecido com auxilio do dicionário, deixo registrado, pelo menos, um sinônimo. Eventualmente interajo mais com o livro expondo dúvidas e opinião sobre a leitura em andamento, ou questionando ideia ou informação, através de breves comentários redigidos a margem do texto.

Quando leio sobre temas de estudo teóricos, normalmente relacionados à psicologia, ao envelhecimento e à atividade física, minha interação aumenta significativamente. Chego a travar um particular diálogo com o livro e seu autor, e o faço por escrito entre as linhas e à margem das páginas. Faço observações, perguntas, respondo às minhas próprias indagações, esclareço meus pontos de vista, e, eventualmente, até emito sugestões. Estabeleço uma conversação muito próxima, espontânea e verdadeira, me rebelando e me revelando. E, acima de tudo, construindo indiscutivelmente uma cumplicidade única com o livro. E o texto que era um, se transforma em dois. O oficial e o paralelo produzido por mim.

Desta forma, meus livros ficam transfigurados pelos escritos e rabiscos da coautora desautorizada. E eu, um tanto exposta no âmago do meu pensar e sentir.

Pois, se eu emprestar livro meu, não tenham dúvida, estou declarando  amor a essa especial pessoa merecedora de tal deferência.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sexualidade



Sexualidade, mais uma vez!

Por que a sexualidade? Porque sobre ela eu sei falar até brincando; porque a sexualidade, por si só, comunica e se relaciona; porque ela se promove como ponto de referência entre as pessoas e, mais ainda, entre os pares.

Sim, escreverei sobre sexualidade mais uma vez.

Hoje no vale tudo da vida, também se vê o vale tudo no sexo. No entanto, o sexo é apenas uma cena no enredo da sexualidade. O vale tudo da sexualidade promete ser muito mais divertido e saudável, até porque não vale tudo. Vale, mesmo, o que for produzido com esmero; vale realmente quando a sexualidade se coloca à conquista do prazer dos corpos e dos seres intercambiantes, democraticamente.

Deixa-me explicar. Sexo é genital, é cópula, é instinto. Sexualidade é corpo, é sedução, é produção. Sexo é pequeno, é rápido. Sexualidade é jogo e pede tempo, por vezes, até muito tempo, para que as pessoas envolvidas brinquem e se percam no antes, no durante e no depois do sexo.

Sexualidade é sensualidade, é erótica, é encontro, é conjunto, é comunicação. É algo que vem de dentro entrelaçando-se com algo que vem de fora, simbólica e concretamente. É a existência de um, é o encontro de dois, são dois fundidos em apenas um ser. A sexualidade veste, desveste e reveste. A sexualidade é rica, extensiva; a sexualidade é, inclusive, sexo.

A sexualidade não deve abastecer-se da dor, da exigência ou da barganha. Embora o sexo empobrecido e desprovido da sexualidade se utilize dessas condições para a sua satisfação.

A sexualidade acolhe o afeto, alimenta a fantasia, eleva o momento do encontro, escreve roteiro para romance e, às vezes, faz história com infinitos capítulos. A sexualidade é algo sério, tanto quanto algo profundamente lúdico.

Acredito que a sexualidade nasça na alma do ser humano e se espalhe pela corrente sanguínea até dominar o corpo inteirinho, se expressando através do comportamento da pessoa no seu jeito de andar, de se comunicar, de trocar afeto, e, até, de se colocar no mundo.

Enfim, neste momento a sexualidade está se manifestando no íntimo das minhas emoções como uma suave garoa de inspiração. Ah, eu não disse, mas sexualidade também são inspiração e arte, produção e reprodução, e tanto mais que não sou capaz de lembrar agora, pois a magia da poesia me chama ao devaneio.
 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

CULPA




Tu erraste, não fui eu. Tudo me inocenta

Até a meio parenta, aquela que já morreu.

Tu erraste e me maltrataste. Eu fiz o que fiz,

Pois fizeste o que fizeste, e tudo me doeu.

A culpa é tua pela minha culpa. Desculpa?

Eu? Nunca! A minha língua, o gato comeu.

Põe a mão na consciência e lava com sabão,

Consciência e mão. Não vês? A culpa é tua. E deu!

 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

EU-LÁ-LIA

31.08.1998


Danado
Safado
Mal amado,
Era ele
Sempre ele
Apenas ele
Quem aparecia
Me aquecia
E se ia.
Eu, sua mina,
Em meio à neblina
Morria na esquina
Um ser puro
Dando duro
Sem futuro,
Acolhendo
Vivendo
Sofrendo.
Aquele homem
Qualquer homem
Todo homem
Perdido da humanidade

ENDÊMICO


14.10.1997


Tudo o que sei
aprendi na rua
comprei no mercado
levei emprestado
troquei com o povo
confiei a poucos
cobrei do mesquinho
Tudo o que sei
ganhei de amores
levei na bagagem
somei ao roubado
engoli a força
suportei no osso
Tudo o que sei
me faz ser
um pouquinho mais
o que sou: endêmico