domingo, 30 de setembro de 2012

CACTO




Em algum tempo do passado

Não distante nem tão próximo

Fui presenteada com lindo vaso

A exibir diversas cactáceas;

Belas plantas dadas com afeto

 

 O cacto, como a vida, expõe

Formas e coloridos aprazíveis

Espinhos exuberantes e cruéis

Energia guardada em reservatório

Singeleza e encanto na reprodução.

 

 Estufados caules sem folhas

Projetados em diferentes formatos

Com fartos e excêntricos espinhos

Inesperadamente surpreendem

Ao desabrochar sublime flor

 

 A flor mais uma vez me sorriu

Entre bonitos e doloridos espinhos

Brotou no mesmo verde caule

Que sustenta as pontiagudas hastes:

A flor ilumina a vida que está em flor

 

 Lembrei-me de alguém. Cacto!

 

 







Clicada por Rosa Helena

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Arraso

acervo pessoal


Violeta e quase todo o pessoal da repartição foram convidados ao grande evento do ano: o casamento do Fabrício, realizado numa cidade do interior há quase 500 km da capital.

A mobilização foi grande, uns foram de carro, outros de micro ou ônibus intermunicipal. Os colegas foram chegando aos poucos e compareceram em peso ao casamento.

Por problemas ocorridos na estrada, Violeta acabou chegando ao hotel à uma hora da cerimônia. Tomou um banho rapidíssimo e correu ao salão, onde já a aguardavam para fazer o cabelo e a maquiagem. Planejou tudo. Contratou o serviço de beleza à distância, cuidou com esmero do vestido e sapato, levou as joias certas para a composição. Queria ficar bonita, discreta e chique.  Violeta só queria arrasar. Simplesmente arrasar!

Embora apreensiva pelo atraso, estava com o espírito alegre. Enquanto um rapaz fazia o cabelo, uma moça fazia a maquiagem. Orientados, os profissionais trabalharam com agilidade, e, por isso mesmo, Violeta não pode acompanhar as ações pelo espelho. O tempo era exíguo e tudo tinha de ser feito muito rapidamente.

Em menos de 30 minutos a dupla encerrou os serviços. Ainda faltava à Violeta vestir-se e dirigir-se à igreja, a poucas quadras do hotel. Ao abrir os olhos mirou-se no espelho. Violeta perdeu o ar. Foi um arraso. Violeta ficou completamente arrasada com o que viu. Quis falar e a voz não saiu. Abriu a bolsa, pagou e saiu voando como entrou, correndo ao hotel que ficava quase ao lado do salão de beleza.

A vontade de chorar quis se manifestar, mas nem tempo para isso não tinha. Entrou no quarto, olhou-se mais uma vez. Arrasada! Estava profundamente arrasada. Faltavam poucos minutos para o casamento começar, não daria tempo para tomar outro banho e desmanchar aquilo tudo para começar de novo. Quem sabe desistisse de comparecer? Inventasse um mal estar repentino?

Violeta remexeu um pouco no cabelo, esfregou os dedos sobre a maquiagem para suavizá-la, e vestiu o belo e esvoaçante vestido longo azul turquesa. Colocou a gargantilha e os brincos de brilhantes, calçou as sandálias de saltos imensamente altos, e, segurando o choro, saiu apressadamente fechando a porta do quarto atrás de si.

Enquanto descia pelo elevador totalmente espelhado, via refletida em várias imagens a sua tragédia. Os cabelos foram parcialmente presos ao alto da cabeça, ficando o restante solto sobre os ombros e em cachinhos. O penteado era completamente juvenil; só faltava um laço de fita para completar o quadro da dor. A maquiagem, extremamente pesada sobre a pele flácida e cansada da mulher de meia idade, repuxava e acentuava as marcas de expressão, vincando a pele em rugas antes totalmente discretas. Violeta olhava-se em um e outro espelho, querendo fechar os olhos sem conseguir, e via-se sempre em lamentável figura.

No saguão do hotel ainda encontrou alguns amigos que a esperavam para saírem juntos. Ao vê-los, Violeta em desabafo, manifestou a decepção com a sua produção. Os colegas a incentivaram, até elogiaram, mas Violeta seguiu sem entusiasmo, querendo distrair a atenção com qualquer coisa que não fosse ela mesma.

A cerimônia começou. Linda. E Violeta chorava garganta adentro, engolia as lágrimas apertando suavemente os lábios. Diante das máquinas fotográficas procurava esquivar-se, virava o rosto para qualquer outro lado. Após o perfeito e cativante ritual da igreja, todos se dirigiram à festa em salão próximo, belissimamente decorado. E a festa realmente aconteceu com diversas atrações, e agradavelmente bem servida. Violeta procurando sorrir, só viu no vinho a esperança de aproveitar um pouco do encantamento a sua volta.

Toda e qualquer homenagem aos noivos, ou realizada pelos noivos,Violeta chorava copiosamente, as lágrimas pulavam dos olhos e eram delicadamente secas com o grande e alvo guardanapo da mesa. Chegava a ser comovente tamanha emoção. Porém ninguém imaginava que o choro devia-se a outros motivos, Violeta estava triste e frustrada. Arrasada, mais especificamente. E ela só queria arrasar... Ora, ora. Estava sentindo-se a própria expressão do horror.

Gentilmente o garçom servia o maravilhoso vinho frutado, talvez chileno, com eficiência ímpar. Parecia que ele havia percebido as intenções de Violeta de escapar da tristeza por essa via.

Levemente estonteada pela bebida, bem mais alegrinha e descontraída, Violeta animou-se a dançar; naturalmente sem esperança alguma de ter um par a acompanhá-la. Onde quer que ela fosse, o jovem garçom a encontrava e a servia com presteza. Violeta já sorrindo à toa, olhou nos olhos verdes do rapaz e disse: “assim eu vou ficar tontinha”. Ao que o garçom, sorrindo com ar maroto, respondeu: “mas é essa a intenção”.

Se isso era bom ou não, ela não sabia, mas teve efeito de aliviar a pressão negativa sobre a autoestima. E Violeta mais solta dançou, conversou, e lá pelas tantas até um par arranjou. Vejam, só. Dançou acompanhada por um rapazote com idade para ser seu filho. E ele parecia não se importar. E ela não quis se importar. E dançou até que, antes que fosse tarde demais, Violeta achou melhor voltar ao hotel.

Correu para acompanhar os amigos que saiam naquele momento. E, para melhor caminhar, já na calçada, Violeta tirou dos pés as altas sandálias. Carregava nas mãos a bolsa, a lembrancinha, os calçados e algumas flores, mas chegou ao hotel segurando as miudezas e apenas um pé da sandália. Voltou, vasculhou o percurso, e nada de encontrar o pé faltante. Sentou-se exausta no sofá do saguão do hotel, ao lado de um amigo solidário. Sem palavras, lado a lado, ficaram por minutos ali parados. Inesperadamente, sentiu no rosto um gostoso e carinhoso beijo. Reanimada Violeta se levantou, sorriu e se foi em paz. Feliz. Apesar do cabelo, da maquiagem, da falta da sandália, da tonturinha... Os noivos mereciam a felicidade de todos pela transbordante felicidade que exalavam.

E Violeta, arrasadoramente arrasada, talvez tenha arrasado, não como desejava arrasar, mas de alguma outra forma de arraso, sem que o tenha sabido ou percebido. Talvez ela tenha arrasado no próprio jeito de ser. Assim ela julgou e foi melhor acreditar.

                                                 acervo pessoal

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sonhar



Uma das grandes gratificações que tenho com a vida é a de poder sonhar.
Quando sonho, em vigília ou adormecida, sou capaz de realizar meus mais obscuros e ardilosos caprichos, posso satisfazer enlouquecidos e impuros desejos, e tudo num piscar de olhos. Ou, lenta e saborosamente...
Meus tumultuados sonhos são insanos pensamentos a infringirem as referências do bom senso. Eles arriscam-se a viajar além do muito além da razão, a alcançar perdidas e ilimitadas dimensões, a enaltecer o colorido psicodélico da confusão, e tudo, por puro deleite. Meus silentes sonhos são devaneios permitidos que, em composição com as demais expressões da imaginação, põe-se a regular a saúde mental da vida; esta que, sendo bem composta e ajustada aos valores morais, se equilibra na permanente busca de harmonia entre os impulsos e as normas sociais.
Sonhar é desfrutar de um ilimitado poder, é não ter de prestar satisfação a quem quer que seja, é permitir-se violar sem desobedecer nem errar. Porque o sonhar é livre, é criativo, e mesmo quando terrível e cruel, ou totalmente devastador, o sonhar não fere, não maltrata, não ameaça enquanto se mantiver resguardado como produção imaginária pessoal e intransferível.
Sim, sonho como expansão da capacidade do pensar, como exercício da capacidade de inventar, como aperfeiçoamento da capacidade de divagar. Sonho pelo prazer inominável de construir o gozo personalizado e particular. Sonho para experimentar o desvio, a transcendência, a brutalidade, a paixão arrebatadora, a magia do absurdo sem qualquer risco de sansão, dor ou prejuízo. Brinco e jogo com as possibilidades impossíveis.
Ilusões e fantasias necessárias. Os sonhos quando dirigidos e orquestrados por revelação da vontade - em simples fragmentos de doidices ou em inimagináveis aventuras - acalentam a alma diante das tristezas ou dos  monótonos dias, dão ânimo aos períodos difíceis e sobrecarregados,  oferecem sentido a tantos momentos insignificantes da existência.
Eu sonho deliberadamente para me apropriar da vida sem reservas!

 
                                                                                                      Clicada por Rosa Helena

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Meu espelho sou eu




Nós, e tudo em torno, estamos em movimento.

Por isso, se estivermos insatisfeitas com a vida, com a cara ou o ritmo das coisas; se estivermos infelizes com o trabalho ou, o que é mais dramático, com o nosso próprio corpo, a opção é pegar o embalo de tudo o que se mexe, sob e sobre nossos pés, e nos mexer em busca de melhores alternativas, de novas e mais gratificantes perspectivas. Reclamar não promete bons ventos.

Assim, se diante de uma olhadela no espelho nos decepcionamos com a imagem refletida, sofremos à vista das marcas do tempo e pelas gorduras em pregas salientes e indisfarçáveis; se nos julgamos feia independente da chapinha no cabelo e das unhas bem pintadas, devemos conferir o que se passa e nos perguntar: O que me incomoda realmente? São cuidados concretos que deixo de fazer ou são exigências subjetivas que eu não sei explicar, mas estão a me atormentar? Falta esforço pessoal para promover mudanças ou o problema é a fragilidade de atitude gerando o próprio desgosto?

De forma geral, cuidar da alimentação e do sono, exercitar o corpo e ativar a mente são bons recursos para qualquer mal, identificado ou indefinido.  Boas sugestões, também, são cultivar amizades e evitar expor-se a comportamentos de risco pelo uso e abuso de bebidas alcoólicas e outras drogas, ou através do sexo desprotegido.

E aqui vai a dica: Cuidar-se no sentido amplo ajuda na elevação da autoestima e, consequentemente, na obtenção de boa autoimagem. Busque suporte de amigos e de profissional, caso precise de ajuda, não se constranja.

Com investimentos em autocuidado, as incômodas marcas do tempo poderão não ser tão evidentes.  As gorduras mais enxutas se tornarão menos visíveis. Os cabelos talvez se tornem mais belos no movimento livre e natural de suas ondas. E, combinando com o clima das emoções e de suas conquistas, as unhas ficarão lindas de vermelho ou coloridinhas.

A moda atual acolhe a diversidade, tenham certeza disso. Somos nós que tentamos nos aprisionar a restritos e idealizados padrões de beleza. Se vista de atitude para ajustar os movimentos da vida às suas próprias características. Reafirme sua personalidade nos pequenos detalhes de suas escolhas, seja no vestir, no agir, no dançar ou frente a qualquer outra situação. Quanta vezes já ouvimos que "ter estilo é uma questão de personalidade"?

Em regra, o que nós precisamos para ficar em paz e mais feliz com nossa imagem, objetiva e subjetivamente, é nos preencher um pouco mais de nós mesmas.

domingo, 9 de setembro de 2012

NADO



 


Deslizo em suaves movimentos

Aquário de peixinhos humanos.

Falas diluídas em límpidas águas

Descobertas. Aventura. Desafio!               
 

 fotos do acervo pessoal

sábado, 8 de setembro de 2012

LUTA




Sono. Sinto tanto sono.

Olho pisca, quase fecha,

Não deve e não o fará.

Pesadelo, sono enervante,

Sinto sono, tanto sono.

Boca boceja. Corpo amolece,

Não pode, não vai apagar.

Sono, pesadelo revoltante.

 

Aperto passo. Cruzo a rua

Suo. Infiltro-me na multidão,

Golpeio pelo meio. Nocaute.

Morreu... E não fui eu!







sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Saúde emocional na maior idade

 

Rapidamente farei uma síntese da minha última palestra.

O assunto versa sobre a maior idade, que neste caso é a velhice. E, diga-se de passagem, só envelhece quem está vivo. Assim, segundo nossas convenções sobre as etapas da vida, o tema trata da saúde emocional no período que se estende dos sessenta anos de idade em diante.

Ainda há poucas décadas atrás, ao pensarmos a respeito da velhice, a nossa atenção voltava-se à aposentadoria, às enfermidades ou à necessidade de assistência. Com os estudos da gerontologia o conceito do velho ampliou-se para o do sujeito de desejo, atravessado por paixões e ideais, com a sua sexualidade ativa, com projetos como ser social, e com efetiva participação na comunidade.

Diante desta nova perspectiva descobrimos que a velhice compõe-se de muita vida, muito prazer e infinitas descobertas possíveis a serem experimentadas e desfrutadas.

Para Simone de Beauvoir, enquanto estamos em processo de mudança, na permanente perda e reconquista do equilíbrio, estamos vivos. Pois, é na inércia que nós encontramos a morte.

A Organização Mundial da Saúde define a saúde emocional como “um estado de bem estar onde o indivíduo realiza suas próprias habilidades, lida com os fatores estressantes normais da vida, trabalha produtivamente e é capaz de contribuir com a sociedade”. Ela não descarta a existência de doenças. Desta forma, em outras palavras, podemos dizer que a saúde emocional caracteriza-se pelo equilíbrio dos bons hábitos de vida, enquanto harmonizados com os antecedentes familiares, o ambiente e a assistência à saúde, permitindo à pessoa uma sensação de bem estar. O conceito de bem estar abrange diversas dimensões: a emocional, a física, a social e familiar, a profissional e a espiritual.

No presente momento pretendo pinçar e enaltecer a dimensão social por considerá-la de suma importância para a saúde emocional na velhice.

Se o ser humano é eminentemente um ser social, aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida em interações sociais, justamente nesta etapa é quando mais precisamos estar inseridos, ativos e gratificados nos grupos, sejam eles grupos de iguais, de familiares, de tarefas, de criação, ou qualquer outro.

Nossos relacionamentos sociais são intermináveis intercâmbios, e se apresentam com mobilidade e durabilidade variáveis. Funcionam preponderantemente como fator de proteção, suporte social, e regulação emocional.

Se prestarmos atenção, nossos relacionamentos, tanto por afeto como por circunstância, constroem-se e desfazem-se ao longo de uma vida inteira. E, principalmente na velhice, tornam-se fáceis e favoráveis os ajustes das expectativas acerca dos outros, abrindo oportunidade à renovação dos vínculos interpessoais.

Está totalmente ultrapassada a ideia de que no processo de envelhecimento há diminuição natural dos contatos sociais e perda dos papéis sociais levando a vida do idoso à solidão. O que ocorre é uma transição dos papéis sociais - alguns são desativados, outros substituídos. Por exemplo, aos sessenta anos posso deixar de ser uma profissional a partir da aposentadoria, enquanto abro espaço para ir à busca de realizar um velho sonho, como o de me tornar uma estudante de artes cênicas ou uma poetisa. Ou, simplesmente deixo de ser filha para me tornar avó.

Alguns papéis sociais são escolhidos, como o de ser pai; outros são conquistados, como a profissão que exercemos; outros são impostos, como o de ser estudante enquanto criança e jovem. A desativação de certos papéis, que poderia lesar a autoestima, como a aposentadoria, pode e deve ser planejada para não causar maiores estresses. A adaptação aos eventos na velhice permite que a vida prossiga em continuidade, com possibilidades de reformulação de metas a curto, médio e longo prazo, mesmo diante da idade avançada.

O velho deve investir em parcerias sociais, em tempo e em energia para construir e alcançar objetivos, pois diante das dificuldades serão as conquistas e a inserção social que darão suporte para o enfrentamento e à superação de sofrimentos.

Assim sendo, pessoas emocionalmente saudáveis possuem mais saúde física e maior produtividade, usufruem de maior entusiasmo com a vida apresentando boa capacidade de rir e de se divertir, e desfrutam de maior habilidade de lidar com o estresse e as adversidades. Possuem maior sentido de significado e de propósito, mais flexibilidade diante das mudanças, maior equilíbrio entre o trabalho e o lazer, mais autoconfiança e autoestima, mais controle sobre as emoções e comportamentos. Além de se encontrarem bem acompanhadas por entes queridos e parceiros de percurso.
 
 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

ABRE O OLHO



Então, por quem me tomas jacaré?

Pensas que é só pegar e levar a tiracolo?

Exibindo como bolsa bonita que ganhaste?

Cuidado jacaré, olha de onde vem o couro.