sábado, 12 de julho de 2014

Conversar


Não discuto sobre o que não entendo: futebol, por exemplo. Mas também não aprecio me envolver em discussões estéreis, mesmo sobre temas de que eu entenda alguma coisa. Gosto mesmo é de conversar e aprender e ensinar, e de ficar de papo furado compartilhando experiências e filosofando sobre a vida. Porém, com um detalhe, olhando no olho, ouvindo a entonação e a intensidade da voz do interlocutor, acompanhando a expressão facial e corporal de cada pessoa envolvida no diálogo comigo.

Encanto-me ao perceber as ideias fluindo e se desenvolvendo em espiral na musicalidade das falas animadas. Alegro-me por sentir a curiosidade cutucada, preenchendo a alma com novos estímulos e a razão com argumentos para melhor  se estruturar. Como é bom identificar pontos de vistas dissonantes não serem entendidos como discordâncias inflamando corações, mas apenas como olhares distintos instigando o pensar. Pois o que almejo ao conversar não é o fechamento das questões, nem conclusões polarizadas em certas ou erradas, em verdades ou mentiras.

Simplesmente eu não discuto. E cada vez menos aceito entrar em polêmicas. No entanto, adoro viajar na interação de ideias criativas a partir do saber das pessoas disponíveis para uma conversa sem fim.

terça-feira, 1 de julho de 2014

A visita (ensaio)


Ana se aproximou da avó que estava sentada no sofá ao lado de outra idosa.

- Oi Vó, não estava me reconhecendo?

- É... Só agora que vi quem era. Custei, não é?

- Trouxe uma amiga para te visitar. A Clara queria te conhecer. Clara esta é a minha avozinha do coração. Vó esta é a Clara, ela está estudando para ser psicóloga.

Conceição olhou à moça e sorriu entre curiosa e aturdida.

- Oi Vó, tudo bem? Clara foi exuberante no cumprimento. Abaixou-se a altura do rosto e tacou dois beijos bem estalados em Conceição.

- Quem tu és? Perguntou a idosa ao lado dirigindo a palavra para Clara.

- Sou uma amiga da Vó Conceição. Tudo bem com a senhora?

- Eu também quero ser tua amiga.

- Então eu também sou sua amiga. E sapecou mais dois beijos estalados no rosto da outra senhora. Como é o seu nome?

- Mimosa.

- Oi Mimosa, disse Ana inserindo-se na conversa ao lado. Vó, a Mimosa é tua amiga?

- É. Nós temos o mesmo quarto.

- Que bom. As duas amigas dividem o mesmo quarto e também o mesmo sofá?

- Mas só que ela tem namorado, esclareceu Mimosa.

- Vó Conceição? É verdade que a senhora tem um namorado? Onde ele está? Clara saiu na frente com ar de surpresa e satisfação.

- Ele deve estar dormindo. Depois ele vem.

- Vó, a senhora está muito namoradeira, exclamou Ana.

Conceição sorriu gostoso. E sem desmanchar o sorriso, que ficou parado no rosto, pôs brilho nos olhos enquanto fitava as moças.

- Agora eu sei a quem a Ana puxou. Sabe Vó Conceição, a Ana também é bem namoradeira.

- Deixa de conversa Clara! Ana ensaiou um ar zangado, mas logo as duas caíram na risada.

- E como é o nome do namorado? Clara sussurrou para Conceição com ares de cumplicidade.

- Hummm. Não me lembro! Mimosa, tu lembras o nome do meu namorado?

Pensativa e concentrada Mimosa abanou a cabeça lentamente de um lado ao outro.

- Não!