sábado, 29 de dezembro de 2012

Um bom fim


Amigos queridos,

Em dois dias estaremos concluindo mais uma sequência de trezentos e sessenta e cinco dias. Olhar para o tempo passado nos permite ver e curtir nossos melhores momentos, radiantes com a vida. Olhar para trás nos faz enxergar falhas e equívocos cometidos, inclusive com certo constrangimento. Olhar para a vida cumprida faz sentido quando temos pela frente uma vida a ser inventada, e para a qual precisamos de estímulos e experiência na bagagem.

Temos um tempo futuro propício às realizações e criativas aventuras. Temos pela frente novos doze meses cheinhos de dias para diferentes tropeços e aprendizados. E, diante do caminho a ser percorrido - a pé, a nado ou de bicicleta - quero tê-los, a todos, nas próximas peripécias, auxiliando ou pedindo ajuda, brincando ou brigando, mas fazendo valer a pena cada centésimo de segundo das nossas vidas compartilhadas. Vocês são muito importantes.

Com carinho, um bom fim e um melhor começo.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Surpresas da vida surpreendente



Véspera de Natal. Cheguei a Capão da Canoa antes da maioria dos veranistas, pessoas que vindas de todo o estado deverão lotar as praias do litoral gaúcho a partir deste final de semana. Ontem o dia foi de muitas chuvas, porém hoje amanheceu ensolarado e com gostosa brisa na beira do mar.

Logo após o desjejum matinal fui a uma caminhada na areia, ainda encharcada e quase despovoada. Com passo firme, mas sem pressa, fui para a direção do centro da cidade, namorando o mar e curtindo o refrescante ar marinho. Algumas poucas famílias brincavam com bolas ou na água, e vi criança fazer castelo na areia; tudo em plena harmonia com a ordem natural das coisas.

Chegando a altura do centro dei a volta e caminhei passando da minha saída. Já havia ficado na praia além do tempo proposto. Mas, a paisagem estava mais do que convidativa e, por isso, me estendi no percurso. Quando decidi retornar ao “apertamento” da família, ainda parei em uma guarita de salva-vidas, pois queria sondar sobre a possibilidade de suporte a uma possível aventura que pretendo fazer - a nado. É, estou sempre sonhando!

Assim, tranquilamente satisfeita, deixei a beira do mar por uma trilha em meio ao resíduo de antigas dunas.  Sobre um dos morrinhos de areia avistei uma ave de médio porte, provavelmente um quero-quero. Embevecida com a magia do cenário, prossegui a passos pequenos para melhor admirar a natureza contagiante.

O pássaro gritou e se pôs a voar. Lindo! O quero-quero, em voo rápido, veio na minha direção.  Belo! Chegou tão perto, tão perto em um voo rasante, que quase me atropelou. Opa, o que foi isso? Foi uma ameaça?

Em seguida, uma segunda ave, graúda e pouco amistosa como a anterior, que eu não tinha avistado e estava sobre outro montinho de areia, veio gritando e rápida na minha direção. Assustadora! A terceira veio pela frente, sei lá de onde surgiu, e se atirou agressivamente sobre mim, gritando forte e intensamente. Apavorante!!!

Atordoada com a mudança repentina do espetáculo da natureza, reagi instintivamente sacudindo os braços com a canga nas mãos. Soltei um berro e cai estatelada sobre o chão de areia mais seca, coberto por gramíneas espinhosas. Tão ligeira quanto pude - sem bicadas, mas bem fincada pelas pequenas rosetas secas - levantei e saí correndo de volta à praia. Inesperadamente, vejam só, eu fui atacada por três quero-queros endoidecidos e, absolutamente, nada românticos.

Já afastada da hostilidade imprevista, e ainda com medo, percebi que estava sendo observada por um homem. Constrangida, e sem saber o tamanho do meu fiasco, fui à direção dele fazendo comentários dispersos e desconexos. O indivíduo também não se fazia compreensivo e, de forma confusa, dizia para eu pegar um pau e atacar os pássaros.  

Naquele momento nada fazia sentido: ali não havia pau, só areia; eu não queria atacar os quero-queros, só queria admirá-los; estas aves não são perigosas, nem eu tão pouco.

O ocorrido foi intenso e breve, perigoso e óbvio. Os pássaros protegiam um ou dois ninhos e sentiram-se ameaçados com a minha presença. O homem pretendia usar o mesmo caminho e também se assustou assistindo o ataque sobre mim.

O desfecho do episódio foi o seguinte: saí da praia por outro caminho; os pássaros foram deixados em paz; eu fiz um novo amigo-conhecido; e mais uma vez, acolhi com admiração a grandeza da natureza. E, depois do susto, sempre ficou uma nova história para contar.

Enfim, como não suspirar pela vida? Ela é surpreendentemente maravilhosa e emocionante, mesmo diante das pequenas aventuras inesperadas de um dia após o outro!

Clicada por Rosa Helena
                                    

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Que não nos faltem os amigos

O som é de alegria, a imagem é de encontro, o período é de festas. O ano mais uma vez conclui seu ciclo iluminando o companheirismo e a amizade. Em meio à frenética movimentação de abraços, sorrisos, brilhos e levezas, eu emudeço na voz e na escrita.  Fico sem fôlego e sem palavras para expressar tamanha emoção. A inspiração não alcança os acontecimentos, que falam por si só!
Porém, não posso calar - brota da alma o imenso desejo de agradecer aos iluminados que sonharam e concretizaram os encontros de magia e encantamento deste final de ano. Quero agradecer a todos os amigos que se motivaram e puderam participar das comemorações, realçando o lado doce da vida. Preciso dizer que sou grata à vida pela vida que tenho: tão suprida de carinho e afetos, tão rica de gente amiga e de história, tão repleta de hoje quanto promissora de amanhãs.
 A fotografia registra as produções e poses, e nós nos deliciamos revendo olhares e sorrisos. Derretido, meu coração se deleita com as mensagens de amor expressas em gestos e palavras. As cenas estão gravadas na memória e em DVD.  São lembranças congeladas de felizes momentos compartilhados em brincadeira dançante; são recordações de um e outro instante secreto de cumplicidade e de afinidade juvenil - dos jovens que nunca deixamos de ser, independente da soma dos anos trazidos até aqui.
No silêncio profundo desta minha hora diante do computador, reedito no corpo a emoção da música, das luzes, das vozes, e da acolhida de pessoas queridas; suaves reminiscências que quero preservar com todo o cuidado, pois elas simplesmente me revigoram. O som que ecoa é o da diversão, a imagem que se cristaliza é a da união,  e o período que se consagra é o das etapas que se cumprem para abrir novos espaços e motivos para o recomeço.
E, que nunca nos faltem os amigos, pois sem eles, não existiriam agradecimentos nem lembranças, não teríamos cumplicidade nem compartilhamento, e nada disso nem este momento fariam sentido.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

ALEGRIA

 
A dor dissolvida no pranto escorreu
de mansinho, me abandonou;
O marejar dos olhos lavou a crosta opaca e
sapecou brilho no olhar;
Iluminados, meus olhos saltitantes buscam o encontro:
sorriem ao cruzar com o teu mirar.

domingo, 2 de dezembro de 2012

FÉRIAS


Quem há de perceber

Que parei de escrever

Se não estão a me ler?

 

Pausarei para descanso

Desejo o tempo manso

Depois volto, e avanço.

 

Se alguém sentir falta

Logo estarei em malta

Renovada e internauta!
 
 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Evoluir



Li solto entre outros escritos e não dei importância. Não conferi a sequencia nem a intenção das palavras. Porém, elas impactaram, e só depois é que eu percebi. Estava escrito: “não quero evoluir”.


Independente daquele contexto, meu pensamento vem, vai, e volta outra vez. Essa ideia não quer me deixar, pois "eu quero, e muito, evoluir”.


Essa é a pura verdade. Quero evoluir! Posso entender quem não o queira, mas apenas por razões poéticas ou retóricas.


Efetivamente desejo ir além, me desenvolver até as mais ousadas direções, no entanto, não no sentido que alguns apregoam - evoluções mirabolantes que insinuam e prometem mundos e fundos como recompensa, nesta ou em outras dimensões.


Quero evoluir porque a vida é transformação; é um constante vir a ser - repleto de esperanças e de riscos, inclusive.


Viver é experimentar situações provocadoras e inesperadas; é encontrar refúgio ou saída em meio ao caos; é estar em poesia independente das palavras usadas; é sofrer e chorar e sobreviver ante as dores dilacerantes. Também, é encantar-se com o entorno desfrutando das sutilezas da felicidade; é raspar o tacho do amor e amar, simplesmente por amar, sem mais nem um porquê.
 


Evoluir é absorver todas as conquistas, mesmo quando elas se apresentam transfiguradas, como o encarquilhar da pele pelos anos vencidos. É superar-se ante as conquistas de aspecto duvidoso, como a tristeza que obscurece o olhar diante da perda de um grande afeto.


 
Viver e evoluir se fundem quando conseguimos administrar a abrangência e a dinâmica dos acontecimentos que nos envolvem. Quando abraçamos as mudanças do corpo, das pessoas e do mundo. Quando nos expandimos através das experimentações sociais e das emoções. Ao somarmos créditos às conexões da inteligência, e ao fazermos descobertas para a valorização do espírito.


Evoluir é querer estar vivo e manter-se atento à vida, enquanto a vida se faz viva em nós.


Estou alerta! Construirei e protegerei meus momentos de vida, na imensidão derretida dos tempos contados e sentidos, e farei arte com o tempo vivido (travessuras, expressões artísticas, e todas as artes que eu puder). Comporei minha vida como a um vitral, unindo fragmentos de coloridos vidros em significativos desenhos.


Fortalecerei a contínua passagem do meu “eu” a novos possíveis e diferentes “eus”, na incessante busca de mim mesma. E, tanto quanto possível, estarei disponível para interagir com outros “eus”, no espaço e percurso do meu viver.


E mais, anseio olhar para trás e ver a construção do meu “eu” rechonchudo de histórias e transformações, coerentes ou ensandecidas, mas todas, orgulhosamente incrustadas nas páginas da minha vida. Evoluindo.


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

FIM DE ANO


Estamos entrando no último mês do ano:

Cansei! Quero esparramar-me em uma rede

À sombra de verdejantes e floridas árvores,

Beber água de coco viajando em um romance.


Estamos concluindo mais um trabalhado ano:

Suei! Quero reprojetar futuro, assim a vida pede.

Pessoas e estudos serão minhas prioridades,

E, tudo o mais, tratarei de deixar ao meu alcance.


Estamos terminando um, e iniciando outro ano:

Aprendi. E, bem sei, evoluirei. Insaciável é minha sede

Dobrarei o "cabo da esperança boa" a nado. Vaidades...

Sentirei saudades. E, ao som da música - que a vida dance!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Belos e adormecidos



Gentileza e solidariedade. Cooperação e reciprocidade. Compreensão e gratidão. Generosidade!

Bonitas palavras impregnadas de sentido. Exuberantes vocábulos mesmo quando desacompanhados de pares significantes. Vigorosas experiências de pura expressão da nossa humanidade.

Porém, nem sempre esses termos se fazem presente nas vivências do cotidiano viabilizando a proximidade acalentadora com os nossos iguais. Às vezes, penso que estamos ficando pobres de sentimentos despojados que alcancem a pessoa do outro, verdadeira e acolhedoramente. Sei que estes sentimentos não estão em extinção, mas creio estarem sendo racionados diante do frenético estilo de vida que levamos.

O dia a dia insistentemente se apresenta com urgências e infindáveis exigências a nos consumir, levando-nos a esquecer, sempre uma vez mais, da importância do próximo à nossa vida.

A impressão é de que, lentamente, vamos perdendo a noção e o contato com os nobres conceitos, e desperdiçando, por alienação, tão gratas virtudes nossas. Sinto que estamos nos apartando dos nossos melhores gestos, assim como, nos privando da prazerosa repercussão das pequenas doces ações.

Sem nos darmos conta, deixamos que os sentimentos bondosos retornem fácil ao sono profundo da inércia, nos expondo a ficar à deriva e devorados pelos sentimentos fúteis, mesquinhos e egoístas.

Assim, o alheio parece nos esvaziar quando a nossa atenção dele se ocupa; talvez porque ao desviar os olhos dos próprios umbigos, esses pequenos bueiros parecem perder a razão de existir.

No entanto, no exercício prático da vida, percebo, nitidamente, que sacudidelas têm sido eficientes para acordar as boas intenções, guardadas e desativadas dentro de nós; que sutis intervenções desalojam as gentilezas e a cooperação da escuridão de sua moradia; e também, que  alguns movimentos do mundo  até  conseguem estimular grossos e revitalizantes respingos de solidariedade do âmago dos indivíduos.

Ao redescobrimos o espaço para a livre e solta convivência com nossos macios sentimentos, repletos de humanidade, nos regozijamos de ainda possuí-los, e, assegurados deste poder, de resgatá-los em sentimentos e comportamento.

Seja gentil, ofereça ajuda. Seja generoso, ofereça cuidado. Pequenas atitudes podem nos presentear com grandes satisfações. Cuidemos para não priorizar o secundário e descartar nossos preciosos valores. A desatenção semeia amarguras onde deveria florir sorrisos.

 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Em retalhos



Às vezes, a vida parece uma gincana com mil e duas tarefas desafiadoras a serem executadas, em tempo exíguo e com o máximo de eficiência. No turbilhão somos exigidos a nos desdobrar, em vários de nós mesmos, para satisfazer as exigências, pessoais e do meio, e driblar os obstáculos. Diante do esmorecimento da energia, somente não sucumbimos porque temos uma força especial conquistada na aliança com pessoas, que, se organizando e reorganizando em grupos, podem e se fazem esteio. Gente pertencente à nossa equipe, que prioriza a cooperação, a divisão dos fazeres, a solidariedade, o revezamento, o engajamento, a parceria, a amizade, o apoio, e tantos outros predicados da interação social.

acervo pessoal
                                                                            


Em inúmeros momentos difíceis de aflição ou angústia, e diante da desesperança, não tive dúvida, pedi ajuda e gritei por socorro. O coração e os olhos buscaram amparo na direção de pessoas idealizadas e admiradas por mim, acreditando que delas receberia algum auxílio. E recebi. Porém, nem sempre. Incontáveis foram às ocasiões em que me surpreendi ficando parada no vácuo, ou pendurada no pincel pelas mãos destes seres a quem creditei o poder da ajuda. Da mesma forma, o contrário também se sucedeu. Perdidas foram às vezes que fui retirada do caos inesperadamente, por atenção e cuidado inesperados, a partir da presença inesperada de alguém que se colocou, inesperadamente, indispensável na minha vida.

    acervo pessoal


Hoje é um dia qualquer - fazendo sol ou desaguando a chuva torrencialmente; se apresentando atribulado ou pairando tranquilo sobre as horas; encontrando-me acompanhada ou me querendo só, talvez abandonada. Hoje é apenas mais um dia na cadeia dos dias, e, simplesmente por isso, merece ser brindado. O hoje se agrega ao amontoado de dias vividos, e se entranha aos punhados de anos acumulados de história, recheando a memória e sofisticando a nossa existência. Hoje é vida! E viver, entre tantas possibilidades, é saber guardar ternamente o tempo vivido com todos os seus coloridos e sombras. É adquirir experiência e descobrir, inclusive, o que não queremos mais, assim como, o que não mais iremos repetir. Viver é buscar referência a partir do outro; é também ser modelo de persistência e de fibra, diante do enfrentamento dos milhares problemas-desafios do percurso, aos outros que nos tem como referência. É instigar os próprios recursos na busca da superação; é resistir ao impulso de finalizar o que ainda não quer ser fim; é reagir e se fazer vivo enquanto a vida provocar. Viver é estar entre amores e amigos curtindo datas significativas como o hoje, cheinho de horas a nos requisitar.
 
    Clicada por Rosa Helena

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

PRIMAVERA


 
 
Primavera...
Amor, sensualidade, beleza, magia, emoção...
É Primavera,
 e a vejo se multiplicando através da minha janela;
e a sinto como plenitude da vida pelos poros, olhos, e no coração!
 
 
 
Clicadas por Rosa Helena

terça-feira, 23 de outubro de 2012

ATÉ AQUI...



...Dominei doloridas paixões

Escapei de vultosos tubarões

Fugi de um bocado de safados

Livrei-me do fel de mal amados

Esquivei-me de ranços e venenos

Venci seres pérfidos e pequenos

Enfrentei traiçoeiras armadilhas

Desviei rumo percorrendo trilhas

Superei os sofrimentos da alma

Silenciei para manter a calma

Resisti a tantas formas de perigo

Lutei até em território inimigo

Subsisti a lamentáveis percalços

Derrubei injúria e os cadafalsos:

- Sobrevivi!


      Acervo pessoal

domingo, 14 de outubro de 2012

ADOECI


A  luz  da  alma  tremeluziu

O  corpo  molengamente

Lúgubre,  curvou  e  sucumbiu.
 
 
by Rosa Helena

Livro

                                                                       clicada por Rosa Helena


Gosto de livros. Não, não! Eu adoro livros.

Embora leia infinitamente menos do que a minha fascinação pelos livros reivindica, quase sempre tenho algum em minha companhia. E junto com o livro, carrego como acessório indispensável, um lápis e um dicionário, que, enfim, também é um livro. Igualmente me encanta a intimidade com o dicionário. Acho-o mágico quando desvenda o desconhecido sentido das palavras, ou quando ele reinventa o sentido das minhas ideias através do uso de palavras sinônimas.

Assim, costumeiramente estou em boa companhia. E me orgulho em dizer: eu jamais deito só. Refestelada entre lençóis e com a mente livre, na certeza dos prazeres vindouros, agarro firme o livro entre as mãos e relaxo. As fantasias, dirigidas por mestres da literatura, agitam-se e emocionam-me.  E o sono, de mansinho provocado, vem semeando o enredo dos infalíveis sonhos que ocuparão minhas noites.

Enquanto leio, tenho por hábito marcar no texto as passagens que me tocam pela astúcia, ou pela lógica inteligente ou, ainda, pela sensibilidade poética. Ao lado das palavras, cujo sentido ficou esclarecido com auxilio do dicionário, deixo registrado, pelo menos, um sinônimo. Eventualmente interajo mais com o livro expondo dúvidas e opinião sobre a leitura em andamento, ou questionando ideia ou informação, através de breves comentários redigidos a margem do texto.

Quando leio sobre temas de estudo teóricos, normalmente relacionados à psicologia, ao envelhecimento e à atividade física, minha interação aumenta significativamente. Chego a travar um particular diálogo com o livro e seu autor, e o faço por escrito entre as linhas e à margem das páginas. Faço observações, perguntas, respondo às minhas próprias indagações, esclareço meus pontos de vista, e, eventualmente, até emito sugestões. Estabeleço uma conversação muito próxima, espontânea e verdadeira, me rebelando e me revelando. E, acima de tudo, construindo indiscutivelmente uma cumplicidade única com o livro. E o texto que era um, se transforma em dois. O oficial e o paralelo produzido por mim.

Desta forma, meus livros ficam transfigurados pelos escritos e rabiscos da coautora desautorizada. E eu, um tanto exposta no âmago do meu pensar e sentir.

Pois, se eu emprestar livro meu, não tenham dúvida, estou declarando  amor a essa especial pessoa merecedora de tal deferência.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sexualidade



Sexualidade, mais uma vez!

Por que a sexualidade? Porque sobre ela eu sei falar até brincando; porque a sexualidade, por si só, comunica e se relaciona; porque ela se promove como ponto de referência entre as pessoas e, mais ainda, entre os pares.

Sim, escreverei sobre sexualidade mais uma vez.

Hoje no vale tudo da vida, também se vê o vale tudo no sexo. No entanto, o sexo é apenas uma cena no enredo da sexualidade. O vale tudo da sexualidade promete ser muito mais divertido e saudável, até porque não vale tudo. Vale, mesmo, o que for produzido com esmero; vale realmente quando a sexualidade se coloca à conquista do prazer dos corpos e dos seres intercambiantes, democraticamente.

Deixa-me explicar. Sexo é genital, é cópula, é instinto. Sexualidade é corpo, é sedução, é produção. Sexo é pequeno, é rápido. Sexualidade é jogo e pede tempo, por vezes, até muito tempo, para que as pessoas envolvidas brinquem e se percam no antes, no durante e no depois do sexo.

Sexualidade é sensualidade, é erótica, é encontro, é conjunto, é comunicação. É algo que vem de dentro entrelaçando-se com algo que vem de fora, simbólica e concretamente. É a existência de um, é o encontro de dois, são dois fundidos em apenas um ser. A sexualidade veste, desveste e reveste. A sexualidade é rica, extensiva; a sexualidade é, inclusive, sexo.

A sexualidade não deve abastecer-se da dor, da exigência ou da barganha. Embora o sexo empobrecido e desprovido da sexualidade se utilize dessas condições para a sua satisfação.

A sexualidade acolhe o afeto, alimenta a fantasia, eleva o momento do encontro, escreve roteiro para romance e, às vezes, faz história com infinitos capítulos. A sexualidade é algo sério, tanto quanto algo profundamente lúdico.

Acredito que a sexualidade nasça na alma do ser humano e se espalhe pela corrente sanguínea até dominar o corpo inteirinho, se expressando através do comportamento da pessoa no seu jeito de andar, de se comunicar, de trocar afeto, e, até, de se colocar no mundo.

Enfim, neste momento a sexualidade está se manifestando no íntimo das minhas emoções como uma suave garoa de inspiração. Ah, eu não disse, mas sexualidade também são inspiração e arte, produção e reprodução, e tanto mais que não sou capaz de lembrar agora, pois a magia da poesia me chama ao devaneio.
 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

CULPA




Tu erraste, não fui eu. Tudo me inocenta

Até a meio parenta, aquela que já morreu.

Tu erraste e me maltrataste. Eu fiz o que fiz,

Pois fizeste o que fizeste, e tudo me doeu.

A culpa é tua pela minha culpa. Desculpa?

Eu? Nunca! A minha língua, o gato comeu.

Põe a mão na consciência e lava com sabão,

Consciência e mão. Não vês? A culpa é tua. E deu!

 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

EU-LÁ-LIA

31.08.1998


Danado
Safado
Mal amado,
Era ele
Sempre ele
Apenas ele
Quem aparecia
Me aquecia
E se ia.
Eu, sua mina,
Em meio à neblina
Morria na esquina
Um ser puro
Dando duro
Sem futuro,
Acolhendo
Vivendo
Sofrendo.
Aquele homem
Qualquer homem
Todo homem
Perdido da humanidade

ENDÊMICO


14.10.1997


Tudo o que sei
aprendi na rua
comprei no mercado
levei emprestado
troquei com o povo
confiei a poucos
cobrei do mesquinho
Tudo o que sei
ganhei de amores
levei na bagagem
somei ao roubado
engoli a força
suportei no osso
Tudo o que sei
me faz ser
um pouquinho mais
o que sou: endêmico


domingo, 30 de setembro de 2012

CACTO




Em algum tempo do passado

Não distante nem tão próximo

Fui presenteada com lindo vaso

A exibir diversas cactáceas;

Belas plantas dadas com afeto

 

 O cacto, como a vida, expõe

Formas e coloridos aprazíveis

Espinhos exuberantes e cruéis

Energia guardada em reservatório

Singeleza e encanto na reprodução.

 

 Estufados caules sem folhas

Projetados em diferentes formatos

Com fartos e excêntricos espinhos

Inesperadamente surpreendem

Ao desabrochar sublime flor

 

 A flor mais uma vez me sorriu

Entre bonitos e doloridos espinhos

Brotou no mesmo verde caule

Que sustenta as pontiagudas hastes:

A flor ilumina a vida que está em flor

 

 Lembrei-me de alguém. Cacto!

 

 







Clicada por Rosa Helena

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Arraso

acervo pessoal


Violeta e quase todo o pessoal da repartição foram convidados ao grande evento do ano: o casamento do Fabrício, realizado numa cidade do interior há quase 500 km da capital.

A mobilização foi grande, uns foram de carro, outros de micro ou ônibus intermunicipal. Os colegas foram chegando aos poucos e compareceram em peso ao casamento.

Por problemas ocorridos na estrada, Violeta acabou chegando ao hotel à uma hora da cerimônia. Tomou um banho rapidíssimo e correu ao salão, onde já a aguardavam para fazer o cabelo e a maquiagem. Planejou tudo. Contratou o serviço de beleza à distância, cuidou com esmero do vestido e sapato, levou as joias certas para a composição. Queria ficar bonita, discreta e chique.  Violeta só queria arrasar. Simplesmente arrasar!

Embora apreensiva pelo atraso, estava com o espírito alegre. Enquanto um rapaz fazia o cabelo, uma moça fazia a maquiagem. Orientados, os profissionais trabalharam com agilidade, e, por isso mesmo, Violeta não pode acompanhar as ações pelo espelho. O tempo era exíguo e tudo tinha de ser feito muito rapidamente.

Em menos de 30 minutos a dupla encerrou os serviços. Ainda faltava à Violeta vestir-se e dirigir-se à igreja, a poucas quadras do hotel. Ao abrir os olhos mirou-se no espelho. Violeta perdeu o ar. Foi um arraso. Violeta ficou completamente arrasada com o que viu. Quis falar e a voz não saiu. Abriu a bolsa, pagou e saiu voando como entrou, correndo ao hotel que ficava quase ao lado do salão de beleza.

A vontade de chorar quis se manifestar, mas nem tempo para isso não tinha. Entrou no quarto, olhou-se mais uma vez. Arrasada! Estava profundamente arrasada. Faltavam poucos minutos para o casamento começar, não daria tempo para tomar outro banho e desmanchar aquilo tudo para começar de novo. Quem sabe desistisse de comparecer? Inventasse um mal estar repentino?

Violeta remexeu um pouco no cabelo, esfregou os dedos sobre a maquiagem para suavizá-la, e vestiu o belo e esvoaçante vestido longo azul turquesa. Colocou a gargantilha e os brincos de brilhantes, calçou as sandálias de saltos imensamente altos, e, segurando o choro, saiu apressadamente fechando a porta do quarto atrás de si.

Enquanto descia pelo elevador totalmente espelhado, via refletida em várias imagens a sua tragédia. Os cabelos foram parcialmente presos ao alto da cabeça, ficando o restante solto sobre os ombros e em cachinhos. O penteado era completamente juvenil; só faltava um laço de fita para completar o quadro da dor. A maquiagem, extremamente pesada sobre a pele flácida e cansada da mulher de meia idade, repuxava e acentuava as marcas de expressão, vincando a pele em rugas antes totalmente discretas. Violeta olhava-se em um e outro espelho, querendo fechar os olhos sem conseguir, e via-se sempre em lamentável figura.

No saguão do hotel ainda encontrou alguns amigos que a esperavam para saírem juntos. Ao vê-los, Violeta em desabafo, manifestou a decepção com a sua produção. Os colegas a incentivaram, até elogiaram, mas Violeta seguiu sem entusiasmo, querendo distrair a atenção com qualquer coisa que não fosse ela mesma.

A cerimônia começou. Linda. E Violeta chorava garganta adentro, engolia as lágrimas apertando suavemente os lábios. Diante das máquinas fotográficas procurava esquivar-se, virava o rosto para qualquer outro lado. Após o perfeito e cativante ritual da igreja, todos se dirigiram à festa em salão próximo, belissimamente decorado. E a festa realmente aconteceu com diversas atrações, e agradavelmente bem servida. Violeta procurando sorrir, só viu no vinho a esperança de aproveitar um pouco do encantamento a sua volta.

Toda e qualquer homenagem aos noivos, ou realizada pelos noivos,Violeta chorava copiosamente, as lágrimas pulavam dos olhos e eram delicadamente secas com o grande e alvo guardanapo da mesa. Chegava a ser comovente tamanha emoção. Porém ninguém imaginava que o choro devia-se a outros motivos, Violeta estava triste e frustrada. Arrasada, mais especificamente. E ela só queria arrasar... Ora, ora. Estava sentindo-se a própria expressão do horror.

Gentilmente o garçom servia o maravilhoso vinho frutado, talvez chileno, com eficiência ímpar. Parecia que ele havia percebido as intenções de Violeta de escapar da tristeza por essa via.

Levemente estonteada pela bebida, bem mais alegrinha e descontraída, Violeta animou-se a dançar; naturalmente sem esperança alguma de ter um par a acompanhá-la. Onde quer que ela fosse, o jovem garçom a encontrava e a servia com presteza. Violeta já sorrindo à toa, olhou nos olhos verdes do rapaz e disse: “assim eu vou ficar tontinha”. Ao que o garçom, sorrindo com ar maroto, respondeu: “mas é essa a intenção”.

Se isso era bom ou não, ela não sabia, mas teve efeito de aliviar a pressão negativa sobre a autoestima. E Violeta mais solta dançou, conversou, e lá pelas tantas até um par arranjou. Vejam, só. Dançou acompanhada por um rapazote com idade para ser seu filho. E ele parecia não se importar. E ela não quis se importar. E dançou até que, antes que fosse tarde demais, Violeta achou melhor voltar ao hotel.

Correu para acompanhar os amigos que saiam naquele momento. E, para melhor caminhar, já na calçada, Violeta tirou dos pés as altas sandálias. Carregava nas mãos a bolsa, a lembrancinha, os calçados e algumas flores, mas chegou ao hotel segurando as miudezas e apenas um pé da sandália. Voltou, vasculhou o percurso, e nada de encontrar o pé faltante. Sentou-se exausta no sofá do saguão do hotel, ao lado de um amigo solidário. Sem palavras, lado a lado, ficaram por minutos ali parados. Inesperadamente, sentiu no rosto um gostoso e carinhoso beijo. Reanimada Violeta se levantou, sorriu e se foi em paz. Feliz. Apesar do cabelo, da maquiagem, da falta da sandália, da tonturinha... Os noivos mereciam a felicidade de todos pela transbordante felicidade que exalavam.

E Violeta, arrasadoramente arrasada, talvez tenha arrasado, não como desejava arrasar, mas de alguma outra forma de arraso, sem que o tenha sabido ou percebido. Talvez ela tenha arrasado no próprio jeito de ser. Assim ela julgou e foi melhor acreditar.

                                                 acervo pessoal

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sonhar



Uma das grandes gratificações que tenho com a vida é a de poder sonhar.
Quando sonho, em vigília ou adormecida, sou capaz de realizar meus mais obscuros e ardilosos caprichos, posso satisfazer enlouquecidos e impuros desejos, e tudo num piscar de olhos. Ou, lenta e saborosamente...
Meus tumultuados sonhos são insanos pensamentos a infringirem as referências do bom senso. Eles arriscam-se a viajar além do muito além da razão, a alcançar perdidas e ilimitadas dimensões, a enaltecer o colorido psicodélico da confusão, e tudo, por puro deleite. Meus silentes sonhos são devaneios permitidos que, em composição com as demais expressões da imaginação, põe-se a regular a saúde mental da vida; esta que, sendo bem composta e ajustada aos valores morais, se equilibra na permanente busca de harmonia entre os impulsos e as normas sociais.
Sonhar é desfrutar de um ilimitado poder, é não ter de prestar satisfação a quem quer que seja, é permitir-se violar sem desobedecer nem errar. Porque o sonhar é livre, é criativo, e mesmo quando terrível e cruel, ou totalmente devastador, o sonhar não fere, não maltrata, não ameaça enquanto se mantiver resguardado como produção imaginária pessoal e intransferível.
Sim, sonho como expansão da capacidade do pensar, como exercício da capacidade de inventar, como aperfeiçoamento da capacidade de divagar. Sonho pelo prazer inominável de construir o gozo personalizado e particular. Sonho para experimentar o desvio, a transcendência, a brutalidade, a paixão arrebatadora, a magia do absurdo sem qualquer risco de sansão, dor ou prejuízo. Brinco e jogo com as possibilidades impossíveis.
Ilusões e fantasias necessárias. Os sonhos quando dirigidos e orquestrados por revelação da vontade - em simples fragmentos de doidices ou em inimagináveis aventuras - acalentam a alma diante das tristezas ou dos  monótonos dias, dão ânimo aos períodos difíceis e sobrecarregados,  oferecem sentido a tantos momentos insignificantes da existência.
Eu sonho deliberadamente para me apropriar da vida sem reservas!

 
                                                                                                      Clicada por Rosa Helena