O destino e a
própria Elenita pregaram uma peça a ela. E das grandes.
Foi numa saída com
suas amigas para festejar a solteirice que Elenita tropeçou no sapo. A
juventude e a vida adulta voando velozmente pareciam ter pressa para entrar na meia
idade. E antes que fosse tarde ela quis curtir a vida. Olhou o sapo e se engraçou
com ele, achou-o simpático. Ela percebeu que o sapo era tão somente um sapo, e mesmo
assim quis sonhar e sonhou na transformação do sapo em príncipe encantado.
Conversou, beijou,
acariciou o sapo e ele continuou sendo sapo. Elenita ensinou o sapo a dirigir,
fez o sapo fazer faculdade, conseguiu um bom emprego para o sapo e ele sempre e
apenas um sapo. Elenita investiu o mundo no seu sapinho e ele nunca se
transformou em algo que não fosse o sapo que era. Só que agora o sapo tinha um
pouco mais de recurso para brincar o seu brinquedo preferido: seduzir bobinhas
e bobonas. Ele sabia que, assim como Elenita, havia muitas outras mulheres
acreditando no conto de sapo virar príncipe. E ele adorava brincar de virar
príncipe. Muitas vezes ele até acreditou ser príncipe de verdade, pois um monte
de bobalhonas o faziam crer nisso. O sapo era muito vaidoso!
Elenita e seus
esforços não conseguiram transformar o sapo em príncipe, mas sim em um grande
encosto. Ele não amava Elenita ou alguma outra mulher, ele não sabia e nem nunca
aprendeu a amar. O sapo estava satisfeito com a boa vida ao lado de sua benfeitora. Porém, a certa altura, a tonta da Elenita acordou e viu que seria
irreversível: sapo é sapo. E príncipes encantados não existem. Ela não aguentava mais o maldito
sapo, sabia que ele nunca seria mais do que aquele sapo nojento gosmento
melequento e falso, mas não conseguia se desfazer da maldição daquele
miserável. Ela tentou desprendê-lo, sacudiu-se da cabeça aos pés, fez terapia,
mudou-se, rezou todas as preces, fez promessas e mandingas. E nada, o sapo
estava agarrado grudado com cola hiper superpotente.
Ah, coitada da
Elenita. Queria livrar-se do sapo que em tempo algum seria príncipe, ou qualquer
coisa além de sapo com pequena e tênue camadinha de verniz. Demorou, mas ela
entendeu: o sapo também sonhou com o principado e não aceitaria, jamais, um dia
não se tornar príncipe. Ele olhava-se ao espelho e via o príncipe que desejava
ser, ignorando a cara e os modos de sapo que tinha. Assim sendo, Elenita sem recursos
nem novas ideias, relaxou e deixou que o sapo saísse à procura de outra tola que
acreditasse nos contos-da- carochinha, e o quisesse como sendo seu, um sapo
futuro príncipe.
Foi dessa forma que Elenita livrou-se do mal. Ufa!