Volta e meia o passo se descompassa e
eu paro. Engulo a saliva o discurso e os pensamentos. Dissipo-me em
subjetividades no sopro do vento que me conduz mundo adentro. Pelas pupilas a
luz do sol desbrava caminho e faísca alumiando segredos e
vazios. Letras e sombras dançam e se perdem em avassaladoras sensações,
insanos sentimentos e profanas paixões. E os vazios se multiplicam em vazios
puros e calmos e translúcidos e silenciosos. Mornos vazios, meus, guardados em
sombra; vazios úmidos, do teu ser pulverizado, molhando minhas letras suspiradas.
Efervescências vaporizadas. Vazios de serena paz por serem apenas vazios. E, na meia volta, eu volto.
Porém, numa dessas voltas, totalmente
imersa em mim, maldito desastre: esqueci-me de dirigir o leme. Entrei na guerra
sem saber dela. Estampidos soaram por todos os lados estilhaçando meus
devaneios. Protegi-me o quanto pude, mas não pude me resguardar em sonhos. Doeu
na carne, nos ossos, nos brios, nos rios, ah, meu navio. Antes tão deslizante
em azuis celestes e marítimos. Petrifiquei em cacos. Juntei os trapos. E aos
frangalhos, trapos amarrados em cacos mal colados, parti sedenta em busca da
paz de mundo da qual perdi o sumo. Parti em nova busca de mim.
Ainda agora deslizo entre mundos - não
me encontro em objetividades nem em fantasias. Preciso arriscar mais, eu penso
de um lado. Radicalizar, eu sinto meu sentimento gritar do outro.
E eu sei, não me pergunte como, simplesmente sei: tenho que amar e
amar cada vez mais os vazios da minha existência, qualquer que seja a instância
e a profundidade em que se encontrem. Sim, os vazios. Os loucos vazios que me
rondam, que me fustigam, os vazios que me ocupam e se proliferam, me preenchem ou me esvaziam (de inutilidades), nem
sei bem...
Amar mais os vazios. Pois tenho convicção, serão neles que
me resgatarei desmedidamente. E assim o serei, desmedida. Amando os meus e os teus vazios. Em algum deles, prevejo, eu te reencontrarei, pleno e doce flutuando num amor nosso, desprovido de
qualquer sentido. Tranquila mente.