segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Solilóquio



Volta e meia o passo se descompassa e eu paro. Engulo a saliva o discurso e os pensamentos. Dissipo-me em subjetividades no sopro do vento que me conduz mundo adentro. Pelas pupilas a luz do sol desbrava caminho e faísca alumiando segredos e vazios.  Letras e sombras dançam e se perdem em avassaladoras sensações, insanos sentimentos e profanas paixões. E os vazios se multiplicam em vazios puros e calmos e translúcidos e silenciosos. Mornos vazios, meus, guardados em sombra; vazios úmidos, do teu ser pulverizado, molhando minhas letras suspiradas. Efervescências vaporizadas. Vazios de serena paz por serem apenas vazios. E, na meia volta, eu volto.
Porém, numa dessas voltas, totalmente imersa em mim, maldito desastre: esqueci-me de dirigir o leme. Entrei na guerra sem saber dela. Estampidos soaram por todos os lados estilhaçando meus devaneios. Protegi-me o quanto pude, mas não pude me resguardar em sonhos. Doeu na carne, nos ossos, nos brios, nos rios, ah, meu navio. Antes tão deslizante em azuis celestes e marítimos. Petrifiquei em cacos. Juntei os trapos. E aos frangalhos, trapos amarrados em cacos mal colados, parti sedenta em busca da paz de mundo da qual perdi o sumo. Parti em nova busca de mim.
Ainda agora deslizo entre mundos - não me encontro em objetividades nem em fantasias. Preciso arriscar mais, eu penso de um lado. Radicalizar, eu sinto meu sentimento gritar do outro.  E eu sei,  não me pergunte como, simplesmente sei: tenho que amar e amar cada vez mais os vazios da minha existência, qualquer que seja a instância e a profundidade em que se encontrem. Sim, os vazios. Os loucos vazios que me rondam, que me fustigam, os vazios que me ocupam e se proliferam, me preenchem ou me esvaziam (de inutilidades), nem sei bem... 
Amar mais os vazios. Pois tenho convicção, serão neles que me resgatarei desmedidamente. E assim o serei, desmedida. Amando os meus e os teus vazios. Em algum deles,  prevejo, eu te reencontrarei, pleno e doce flutuando num amor nosso, desprovido de qualquer sentido. Tranquila mente.




       

sábado, 14 de setembro de 2013

Mudanças


Faz algum tempo que escrevo predominantemente sobre minhas inspirações viajantes. Hoje, porém, tratarei de tema mais conectado aos fatos da nossa existência.

Nem todos sabem, mas a população do nosso país, já de longa data, era mais feminina do que masculina. Não que nascessem mais mulheres do que homens, é que o gênero masculino registrava maior índice de mortalidade desde a primeira infância por problemas na saúde. E, a partir da adolescência, ficava mais exposto à mortalidade decorrente dos acidentes de trânsito e das armas de fogo. No entanto, a realidade levantada pelo IBGE aponta para mudanças.

O Brasil hoje já é mais masculino, pelo menos até os trinta anos de idade da população. E tende a ficar mais masculino ainda em menos de dez anos. A projeção é de que os homens estarão em maior número até a meia idade, o que quer dizer, lá pelos cinquenta anos. Meninas e meninos fiquem espertos, muita coisa vai mudar em nossas vidas, e é para breve. Mesmo assim, o gênero feminino será mais numeroso a partir da velhice. E a esperança de vida dos brasileiros ultrapassará os noventa daqui a trinta anos. (Iuhuu!!!)

E qual a importância disso tudo? Naturalmente junto a essas mudanças também virão outras, como mudanças no comportamento e nas relações afetivas, sem contar todas as outras modificações possíveis relacionados à economia e à política e à saúde e à sociedade e etc.

Tenho apreensões. Sinto curiosidade quanto ao futuro. Fico pronta para gracejar com os rapazes. O fato do aumento da população masculina é recente e ainda não o percebemos efetivamente, pois a vida anda apressada e nós acelerados atendendo urgências - mal conseguimos acompanhar as notícias em manchetes. Mas a verdade é que logo, logo sentiremos a repercussão destas alterações em nosso cotidiano.

Como será que homens e mulheres se comportarão diante de uma sociedade mais masculina? Esta desigualdade dos gêneros influenciará na dança do poder subjetivo e objetivo? A favor ou em detrimento de qual dos lados? Como serão vividos os vínculos afetivos diante da desproporcionalidade de gêneros? E a sexualidade? E como a velhice feminina se comportará? Será comum o acasalamento entre homens jovens com mulheres mais velhas? (Espero que sim, eu gosto disso!)




sábado, 7 de setembro de 2013

Acasos



Hoje sou nadadora por puro acaso. Conheci Brasília e a Turquia também por acasos da vida. Atuo na área do envelhecimento por manobras do destino. E assim, percebo que forças alheias conspiraram a meu favor na direção de importantes realizações que realçam a minha existência. O acaso mostrou a direção, e eu fiz os esforços para concretizar as conquistas.
No trajeto da vida enxergo conjuntos de acasos incitando rumos. Naturalmente tomei e tomo decisões, mas sim, os acasos têm sido marcantes para eu ser quem sou e ter a vida que levo. Um segundo a mais ou a menos, em tantas ocasiões, teria sido suficiente para mudar radicalmente os fatos e os meus encaminhamentos.
Diante das circunstâncias, decorrente de opções ou por falta delas, voltei a trilhar caminhos já desprezados por me parecerem ultrapassados. Depois de uma temporada fora, retornei à cidade e ao antigo trabalho descortinando novas e excepcionais perspectivas. Inesperada virada.
Brincando de explorar os mistérios da comunicação, fui surpreendida com o despertar de habilidades e o renascer do afeto tamborilando no peito: romance, aventura, roteiros e quiçá publicações.
Realizando sonhos adiados, mergulhei nos mistérios da imagem registrada, mesmo que em rasas águas; tenho ampliado a rede de relacionamentos escancarando portas para a visibilidade e o reconhecimento enaltecedores. Realizando sonhos invisto em amigos e encontro amores. Acasos bem vindos.
E nas ocasiões em que os acasos me deram uma rasteira, me jogaram ao chão e me escureceram os horizontes, confesso, com esforços dobrados conheci o limite das minhas forças, agucei meus sensores e descobri novas formas de enxergar:  amadureci. Inesperadas viradas. 
Acasos bem vindos!