quarta-feira, 28 de março de 2012

ESPERANÇA



Tantas vezes amei o amor errado,

Mal amada sobrando pelo caminho

Ou retirando-me para escapar do pior.

Como saber se este que agora espia

Por entre frestas a provocar-me

É amor para amar ou apenas brincar?

Tantas vezes amei de forma errada,

Amando com alma, vísceras e o resto

Entregando vida, sonhos e tudo sem reserva

Como aprender a amar com cautela

Esse amor que me fala através dos olhos,

Acaricia com palavras e afaga com presença?

Tantas vezes errando no amor

Na escolha ou caminho, por que ainda amar?

Insistir em aprender o que tão poucos sabem fazer?

Não adianta, não consigo evitar,

É destino, sina ou benção, sei lá; vivo para amar.

No entanto, espero encontrar o amor

Mesmo sujeito a  erros de parte a parte


O amor forte e presente, cúmplice e amigo.


E divertido. Sentimento de amor até o fim.

Vislumbro história soprando - roteiro e protagonistas

Será este o romance a ser escrito?

A minha grande obra de amor?


segunda-feira, 26 de março de 2012

Boda de Diamante



Casamentos! Alguns simplesmente breves outros surpreendentemente longos. Uns incomensuravelmente dramáticos outros aparentemente singelos e felizes.

Atento meu olhar sobre o casamento a partir da nossa sociedade e história, e vejo como ele se transformou ao longo do tempo: evoluiu criando regras mais flexíveis e ampliando possibilidades. Adaptou-se aos anseios e as urgências dos pares.  As motivações sempre foram diversas, embora eu realmente acredite que na atualidade a tendência seja a valorização do vínculo afetivo, da intimidade sexual, e do desejo por constituir família e filhos. E a dissolução? Cada vez mais fácil e procurada. Mesmo assim, tornou-se comum o firmamento de novos casamentos entre os separados.

Apreciamos o acasalamento e nos gratificamos com ele, por isso procuramos um par. No entanto, estamos pouco competentes para manter a paz no relacionamento diante das mudanças inevitáveis das partes e das circunstâncias; diante das frustrações e decepções vividas no seio da união. Qualidade e longevidade no casamento é expectativa que muitos de nós não conseguimos nem conseguiremos alcançar. Por isso, quando vejo a união  perdurar com parceria e enlevo, sobreviver às crises inseridas nos alinhados anos de uma vida a dois, fico muito sensibilizada. Emocionada mesmo!

E foi isso que aconteceu. Fiquei comovida com o convite para festejar os sessenta anos de núpcias de uma dupla de velhinhos encantadores e felizes que, indiscutivelmente, continuam a se amar. Com um amor igual e diferente, sobrevivente. E glorioso.

No transcorrer do casamento e na evolução dos acontecimentos, sem margem de dúvida alguma, o querido casal enfrentou momentos difíceis - alguns anunciados por estudiosos como crises previsíveis da vida adulta, porém outros surpreendendo e desestabilizando por não serem nem sequer cogitados.

Em breve retrospectiva consigo ver as dificuldades de relacionamento pela qual eles passaram: discordância na educação dos filhos; necessidade de tempos diferentes para se modernizarem às exigências do mundo e da época; duros enfrentamentos para superarem os percalços econômicos; dores de cabeça para administrarem divergências de interesses e de encaminhamentos  –  vejam só,  ela resolveu estudar depois que o último filho saiu de casa, próximo da aposentadoria dele. Sem mencionar as posições políticas: ele sempre foi um conservador convicto enquanto ela o tempo todo desenvolveu ideias liberais. Mas quando os problemas envolviam a saúde, eles uniam-se e transformavam-se em uma só energia, um só ser: o casal era pura fortaleza. E superando dificuldades pessoais e conjugais, familiares e sociais, a dupla construiu uma vida sólida e brilhante, boda de diamante, apesar de todos os pesares.

A vida compartilhada  supre-se com um pouco de tudo.  Nela se apresentam imensas alegrias,  como  também dores e sofrimentos. A harmonia não impede o surgimento dos conflitos. E no horizonte além de lindas e coloridas perspectivas surgem escuras e pesadas nuvens, quando não grandes temporais. Aprender a desfrutar os bons momentos e superar os maus é a grande questão para o sucesso de um casamento. A receita ninguém sabe direito, tem muitas variações, mas com certeza prescinde de generosas doses de encantamento e admiração um pelo outro, e uma infinita capacidade de compreensão.

            Não é fácil reafirmar uma escolha feita há sessenta anos, quando se era tão jovem e inexperiente. Parece-me quase uma loteria. E eu fico maravilhada de fazer-me presente nesta solenidade e testemunhar a confirmação da aliança através do amor e da parceria, de comprovar a reinvenção do romance pela cumplicidade e intimidade, e de compartilhar da singela alegria  que ilumina a parelha. 
           
                Neste momento sinto minha emoção transbordante escorregar pelos olhos e deslizar pelas faces.  Foco e superação. Devoção flamejante. Sessenta anos de união: Bodas de Diamante! 


segunda-feira, 19 de março de 2012

Desesperança



Outro dia, sentada à minúscula mesa junto da janela de uma cafeteria, tomei um gostoso cafezinho para revigorar minha pressão baixa. O lugar estava tranquilo e com temperatura agradável, contrastando com o calor escaldante da rua. Nos cinco minutos que ali estive, vi passar pela calçada um homem suado e de olhar vago, desleixado apesar da calça e camisa social que vestia. A figura alta, meio encurvada, grisalha e com aparência de uns 50 anos, fez-me lembrar de outra pessoa. O Sr Pera era um homem cheio de problemas e perseguido por dívidas, que encontrou no suicídio a solução para o seu tormento. Lamentavelmente ele deixou os problemas, e algo bem mais pesado, para seus filhos adolescentes e familiares próximos resolverem. Pobre Sr Pera que não encontrou esperança no seu horizonte e chacoalhou com as esperanças dos seus.


Assim como ele, quantas pessoas se destroem, fulminante ou lentamente, por não encontrarem uma luz, uma mão, uma saída? Quantos vão desanimando frente às suas perspectivas de futuro por não conseguirem administrar suas vidas presente? Quem já não conheceu alguém que come ansiosamente, quase até pelas orelhas, para esquecer angústias, talvez na tentativa de encontrar gratificação? Ou ouvimos falar de alguém que se expõe a todo e qualquer comportamento de risco para buscar sentido ou encontrar emoção diante do viver? Pessoas que perderam ou não encontraram chão para olhar a vida com leveza e satisfação?


A desesperança é mal que mata sonhos, mata vínculos, mata seres. É comum que a desesperança esteja alojada em males maiores, em sofrimentos e incompetências não revelados, na sensação de abandono e isolamento. A pessoa que traz a desesperança apertando no peito não consegue ler a realidade além das suas mazelas. Precisa urgentemente de alguém para, em conjunto, descobrir uma saída que lhe seja razoável e propícia. Porém, justo na hora de que mais precisa de ajuda, a pessoa desiludida se encolhe ou agride o outro, e repele a presença dos possíveis apoios. A tarefa de socorrer ao afligido torna-se árdua e recai aos que o amam, ou aos que amam o trabalho de ajudar doentes, cuja desesperança é apenas um sintoma entre outros. Ambos os casos são de imprescindível sensibilidade e de muita perseverança.


Ainda pensando no Sr Pera, paguei minha conta e levantei-me para sair. No mesmo instante, cruzando a porta da cafeteria no sentido contrário ao meu, entrou um casal de uns sessenta e muitos anos, de mãos dadas e trocando sorrisos. Contrastando com as minhas reflexões, a nova imagem impôs-se e transformou o foco do meu pensamento. Pensei: como gostaria que fosse simples assim sair de uma situação à outra. Mas não é! Porém, hoje em dia existe solução para quase tudo; e com amor, solidariedade e coragem a desesperança pode ceder lugar à esperança.


sábado, 17 de março de 2012

NADAREI




O amanhã promete valer a pena

Eu prometo fazer o amanhã valer

Bem mais do que acertar na sena

Amanhã vou competir e vencer

Superar-me é uma vitória plena!


segunda-feira, 12 de março de 2012

A escada



Quis o destino que a barata morresse, por conta de venenos espalhados por todos os cantos, justamente na escada que liga o meu apartamento à minha garagem. Um luxo que só moradores de prédios antigos tem, morar em apartamento conectado à própria garagem.



Cedo pela manhã, descendo às pressas para não atrasar-me aos compromissos, percebi a incomoda presença da barata no meu caminho, estendida de pernas para o ar, sobre o branco e mais baixo degrau da escada. Porém, como estava morta, e a faxineira do prédio viria mais tarde executar a limpeza de toda a área do condomínio, não me dei ao trabalho de tirá-la dali. Continuei minha correria pelo dia afora.



À noite, chegando cansada em casa, cheia de sacolas de supermercado nas mãos e a bolsa pendurada no ombro, acendi a luz da garagem e vi a maldita barata refestelada no mesmo lugar que a deixei pela manhã. O sangue subiu à cabeça e, cheia de raiva, praguejei baixinho alguns impropérios. Degrau por degrau venci o lance de escada sem olhar para trás. Lembrei-me que no dia seguinte a minha diarista viria dar uma geral em casa. Sosseguei. “Amanhã a barata sai de circulação.”



Mais um dia corrido, sai cedo e às pressas para não perder o horário. Olhei a barata com desdém; a partir de hoje ela não me incomodaria mais, ela iria parar no lixo, obrigatoriamente! Trabalhei, resolvi problemas, tomei providências e estive ocupada o dia todo. Ao voltar para casa já noitinha, embiquei o carro na garagem e os faróis iluminaram a barata, imóvel, no mesmíssimo lugar. Tive uma crise. Se a diarista ainda estivesse em casa sobraria para ela, mas já era tarde. Subi as escadas numa rapidez e com tal indignação que não sei nem descrever.



Será que isso é complô? A barata só é visível a mim? Qual o problema dessa gente que ninguém quer tirar a barata da minha escada? Será que as faxineiras daqui e dali pensam que a barata está enfeitando a minha escada? Entrei em casa e sentei-me indignada no sofá. Respirei fundo umas quantas vezes até me acalmar. De repente entendi. A escada não pertence ao condomínio (para a faxineira do prédio), assim como não pertence ao apartamento (para minha diarista). O problema não é a barata. O problema é a escada! A quem ela pertence?



Será que devo convocar reunião para discutir sobre a segregação da escada?


segunda-feira, 5 de março de 2012

Carta de mãe - sobre TDA



Transcrevo parte da carta que me chegou às mãos, com algumas idéias reorganizadas por mim para facilitar meu propósito. Após a leitura do desabafo e pedido por socorro, não poderia deixar de dedicar algumas linhas sobre o Transtorno do Déficit de Atenção, com ou sem Hiperatividade, neste meu canal de comunicação. A problemática em questão acomete muitas pessoas, e as faz sofrer diante do conflito por adequação às exigências do mundo externo, e dos sentimentos de estresse e de menos valia decorrente:

“...

Quero ajudar meu filho, um rapaz de vinte e muitos anos (inteligente e bonito aos meus olhos de mãe), porém ele não aceita minhas opiniões ou intervenções porque se sente pressionado diante delas. Mesmo sendo universitário vejo-o dispersivo, inseguro e despreparado para o futuro.

No entanto, ele é receptivo às pequenas contribuições econômicas que familiares oferecem à sua vida social, pois isso não representa pressão. E, em minha opinião, isso não é muito ajuda! Entendo como ajuda o estímulo para a ação, a orientação diante da dúvida, a disponibilidade para conversar frente ao amadurecimento de uma idéia ou encaminhamento.

...

Será que meu filho não vê que se eu não acreditasse nele nem insistiria? Se eu achasse que ele é “um nada” como diz que eu penso, eu não teria o que fazer? Será que ele não entende que a baixa auto-estima é dele, e que a inércia só alimenta a concepção depreciada dele próprio?

Penso, sinto, e reflito sobre essas coisas todas. Por que me preocupo tanto? Por que não tenho a mesma apreensão com a filha? Será que vejo nele alguma identificação comigo? Será que é porque ambos temos déficit de atenção? E sofremos das conseqüências geradas por ela na nossa auto-imagem e estima?  Talvez por que eu já tenha sentido minha auto-estima me atormentando e me fazendo acreditar ser menos inteligente e menos produtiva na comparação com os outros, como vejo acontecer com ele hoje?

Por anos eu via nos olhos das pessoas o descrédito, que era predominantemente meu, sobre as minhas capacidades.  Será que minha angústia é não querer ver minha história se repetir nele? Talvez. Por isso ou por aquilo, o que sei é que dói ter de cruzar os braços e ficar na mesma inércia do que ele, pois é isso que ele solicita de mim.

...

Fazer o quê? Me conformar? Não consigo, não sou assim, mas não quero desrespeitar o pedido deste amor. Se eu não puder falar, estarei gritando e gesticulando dentro de mim, vai que ele sinta as vibrações. Se eu não puder compartilhar, estarei por perto acompanhando, torcendo, sorrindo e chorando a cada passo dado. Se não puder ser admirada pelos meus feitos comuns, pela vida apertada, às vezes difícil, que levo, estarei sempre indo à busca de valores que preencham as nossas vidas.

...

Eu acredito no esforço dele e na sua vitória; só não creio em vitórias sem esforço.”



O Transtorno do Déficit de Atenção, com ou sem Hiperatividade, é um transtorno neurobiológico de predisposição genética, que tem como sintomas característicos a desatenção, a inquietação e a impulsividade.

O portador desse transtorno tem dificuldade de manter a atenção em atividades longas, repetitivas e pouco interessantes a ele. Distrai-se fácil com os estímulos externos assim como diante de suas demandas internas. A desatenção prejudica a ação da memória e induz à dificuldade de organização e planejamento da vida diária, causando sentimento de confusão para determinar prioridades. A esse conjunto de situações gera-se o estresse e a sensação de sobrecarga. Como conseqüência, o desempenho das tarefas da escola ou do trabalho parece ficar aquém da capacidade intelectual do sujeito.

Assim sendo, aos olhos de um observador qualquer, a pessoa com TDA é vista como sonhadora, bastante esquecida, e pouco produtiva. Aos seus próprios olhos sente-se desvalorizada, pouco inteligente, pressionada e perdida. Comumente carrega o pesado fardo do estereótipo de “burra” e “preguiçosa”. E a todas essas, não há auto-estima que se sustente em bom patamar. A realidade, no entanto, demonstra que essas pessoas têm bom nível intelectual e elevada capacidade criativa. E podem ser bastante produtivas se entenderem sua problemática e aprenderem a lidar com ela.

As meninas tendem ao Transtorno do Déficit de Atenção sem hiperatividade - parecem mais sonhadoras e tímidas; e os meninos ao com hiperatividade - reagem de forma irrequieta e apresentam impulsividade. Mais da metade dos casos diagnosticados na infância estende-se à vida inteira. Oficialmente o TDAH no adulto só foi reconhecido há pouco mais 30 anos, e sua existência apenas se verifica em portadores desde a infância.

O TDA no adulto costuma prejudicar a fluência da vida trazendo prejuízo à relação da pessoa consigo mesma, com seus afetos, e ao desempenho profissional. Porém, com a ajuda de tratamento psicoterápico específico para esses casos, às vezes também de medicação, a pessoa torna-se capaz de proceder de maneira favorável a si, inclusive tirando proveito das suas características, que deixam de ser problemas.

Se ao ler esse texto você sentir alguma identificação com os sintomas apresentados, não sofra mais, enfrente sua distração e seja feliz.