Transcrevo parte da carta que me chegou às mãos, com algumas idéias reorganizadas por mim para facilitar meu propósito. Após a leitura do desabafo e pedido por socorro, não poderia deixar de dedicar algumas linhas sobre o Transtorno do Déficit de Atenção, com ou sem Hiperatividade, neste meu canal de comunicação. A problemática em questão acomete muitas pessoas, e as faz sofrer diante do conflito por adequação às exigências do mundo externo, e dos sentimentos de estresse e de menos valia decorrente:
“...
Quero ajudar meu filho, um rapaz de vinte e muitos anos (inteligente e bonito aos meus olhos de mãe), porém ele não aceita minhas opiniões ou intervenções porque se sente pressionado diante delas. Mesmo sendo universitário vejo-o dispersivo, inseguro e despreparado para o futuro.
No entanto, ele é receptivo às pequenas contribuições econômicas que familiares oferecem à sua vida social, pois isso não representa pressão. E, em minha opinião, isso não é muito ajuda! Entendo como ajuda o estímulo para a ação, a orientação diante da dúvida, a disponibilidade para conversar frente ao amadurecimento de uma idéia ou encaminhamento.
...
Será que meu filho não vê que se eu não acreditasse nele nem insistiria? Se eu achasse que ele é “um nada” como diz que eu penso, eu não teria o que fazer? Será que ele não entende que a baixa auto-estima é dele, e que a inércia só alimenta a concepção depreciada dele próprio?
Penso, sinto, e reflito sobre essas coisas todas. Por que me preocupo tanto? Por que não tenho a mesma apreensão com a filha? Será que vejo nele alguma identificação comigo? Será que é porque ambos temos déficit de atenção? E sofremos das conseqüências geradas por ela na nossa auto-imagem e estima? Talvez por que eu já tenha sentido minha auto-estima me atormentando e me fazendo acreditar ser menos inteligente e menos produtiva na comparação com os outros, como vejo acontecer com ele hoje?
Por anos eu via nos olhos das pessoas o descrédito, que era predominantemente meu, sobre as minhas capacidades. Será que minha angústia é não querer ver minha história se repetir nele? Talvez. Por isso ou por aquilo, o que sei é que dói ter de cruzar os braços e ficar na mesma inércia do que ele, pois é isso que ele solicita de mim.
...
Fazer o quê? Me conformar? Não consigo, não sou assim, mas não quero desrespeitar o pedido deste amor. Se eu não puder falar, estarei gritando e gesticulando dentro de mim, vai que ele sinta as vibrações. Se eu não puder compartilhar, estarei por perto acompanhando, torcendo, sorrindo e chorando a cada passo dado. Se não puder ser admirada pelos meus feitos comuns, pela vida apertada, às vezes difícil, que levo, estarei sempre indo à busca de valores que preencham as nossas vidas.
...
Eu acredito no esforço dele e na sua vitória; só não creio em vitórias sem esforço.”
O Transtorno do Déficit de Atenção, com ou sem Hiperatividade, é um transtorno neurobiológico de predisposição genética, que tem como sintomas característicos a desatenção, a inquietação e a impulsividade.
O portador desse transtorno tem dificuldade de manter a atenção em atividades longas, repetitivas e pouco interessantes a ele. Distrai-se fácil com os estímulos externos assim como diante de suas demandas internas. A desatenção prejudica a ação da memória e induz à dificuldade de organização e planejamento da vida diária, causando sentimento de confusão para determinar prioridades. A esse conjunto de situações gera-se o estresse e a sensação de sobrecarga. Como conseqüência, o desempenho das tarefas da escola ou do trabalho parece ficar aquém da capacidade intelectual do sujeito.
Assim sendo, aos olhos de um observador qualquer, a pessoa com TDA é vista como sonhadora, bastante esquecida, e pouco produtiva. Aos seus próprios olhos sente-se desvalorizada, pouco inteligente, pressionada e perdida. Comumente carrega o pesado fardo do estereótipo de “burra” e “preguiçosa”. E a todas essas, não há auto-estima que se sustente em bom patamar. A realidade, no entanto, demonstra que essas pessoas têm bom nível intelectual e elevada capacidade criativa. E podem ser bastante produtivas se entenderem sua problemática e aprenderem a lidar com ela.
As meninas tendem ao Transtorno do Déficit de Atenção sem hiperatividade - parecem mais sonhadoras e tímidas; e os meninos ao com hiperatividade - reagem de forma irrequieta e apresentam impulsividade. Mais da metade dos casos diagnosticados na infância estende-se à vida inteira. Oficialmente o TDAH no adulto só foi reconhecido há pouco mais 30 anos, e sua existência apenas se verifica em portadores desde a infância.
O TDA no adulto costuma prejudicar a fluência da vida trazendo prejuízo à relação da pessoa consigo mesma, com seus afetos, e ao desempenho profissional. Porém, com a ajuda de tratamento psicoterápico específico para esses casos, às vezes também de medicação, a pessoa torna-se capaz de proceder de maneira favorável a si, inclusive tirando proveito das suas características, que deixam de ser problemas.
Se ao ler esse texto você sentir alguma identificação com os sintomas apresentados, não sofra mais, enfrente sua distração e seja feliz.