sábado, 30 de julho de 2011

DANCEI



Deixei espaço para destruíres
Um resto de esperança que era minha
Fluir nas veias o amor arco-íris
Ou viver a relação amorosa água-marinha,
Tudo com os pés no chão, maturidade e alegria,
E. Incompatível. Viajei em bolhas de sabão.

Deixa para lá, errei, mais do que ninguém eu sei
Pus-me inteirinha nas tuas mãos
Ora, se eu já não sabia que não podia.
Mas senti, o universo conspirava a favor, era amor
Despretensioso, ao sabor do vento, com cara de folia.

No rubor das faces se via o agito da paixão
A ardência do fogo e a lenta transformação
Nascia o anseio da entrega da alma, do corpo
Dos sonhos e do gozo. E, aí eu dancei, bonito,
Ao som minimalista de apitos e do tambor
Sobrei. Marquei o espaço para destruíres
Minhas penúltimas fantasias de amor
Beija-Flor. Sugaste meu néctar.


 


sexta-feira, 29 de julho de 2011

O segredo da (in) felicidade


        Longe do que se pensa a felicidade não está em obtermos tudo o que desejamos ou fazermos só o que é bom e divertido. A felicidade vem com os desafios, os enfrentamentos, a superação, e a disciplina. Disciplina. Parece que estamos falando de algo antiquado, dos tempos da ditadura, mas não é: a disciplina e o limite são elementos fundamentais para a socialização, para a saúde psíquica e, também, para a saúde física.
        Analisemos nossas crianças e a confusão que nós, adultos da classe média, nos colocamos diante das dificuldades com a disciplina na dança familiar. As crianças perdem a hora de dormir, escolhem seus próprios cardápios, teimam e nos estressam até que assinamos nossa incompetência como educadores. Assim, delegamos à professora a tarefa de ensinar, educar e colocar limites. De fazer de nossos “anjinhos” pessoas admiráveis e felizes. E nós ficamos correndo à satisfação dos caprichos destes pequenos e exigentes seres. Resultado: crianças trocando o dia pela noite em frente ao computador e vídeo-game, reduzindo o tempo do brincar. Crianças mal alimentadas, cheias de vontade e vazias de saúde, que não comem frutas, verduras, nem carne e feijão. Crianças com pais cansados e frustrados, limitados, carregados de sentimentos de culpa e de raiva diante dos insucessos de suas atribuições. Pais num jogo de empurra-empurra para que alguma boa alma acolha sua criança amada e estressante por uma tarde ou uma hora e liberte-os do grande e sufocante poder do filho.
        Em síntese, sem disciplina e sem limites encontraremos crianças insatisfeitas e insaciáveis, dominadoras e poderosas, crianças agressivas e egoístas, sem organização interna e sem regras como referência estruturante. Crianças inseguras e sem o poder de luta ou superação de obstáculos. E, como conseqüência, encontraremos adultos, inseguros e infelizes, submetidos aos pequenos, ao invés de projetados como modelo. Adultos fracos e perdedores, omissos ou negligentes, em constante conflito consigo mesmo e com a família.
        A disciplina não é algo determinado e estático, ela vai respondendo a evolução da cultura e da época. Entretanto, é um ato de amor e um grande desafio para os pais nos dias de hoje. Os adultos devem conhecer os direitos e privilégios dos filhos, como ter a mesma clareza de seus próprios deveres e responsabilidades. A disciplina tem como função principal fazer a criança aceitar as restrições necessárias e a obediência a uma autoridade justa. Portanto, se for muito restritiva ou demasiadamente elástica, torna-se indesejável. Para que ela seja adequada é necessário ser efetiva, quer dizer, a disciplina deve ser colocada com firmeza, delicadeza, razoabilidade e ser consistente. Uma educação com regras claras, ordem e limite nos permite sermos melhores pais, construir uma família mais harmoniosa e organizada evitando, entre outros, distúrbios de conduta em nossos filhos. Uma criança que aprenda a enfrentar com tolerância pequenas frustrações, que saiba lidar com a restrição, o enfrentamento e a superação estará reunindo recursos para desfrutar de mais e melhores momentos de felicidade. O segredo da infelicidade está justamente em ter tudo o que se quer.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

PENSO


Penso e repenso e penso outra vez.
Penso porque busco respostas.
Quisera não ter perguntas, ou
Apenas tê-las ao outro fazer.
Minhas dúvidas são minhas.
E as respostas? Não as tenho.
As certezas que já tive
(Hoje minhas questões)
Foram efêmeras, entristeceram-me,
E me puseram a pensar.

Penso porque ainda busco respostas,
Daquilo que ao outro
Não tenho a questionar.

Penso e repenso e penso outra vez
E tão somente dúvidas estou a encontrar.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

EU

Sei o que quero
Tanto quanto antes
Embora hoje
Diferente de ontem.




Elucubrações em uma sala de espera



São oito horas da manhã. Estou numa sala de espera do laboratório do hospital aguardando o retorno da minha mãe. Ela, minha linda e querida octogenária, faz exames perdida em alguma das infinitas saletas nas profundezas deste lugar. Eu, por minha vez, fiz meu exame de sangue em outro laboratório e, sendo o meu de procedimento mais simples, rapidamente me liberei. Por isso me encontro agora parada, pensando, sentindo, e pulsando. Estou feliz. Acredito que eu nasci para ser feliz. Essa é uma velha conclusão, mas não me canso de repetir: tenho plena convicção de que estou nesta vida para ser feliz, apesar de todo e qualquer pesar. E vamos lá, quantos infindos punhados e punhados de pesares já se interpuseram como obstáculos ao destino da minha felicidade?
A felicidade que saboreio hoje se deve ao fato de estar viva e de me sentir cheia de vida para viver, preenchida de amores, amigos, sonhos e desejos. E muita saúde. Apesar de estarmos em um hospital, cuidando do organismo e das suas limitações, estou atenta a minimizar os estragos do uso e do tempo e, preventivamente, mantendo o zelo pela vida.
Sei que sou uma jovem (é o espírito quem diz) senhora de meia idade (é a sociedade quem assim me classificou) privilegiada, mas procuro fazer a minha parte direitinha. Aprendi muito com meus incontáveis erros ao longo da existência.
A experiência me fez apreciar e comer praticamente de tudo. Hoje desfruto dos pratos bem coloridos que, além de serem bonitos, são recomendáveis. Faço várias refeições por dia, quase como sugerem os nutricionistas. A atividade física é indispensável no meu dia a dia. Escolhi um esporte para praticar sistematicamente, me aperfeiçoando nas técnicas e me desafiando e superando em marcas. Gosto da competição. Durmo as 8 horas que o meu corpo pede. Leio todos os dias para exercitar os neurônios; sou produtiva nos meus fazeres; e vivo da rotina que me organiza. Procuro evitar os comportamentos sabidamente de risco sem negligenciar a vida social ou afetiva. Adoro estar entre pessoas especiais que elejo serem minhas queridas.
Tenho motivos de sobra para ser feliz, não tenho? Isso não quer dizer que não levei algumas rasteiras da vida. Já sofri carências, abandonos, descasos, e diferentes formas de agressão e mau trato. Senti no corpo dores e doenças. Passei por privações. Sofri infinitamente por amores que mal me amaram e me desencantaram. Sepultei pessoas e sonhos.  Mas a tudo me foi possível reagir. E continuo aqui, vivinha, cheia de inspirações e completamente apaixonada pela vida. E ela, talvez em retribuição, continua a me presentear com amores, amigos, sonhos e desejos, além de muito boa saúde!
Permaneço na sala de espera aguardando pela minha mãe, feliz e de bem com a vida.


quinta-feira, 21 de julho de 2011

HOJE DE MANHÃ


Hoje de manhã tive vontade de escrever
Motivada pela musicalidade da chuva,
Do vento e dos pequenos trovões.
Ainda não saí da inércia,
Mas quem sabe?
O espírito encontra-se inspirado!

O presente abre-se às possibilidades:
O horizonte se constrói novo
Onde expando meu olhar.

Hoje de manhã tive vontade de cantar
Inserir mais uma voz no show dos sons
Na qual a natureza dá o tom e me chama à melodia.
Ainda não saí da inércia,
Mas quem sabe?
O espírito encontra-se revigorado!

O presente está aberto às possibilidades:
É diálogo construído novo
Onde afino a fala e minha escuta.

Hoje de manhã tive vontade de pintar
Reproduzir em cores o encanto do amanhecer
Com luzes, matizes, formas e sutilezas.
Ainda não saí da inércia,
Mas quem sabe?
O espírito encontra-se apaixonado!

O presente é repleto de futuro:
A vida renova-se na arte
Onde encontro genuína emoção.

Hoje de manhã tive vontade de amar!
Ainda não saí da inércia,
Mas quem sabe?
Olha, escuta:
Já pressinto o saltitar do meu coração!



AMIGO


O amigo do meu amigo
Disse que queria ser meu amigo
Mas amigo de amigo
 Já é meu amigo.
Então disse ao meu amigo
Que eu era amigo do seu amigo
Pelo simples fato dele ser amigo
Do meu amigo.
E, como já somos amigos
Ainda sem trocarmos palavras amigas
Convidei-o a uma conversa comigo
No grupo de amigos
Que se encontra no bar “Contigo antigo amigo”
Mesmo sendo ele o meu mais novo amigo.





sábado, 16 de julho de 2011

É ASSIM...



Balas açucaradas
Bolas amaciadas
Bombas amortecidas
Tombos amontoados
Pombos enegrecidos
Sorrisos
Gritos
Alívio
Silêncio!



terça-feira, 12 de julho de 2011

Ative a vida parando




O relógio desde sempre anda no seu compasso, minuto a minuto, hora após hora, ajudando cronometrar um tempo. O tempo caminha na mesma velocidade o tempo todo. Nós não. Estamos em constante processo de aceleração. Cada vez mais o velho ditado se torna referência do mundo: “quem menos corre, voa”. Há 50 anos as pessoas tinham bem menos papéis a desempenhar em suas vidas, e menos compromissos a cumprir do que hoje.
 Temos muito mais informações e elas se atualizam em velocidade maior que nossa capacidade de assimilação e retenção. Vivemos expostos à avalanche de estímulos visuais, auditivos e gustativos, confundindo os sentidos e dificultando nosso senso de discernimento quanto às prioridades. As crianças já nascem com agenda cheia, e antes da idade escolar já frequentaram curso de língua estrangeira, artes, música ou esportes, com direito às correrias, tensões e tudo mais do mundo adulto.
Parece que estamos sempre correndo atrás do relógio - as horas voando e nós ficando para trás. Mas o relógio esta lá, com seu jeitinho metódico e milenar, no seu ritmo, mesmo quando sua aparência e tecnologia se mostram modernizadas.
            O que mudou fomos nós e nossas urgências, nós e nossas máquinas de acelerar o mundo. Tudo num empenho para desfrutarmos das vantagens da vida. No entanto, nunca estivemos tão expostos às doenças emocionais como estresse, depressão, ansiedade, angustia, fobias e outras limitantes, identificadas com a cara da modernidade. Sem falar das dores e sofrimentos do corpo.
Hoje temos mais cinemas, mais restaurantes, mais danceterias, mais cultura, mais amores, mais sexo, mais produtos de consumo, mais anos de vida, mais recursos para a saúde e a beleza. Temos mais de tudo e desfrutamos “de menos” deste “a mais” disponível. Queremos tudo, mas o tempo é restritivo. Beijamos muitas bocas, mas não temos tempo para amar. Fazemos filhos, mas não temos tempo para cuidá-los. Engolimos a comida sem degustar os alimentos porque não temos tempo a perder. Transamos três vezes por semana porque não sabemos o que é o prazer e, por via das dúvidas, a gente faz sexo dentro da média. Corremos 150 km/h na autoestrada porque temos que chegar logo, mesmo que não saibamos por quê.
É preciso fazer diferente, merecemos isso! Não precisamos pedir para o mundo parar e descer dele em busca de uma vida mais viva. Não é o mundo que tem que parar. Somos nós que precisamos descobrir onde está o sentido das coisas. Parar para apreciar o gosto, para arrepiar a pele, para ouvir o silêncio. Parar para tratar as dores do corpo ou da emoção. Parar para enxergar a si e ao outro.
            Parar é terapêutico, é preventivo, é saudável, é criativo. Parar é bom demais! Experimente parar com a comida na boca, parar o olhar numa cena do cotidiano, parar seu corpo sobre o corpo de seu bem querer, parar o pensamento no ar. Simplesmente parar para a vida voltar a andar. Deixe seguir o tempo do relógio e sinta o tempo da vida que pulsa em cada um de nós. Ela lhe agradecerá.


domingo, 10 de julho de 2011

LÁGRIMA DANADA



Última lágrima já rolou
E atrás dela outra
Insiste em derramar.
Que desacato, já dei o ultimato
E mais uma lágrima insiste
Em desobedecer, e a me enfrentar?

A danada segue certo o caminho
Já trilhado pelas irmãs.
Tão bobinha, perdendo-se
No rio de lágrimas a desaguar
E sumir na palma da minha mão.

Fazer o quê para a lágrima conter?
Nem sei se é dor ou se vício
O chorar incessante 
Em que temo me afogar.

Apenas sei que meu pranto
Desrespeita meu mando,
Que me vejo tão sem comando
Diante da última lágrima que ousa
Afrontar-me. Derreter-se.
E esvaziar-me.

Ah, lágrima danada, que não me deixa!
É a saudade que cantas em minhas faces?
Sei, queres que eu chame aquele homem,
Que lhe aceite o jeito e a ajuda.
Queres que ele venha estancar a saudade
Feita em corredeiras sem fim.
Ah, lágrima danada, sei que paras
De me atormentar, se eu a ele for chamar.


sexta-feira, 8 de julho de 2011

A M O R



                                                                          Jerusalém - maio 2011

HOJE

 rosahelena


O tempo quebrou
Estilhaçou:
Dias?Meses?
Anos?
Qual a parte do tempo
Sobrou?
Ontem eu perdi,
Amanhã nunca meu será.
O depois do ontem,
E o antes do amanhã...
- Hoje?
Partido em horas começou
Em minutos partindo
Continuou.
Hoje:
Seqüência do tempo
Mal criado, fugidio.
Fragmentos
Costurados como retalhos,
Dilacerado tempo
Alinhado.
Qual o tempo me sobrou?
Hoje,
E mais um,
E talvez muitos outros.

 

O tempo se partiu
E nele partirei eu.
Mas antes quero te encontrar.
Reencontrar? Hoje?