O relógio desde sempre anda no seu compasso, minuto a minuto, hora após hora, ajudando cronometrar um tempo. O tempo caminha na mesma velocidade o tempo todo. Nós não. Estamos em constante processo de aceleração. Cada vez mais o velho ditado se torna referência do mundo: “quem menos corre, voa”. Há 50 anos as pessoas tinham bem menos papéis a desempenhar em suas vidas, e menos compromissos a cumprir do que hoje.
Temos muito mais informações e elas se atualizam em velocidade maior que nossa capacidade de assimilação e retenção. Vivemos expostos à avalanche de estímulos visuais, auditivos e gustativos, confundindo os sentidos e dificultando nosso senso de discernimento quanto às prioridades. As crianças já nascem com agenda cheia, e antes da idade escolar já frequentaram curso de língua estrangeira, artes, música ou esportes, com direito às correrias, tensões e tudo mais do mundo adulto.
Parece que estamos sempre correndo atrás do relógio - as horas voando e nós ficando para trás. Mas o relógio esta lá, com seu jeitinho metódico e milenar, no seu ritmo, mesmo quando sua aparência e tecnologia se mostram modernizadas.
O que mudou fomos nós e nossas urgências, nós e nossas máquinas de acelerar o mundo. Tudo num empenho para desfrutarmos das vantagens da vida. No entanto, nunca estivemos tão expostos às doenças emocionais como estresse, depressão, ansiedade, angustia, fobias e outras limitantes, identificadas com a cara da modernidade. Sem falar das dores e sofrimentos do corpo.
Hoje temos mais cinemas, mais restaurantes, mais danceterias, mais cultura, mais amores, mais sexo, mais produtos de consumo, mais anos de vida, mais recursos para a saúde e a beleza. Temos mais de tudo e desfrutamos “de menos” deste “a mais” disponível. Queremos tudo, mas o tempo é restritivo. Beijamos muitas bocas, mas não temos tempo para amar. Fazemos filhos, mas não temos tempo para cuidá-los. Engolimos a comida sem degustar os alimentos porque não temos tempo a perder. Transamos três vezes por semana porque não sabemos o que é o prazer e, por via das dúvidas, a gente faz sexo dentro da média. Corremos 150 km/h na autoestrada porque temos que chegar logo, mesmo que não saibamos por quê.
É preciso fazer diferente, merecemos isso! Não precisamos pedir para o mundo parar e descer dele em busca de uma vida mais viva. Não é o mundo que tem que parar. Somos nós que precisamos descobrir onde está o sentido das coisas. Parar para apreciar o gosto, para arrepiar a pele, para ouvir o silêncio. Parar para tratar as dores do corpo ou da emoção. Parar para enxergar a si e ao outro.
Parar é terapêutico, é preventivo, é saudável, é criativo. Parar é bom demais! Experimente parar com a comida na boca, parar o olhar numa cena do cotidiano, parar seu corpo sobre o corpo de seu bem querer, parar o pensamento no ar. Simplesmente parar para a vida voltar a andar. Deixe seguir o tempo do relógio e sinta o tempo da vida que pulsa em cada um de nós. Ela lhe agradecerá.