Contas e mais contas amontoam-se sobre a escrivaninha. Quando consigo eliminá-las, uma a uma, começa tudo de novo. Ai que suplício! Tormento maior é quando o correio não entrega algum boleto, e eu não lembro que a conta existe (meu senso de organização é dos mais precários), ainda tenho que pagar com multa, juros e tudo mais. É muito ruim.
Meus filhos me ensinaram a usar planilha, fazer planejamento e organizar as finanças, mas quando vejo o caos se instala novamente, e nada funciona como deveria. Consegui evoluir em vários aspectos da vida, porém costumo andar derrapando nas questões das finanças. Será que neste quesito sou incapaz de melhorar?
Enquanto estive casada coube ao marido zelar pela organização financeira do lar, visto que eu tinha muitas atribuições com a casa, com os filhos e o trabalho. Diante da separação obrigatoriamente assumi a administração geral da vida, inclusive deste tão complexo item para mim.
Desde os primeiros dias de separada, fui cumprindo com os meus deveres sem muito pensar. Corria com os filhos para a escola e às atividades extras, corria ao trabalho, corria ao supermercado e banco, e a suprir todas as necessidades da família. Corria para tudo e o tempo todo.
Num daqueles dias, voando de cá para lá ou no sentido inverso, recebi o telefonema do gerente da minha conta bancária. Efetivamente não o conhecia, nunca havia pensado ter assunto com o gerente do banco, menos ainda naquele momento atribulado. Ele foi objetivo:
- Dona Helena? A sua conta excedeu o limite em R$ 2.100,00. A senhora deve repor essa importância até às 16 horas para evitar maiores complicações.
Levei um susto. Já eram 13 horas. Como isso aconteceu? Como levantar essa importância em menos de 3 horas? Para quem pedir, assim, de uma hora para outra, esse dinheiro todo? Entrei em pânico. Desmarquei meus compromissos até o meio da tarde e, mais uma vez, saí correndo mundo afora a conseguir tal quantia, que nessas alturas, nem sabia mais qual era o valor, apenas lembrava que era bastante dinheiro para buscar tão de repente.
Telefonei a irmãos e pais, fracionei o montante da dívida, e cada um contribuiu com o quanto dispunha no momento. Cheguei esbaforida no banco 2 horas depois. Aguardei a vez de falar com o gerente em pleno e único estado de ansiedade. Não demorou, e eu estava sentada à frente de um senhor que eu nunca tinha visto antes, em um canto do banco, e com um monte de dinheiro espalhado sobre a mesa do homem, entre notas e cheque. Foi exatamente neste momento que, sem mais nem menos, desabei em choro. Totalmente fora do script.
O gerente olhou-me com empatia, juntou o dinheiro e contou-o. Depois disse:
- Fique calma, vou ajudá-la. A senhora trouxe quase o dobro do dinheiro que precisava. O que aconteceu? Por que chorou?
Que vergonha! O desespero fez-me levar muito mais dinheiro do que faltava. A tensão foi tão grande que acabei chorando como criança diante daquele homem desconhecido. Sequei minhas lágrimas. Sentindo-me aliviada, contei sucintamente que havia me separado há pouco, que me encontrava desorganizada e não conseguia administrar meu dinheiro, que vinha sobrecarregada com tanta nova incumbência, e que tudo isso deveria ser passageiro.
- Eu vou cuidar da sua conta; se quiser posso ensinar como administrar o seu dinheiro. Fique tranquila. Daqui para frente tudo vai ficar bem.
E foi o que aconteceu. O gerente passou a dar atenção à minha conta e me orientar ao básico da movimentação bancária. E o melhor de tudo: ganhei um bom e querido amigo. Sempre que podia, eu ia ao banco tomar um cafezinho com o gerente e conversar de tudo um pouco, até sobre como aplicar meu dinheiro, o que logo passei a fazer. Enquanto o bondoso homem foi o gerente daquela agência bancária, minha conta funcionou com êxito. Lamentavelmente, quando ele se aposentou, devagar fui perdendo meus importantes aprendizados. Mas, creio que o mínimo dos básicos eu ainda preserve, pois nunca mais estourei minha conta. Sim, eu sei, isso é muito pouco!
A verdade é que a minha organização financeira sempre andou a remo; com supervisão até arrisquei alguns passos, mas sozinha estagnei. Assim sendo, hoje continuo enredada com a pilha de pagamentos, prazos, datas, boletos e saldos. Não consigo competência nessa seara. Mesmo assim, sou feliz: invisto em amizades. Os amigos incessantemente obtêm de mim o melhor, sem reservas. Aqui sei que sou competente. E no somatório das contas, tenho certeza, eu fico com o lucro maior. Amizade não tem quem pague; é bem que não tem preço!