Final da tarde.
Sol de verão ainda alto no céu.
Uma praça em meio à cidade com alguns poucos
passantes a cruzá-la, com pressa, sem nem ao menos enxergá-la.
E aquele imenso gramado verdejante me puxando
e sugando ao seu abraço.
Eu estava ali parado, sentando em um
banco no centro de tudo, ou seria a um canto de tudo? Enfim, eu estava ali sem
saber por que ou porque não. Mas estava ali. Seduzido pelo verde, ah sim, eu estava;
e esvaziado de pensamentos.
De repente uma brisa soprou suave e me
atingiu como um furacão e, sem entender, me vi deitado sobre o gramado macio de
olhos postos no céu, agora, completamente hipnotizado pelo azul anil salpicado
de fiapos esbranquiçados e esgarçados de discretas nuvens a passeio.
O tempo parou, ou passou sem que eu o percebesse,
não sei ao certo, essas coisas são tão parecidas. Fato é que eu vi diante da minha
inércia, um pequeno ponto escuro a crescer e a tornar-se enorme buraco negro no
céu. Medo e pavor foram os sentimentos primeiros. Tentei me levantar, ir
embora, fugir, mas estava aderido e confundido ao gramado. Raízes me integravam
ao solo? Um buraco crescendo a engolir tudo no alto do mundo. Sem fundo. Imensidão.
Sem encontrar recursos para ação - será
que procurei bem? Relaxei. Acreditei que desta vez eu morreria. Ou? Pois não
doía. Descobriria um grande segredo do universo ou da vida. Excitei-me a essa
ideia, mas percebendo-me paralisado, tentei colocar-me oco de expectativas, afinal, entendi ser o mais sensato à ocasião. Será que eu estaria tendo um AVC? Por
que um AVC? Porém o buraco negro avançava e cutucava minhas fantasias. Como
seria ser engolido pela escuridão? Será que dela ressurgiria o azul a crescer e
crescer em luz até apagar o escuro plenamente, num ciclo permanente de virar e
desvirar-se do avesso? Um AVC? O que tem a ver “alhos com bugalhos”?
Sempre de olhos bem abertos na espreita
do por vir, em dado instante percebi rostos a me olharem do alto e vozes
diferentes a falarem comigo. “Senhor? O senhor está sentindo-se bem?” “Precisa
de ajuda?” “Por favor, responda, o senhor caiu ou foi assaltado? Se machucou? Como
se chama?” Olhei incrédulo àqueles seres inconvenientes a me roubarem do
momento mágico no qual estava imerso, exatamente quando eu descobriria
o ponto do recomeço ou o inexorável fim de tudo. “O senhor está bem?”
“Sim, sim, estou bem.” Recusando-me receber a ajuda que meus cabelos brancos pareciam pedir, sentei-me na grama desajeitadamente devagar, me pus de joelhos, e escorando em mim mesmo com as mãos fui me
levantando até erguer-me totalmente. Para alegria daqueles estranhos seres
estranhos, fiquei de pé a semelhança deles. “O senhor quer que façamos contato
com algum familiar? Que alguém venha lhe buscar?” “O senhor sofre de algum mal?”
“Nenhum mal, nenhum mal, simplesmente estou
amando. Sim, por favor, chamem a minha amada para me salvar. Ou não, não
precisa, irei até ela agora. Vou contar a ela... foi tão interessante.” E
caminhando em direção à rua, fui me afastando do pequeno grupo de pessoas
preocupadas, que me seguiam com olhos desconfiados, a duvidarem da sanidade
deste velho homem apaixonado. O amor faz a gente ficar bobo e louco. E feliz. E
criativo e colorido e... Ah, como é bom. O amor, o amor.