domingo, 16 de fevereiro de 2014

Rebuliço no início das aulas dos alunos do último ano


A juventude é inquieta.
A inquietação do jovem representa a renovação da sociedade. Infinitas vezes, a inquietude pulsante no jovem é criatividade pura. É beleza e alegria. Mas... Essa agitação, explodindo no corpo e nas ideias de nossos jovens, igualmente pode se expressar como experiência desnorteada e desintegradora.
A inquietação juvenil não quer contar com a experiência restritiva de outra pessoa, menos ainda se for de um adulto, aos seus olhos, um ser antigo e retrógrado e incapaz de compreensão. É comum que os jovens neguem a voz de ajuda de quem conhece um pouco mais da vida. O bom senso é chato e intragável, não tem nada que ver com o momento deles. Não é hora, eles não querem pensar nem refletir, estão ansiosos por fazer. Aterrorizar? Também.
Os jovens buscam a autoafirmação e o fazem no grupo de iguais. Com o grupo sentem-se fortes, poderosos, onipotentes. No grupo, e diante de determinadas ocasiões, para assegurar a frágil grandeza e a consagração de novas conquistas, parece imprescindível inferiorizar a figura do outro, sempre um ser menor ou mais fraco, humilhando-o com comportamentos de toda ordem. Os jovens não são maus, não querem magoar nem machucar, mas, lamentavelmente, esse é um caminho fácil, e equivocado, para conferir a si algum valor. Depois sentirão e sofrerão se algo der errado, mas só depois, e apenas se houver algum dano maior. Nossos jovens arriscam-se ao máximo de gravidade sem qualquer discernimento, expondo os próprios iguais a semelhantes riscos.
Não é fácil ser pai e mãe e professor na conjuntura atual. E eu me pergunto: o que fazer com essas ricas criaturas vulcânicas, bombas coloridas que tanto podem enfeitar nosso mundo e dias quanto aniquilar tudo a volta, inclusive a eles mesmos?
Nesta segunda-feira inicia mais um ano letivo. Muitos pais, além da equipe de profissionais do colégio, estão apreensivos com as manifestações de inquietação e rebeldia dos alunos do terceiro ano do ensino médio. A gurizada incontida, já se organizando em grupos, anuncia pelas redes sociais as possíveis traquinagens inconsequentes que idealizam. Com a propagação das intenções, os jovens gritam por contenção às futuras manifestações. Exigem nosso olhar sobre eles e compreensão ao momento de emoções tumultuadas pelo qual passam. E, de forma atravessada, pedem que os ajudemos a redirecionar suas ações impulsivas, transgressivas, inquietas e confusamente criativas, para algo tão gratificante em aventura quanto às estripulias ensejadas, mas, quem sabe, mais saudáveis.
Neste momento, o nosso jovem necessita da presença madura de seus pais orientando com firmeza, coerência e afeto. Precisa de contenção (não de repressão) estabelecida pelo conhecimento reconhecimento e respeito aos limites sociais, vislumbrando sua integridade, das pessoas de seu convívio, e do meio em que vive. Deve ser alertado aos prejuízos pessoais e legais que se expõe diante dos excessos e transgressões sociais. E, acima de tudo, o nosso jovem necessita encontrar caminho para liberar suas efervescências turbulentas e expandir-se - sem lesar! Ele precisa agir e aprontar, surpreender, inovar, ir além. Quem sabe se nós, pais e professores em ação conjunta, o desafiarmos ao movimento e à inventividade dirigida? Algo em que ele possa extravasar suas tensões, e encontrar a autoafirmação associada a própria superação?
Paz é o que o nosso jovem não quer, e bem da verdade, tem pouco a oferecer. O jogo da vida pede um jogo adequado aos jovens, um jogo rápido, dinâmico, transcendente, que permita suas peripécias e os provoquem a crescer como indivíduos, e que os possibilitem seguros, mesmo na dilatação dos limites. Um jogo com a cara deles, porém com a supervisão de quem sabe um pouco mais da vida, e valoriza a juventude em sua energia. Um jogo! Um grande jogo.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Preciso conversar com o chefe

Será que meu chefe pensa que eu só penso se ele ajudar o meu pensamento, emprestando a mim um ou outro dos seus próprios neurônios?
Como será que devo explicar a ele que meus neurônios trabalhadores são bem produtivos porque muito cooperativos entre si, apesar de poucos para executarem as tarefas de trabalho? Sim, são poucos os trabalhadores porque a maioria dos meus neurônios adora e está sempre a viajar por fantasias e imaginação sem fim, quando não estão puramente jogados de papo para o ar curtindo a mágica sensação da inércia. Mesmo com essa folga toda, verdade seja dita, meus pensamentos rendem com o perfeito entrosamento das poucas duplas de neurônios, agindo sempre em equipe inter e multidisciplinar. Submeter-se ao comando de outros neurônios que nem sabem trabalhar direito em grupo?
Chefe veja só, eu consigo, e bem sozinho, encontrar soluções para problemas, agir preventivamente diante de complicações futuras, descobrir e abrir novas perspectivas, inclusive, definindo metas e tomando decisões. E melhor que tudo, acertadamente. Sei, mas falhar é humano, e, convenhamos, falhei tão pouco nas minhas atribuições intelectuais que, por vezes, me sinto quase um extraterrestre.
Pode parecer presunção da minha parte, mas faça uma retrospectiva comigo, apesar das eventuais derrapadas, nunca tivemos prejuízos quando meus neurônios agiram sem os seus, e eu decidi com atitudes plenamente razoáveis. Então, chefinho, façamos acordo. O senhor manda e eu cumpro as suas ordens, mas como um ser pensante que sou - não me subestime. Meu filho já me disse, por isso sei de convicção, de bobo eu só tenho a cara e o jeito de andar. Mais nada.