A juventude é
inquieta.
A inquietação do
jovem representa a renovação da sociedade. Infinitas vezes, a inquietude
pulsante no jovem é criatividade pura. É beleza e alegria. Mas... Essa
agitação, explodindo no corpo e nas ideias de nossos jovens, igualmente pode se
expressar como experiência desnorteada e desintegradora.
A inquietação
juvenil não quer contar com a experiência restritiva de outra pessoa, menos
ainda se for de um adulto, aos seus olhos, um ser antigo e retrógrado e incapaz
de compreensão. É comum que os jovens neguem a voz de ajuda de quem conhece um
pouco mais da vida. O bom senso é chato e intragável, não tem nada que ver com
o momento deles. Não é hora, eles não querem pensar nem refletir, estão
ansiosos por fazer. Aterrorizar? Também.
Os jovens buscam
a autoafirmação e o fazem no grupo de iguais. Com o grupo sentem-se fortes,
poderosos, onipotentes. No grupo, e diante de determinadas ocasiões, para
assegurar a frágil grandeza e a consagração de novas conquistas, parece
imprescindível inferiorizar a figura do outro, sempre um ser menor ou mais
fraco, humilhando-o com comportamentos de toda ordem. Os jovens não são maus,
não querem magoar nem machucar, mas, lamentavelmente, esse é um caminho fácil,
e equivocado, para conferir a si algum valor. Depois sentirão e sofrerão se
algo der errado, mas só depois, e apenas se houver algum dano maior. Nossos
jovens arriscam-se ao máximo de gravidade sem qualquer discernimento, expondo
os próprios iguais a semelhantes riscos.
Não é fácil ser
pai e mãe e professor na conjuntura atual. E eu me pergunto: o que fazer com
essas ricas criaturas vulcânicas, bombas coloridas que tanto podem enfeitar
nosso mundo e dias quanto aniquilar tudo a volta, inclusive a eles mesmos?
Nesta
segunda-feira inicia mais um ano letivo. Muitos pais, além da equipe de
profissionais do colégio, estão apreensivos com as manifestações de inquietação
e rebeldia dos alunos do terceiro ano do ensino médio. A gurizada incontida, já
se organizando em grupos, anuncia pelas redes sociais as possíveis traquinagens
inconsequentes que idealizam. Com a propagação das intenções, os jovens gritam
por contenção às futuras manifestações. Exigem nosso olhar sobre eles e
compreensão ao momento de emoções tumultuadas pelo qual passam. E, de forma
atravessada, pedem que os ajudemos a redirecionar suas ações impulsivas,
transgressivas, inquietas e confusamente criativas, para algo tão gratificante
em aventura quanto às estripulias ensejadas, mas, quem sabe, mais saudáveis.
Neste momento, o
nosso jovem necessita da presença madura de seus pais orientando com firmeza,
coerência e afeto. Precisa de contenção (não de repressão) estabelecida pelo
conhecimento reconhecimento e respeito aos limites sociais, vislumbrando sua
integridade, das pessoas de seu convívio, e do meio em que vive. Deve ser
alertado aos prejuízos pessoais e legais que se expõe diante dos excessos e
transgressões sociais. E, acima de tudo, o nosso jovem necessita encontrar
caminho para liberar suas efervescências turbulentas e expandir-se - sem lesar!
Ele precisa agir e aprontar, surpreender, inovar, ir além. Quem sabe se nós,
pais e professores em ação conjunta, o desafiarmos ao movimento e à
inventividade dirigida? Algo em que ele possa extravasar suas tensões, e
encontrar a autoafirmação associada a própria superação?
Paz é o que o
nosso jovem não quer, e bem da verdade, tem pouco a oferecer. O jogo da vida
pede um jogo adequado aos jovens, um jogo rápido, dinâmico, transcendente, que
permita suas peripécias e os provoquem a crescer como indivíduos, e que os
possibilitem seguros, mesmo na dilatação dos limites. Um jogo com a cara deles, porém
com a supervisão de quem
sabe um pouco mais da vida, e valoriza a juventude em sua energia. Um jogo!
Um grande jogo.