Entramos
no restaurante. Enquanto fui sentar à mesa para guardar lugar, Elenara dirigiu-se
à mesa do bufê. Ao olhar na direção dos alimentos, vi minha amiga sendo envolvida
por braços fortes e grandes em um longo apertado e caloroso abraço. Elenara
colada ao corpanzil de uma enorme mulher ficou completamente sumida. Quando
liberta da sufocante manifestação de afeto, meio amassada, com os óculos
desalinhados e ar de surpresa expressos nos olhos arregalados, lá estava
Elenara estaqueada diante da outra. Pensei comigo: “Veja só, sempre Elenara e o
seu grande círculo de amizades!” De longe eu percebia a animação da grandalhona
a gesticular e falar e a soltar largas risadas. No entanto, Elenara mal
balbuciava palavra, sem sorriso nem qualquer descontração. Cena insólita para
quem a conhece.
A imagem
permanecia a mesma no transcorrer de minutos, até que se desenhou o momento da
despedida. Mais uma laçada e um grande abraço suavizado por dois beijinhos, um
em cada face. Elenara, ao invés de se dirigir à comida, voltou-se na direção da
nossa mesa. A cara estava murcha e os braços caídos, soltos ao lado do corpo.
Sentou-se. Discretamente começou a sorrir. Logo a rir mais animadamente, até
cair na mais desatada gargalhada. Quis me contar a história, mas não conseguia
iniciá-la, faltava-lhe o ar. Enfim, recomposta e em voz sussurrante me contou.
- Tu
viste? Aquela mulher que conversava comigo? Ela me rendeu em um só golpe de luta e
se atirou a falar, quase me levando a nocaute. Comentou sobre o tempo que não
nos víamos, da saudade daqueles bons tempos e da sua imensa satisfação pelo
nosso reencontro. Falou-me da filha e da
sua evolução nos esportes. Perguntou sobre a minha, se continuava na ginástica,
e.
- Mas a
tua filha faz ou fez ginástica?
- Eu
disse à mulher que a minha filha estava na natação, e ela adorou saber da
novidade. Aí perguntou apressadamente se não era a minha neta que fazia ginástica.
Ainda por cima, ela me chamou de velha! Nem pude responder, pois emendando um
assunto em outro logo comentou que eu fiquei super bem com esses óculos, e que eu
estou ótima. Eu ia falar e ela rapidamente contou que anda sobrecarregada com tanto
trabalho. Aí, mais que ligeira, perguntei o que ela estava fazendo, numa
tentativa desesperada de identificá-la, pois nada me fazia lembrar aquela
mulher. E o comentário foi que continua fazendo a mesma coisa de sempre. Não
adiantou nada, fiquei na mesma!
- E, afinal,
descobriu quem era a amiga?
- Eu
tentei, te juro que fiz imenso esforço para achar algo que nos ligasse, mas
nada, absolutamente não tenho nenhum mínimo registro sobre quem é aquela
criatura. A conclusão é que eu nunca a vi e em lugar algum, tão pouco, sei quem
é a filha dela. Não tenho ideia no que trabalha ou porque veio a este
restaurante, menos ainda com quem possa ter me confundido. Eu definitivamente
não a conheço. Só que não consegui dizer isso a ela, a mulher estava tão alegre
com o nosso encontro, inclusive declarou efusivo apreço por mim, que eu
não poderia decepcioná-la, de jeito algum.
-
Ganhaste amiga nova, hem? Isso não é para quem quer, é só para quem pode. Oh,
Elenara, sempre tão popular!
- É... Mas te
confesso, fiquei com medo da mulher me esmagar e quebrar todos os meus ossinhos
com aqueles abraços de ursa. É sério, ia pedir socorro, mas ela fugiu em tempo.