quinta-feira, 28 de junho de 2012

CINZA



Noite dormida. Completa!

Acordei sonolenta, o dia estava cinza.

Em redor muitos tons de cinza espalhados

Nos lençóis, roupas, quadros e paredes.

Através da janela o sol e o vento estavam cinza.

E eu vi minha cinza imagem no espelho.

Sobressaltada e oprimida pelo invasivo cinza

Voltei à cama, fechei os olhos. Cinza!

Apertei e esfreguei e retornei abrir os olhos:

De novo cinza. Cobri a cabeça, tentei dormir,

E os pensamentos ficaram cinza.

Gritei horrorizada e o grito saiu em cinza.

Tive medo, me encolhi, e chorei.

Abraçada às pernas, cabeça sobre os joelhos,

Chorei, solucei, engasguei, quase desmaiei.

Gastei as lágrimas, perdi o fôlego, me exauri.

Abandonada, ali caída e inerte fiquei.  E fiquei!

Lentamente espiei por uma frestinha do olhar

Enxerguei matizes do cinza escorridos,

Lambuzados sobre a imagem chapada da vida

Da minha vida. E, por de trás dos borrões,

 Havia luz! Muitos fachos de luz. Eu vi!

Foi aí que eu acordei para valer.




segunda-feira, 25 de junho de 2012

SE





Se conselho fosse bom


Teriam me cobrado.


Eu ganhei um conselho


E ele não foi pago,


Foi presente bem dado.





Segui o conselho e olhei


Olhos bem abertos para mim


Dentro mundo sem fundo


Agitado e vermelho e vivo sim


Ouro-doce feito quindim.





Perdida no retumbar oco


Coração ditando flamante,


A solidão em polvorosa


O eu em convulsão dilacerante.


Conselho desconcertante!





Vi meus paralelos e meridianos


Vivi o abandono e a multidão


Senti futuro desejoso de passado.


Multiplicação de célula e de perdão


Lágrima regozija: ressentimento não!





Se conselho fosse


Tão presente


Ah, bom pagante...











segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sexo X Sexo



Adoro brincar com as letras e com elas formar palavras; escrever palavras em busca da construção das frases. Adoro formar frases e dar sentido às ideias, e no transcorrer de frases e parágrafos concluir um texto interessante. Adoro escrever, mesmo quando não sei bem sobre qual direção rumarei.


Estou diante da tela do computador branquinha como neve, as mãos a postos e as ideias sem aterrissarem. Será que hoje escreverei uma poesia? Uma crônica? Ou darei minha opinião? Deter-me sobre qual assunto? Faz tanto tempo que não falo sobre sexualidade, bem que hoje eu poderia falar sobre desejo, excitação, orgasmo. Mas as revistas femininas abusam deste tema: mostram, comentam e ensinam inclusive aquilo que é improvável ou impossível.


Sexo. Assunto desgastado, mas sempre em pauta. O que ainda precisamos saber ou desenvolver ou experimentar em relação à sexualidade? O que posso eu dizer que todos os especialistas e os meios de comunicação já não exploraram sob todos os ângulos e lados, até do avesso? O sexo trata da intimidade e dela temos sempre alguma curiosidade.


Decidido, escreverei um texto de opinião, e o farei em relação ao sexo. Não tratarei de novidade, mas pensarei ideias através da escrita e as compartilharei. E a isso, eu curtirei.


Conectada aos esportes, e atenta aos comentários esportivos, quando dei por mim estava fazendo associações. Entre as quais pensei: esporte de alto rendimento, sexo de alto rendimento; esporte recreativo, sexo recreativo. Essa combinação ficou me cutucando: isso faz algum sentido!


O esporte de alto rendimento procura atingir um nível de desempenho ótimo, pois tem seu foco em resultados, isso quer dizer, em vitória. Não sempre, mas em várias situações, nem que seja ao custo de vitimar o corpo tornando-o alheio ao próprio indivíduo. O individualismo exacerbado decorrente e a vitória a qualquer custo podem transformar a pessoa em máquina, e negar a própria concepção do “esporte é saúde”.


O sexo de alto rendimento seria, por associação, pois o conceito inexiste, aquele que procura o desempenho, isso quer dizer, que o principal é a vitória do orgasmo, e de preferência do orgasmo múltiplo, aquele passível de ser comentado e vangloriado, ou até, ser incluído ao livro dos recordes. O que importa é realizar o roteiro certo, com movimentos e tempo calculados ao sucesso do desfecho. O afeto e o lúdico podem prejudicar o resultado e vulnerar o indivíduo. E o individualismo, como o orgasmo a qualquer custo,  transformar a pessoa em máquina  negando a concepção do “sexo é prazer”.


E o esporte recreativo... E o sexo recreativo?


Aqui eu paro e faço um convite: participa comigo desta aventura de palavras, frases e ideias? Seguindo os teus pensamentos e fazendo tuas próprias reflexões e associações, conclui esse texto comigo?




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"A volúpia corporal é uma vivência dos sentidos, não difere do simples olhar ou da pura sensação de água na boca causada pou uma fruta; ela é uma grande experiência, infinita, que nos é dada, um saber do mundo, a plenitude e o brilho de todo saber."
....

"Assim, aqueles que se juntam durante as noites e se entrelaçam em uma volúpia agitada fazem um trabalho sério, reúnem doçuras, profundidade e força para a canção de algum poeta vindouro que surgirá para expressar deleites indizíveis."

Rainer Maria Rilke, em "Cartas a um jovem poeta"







terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia dos namorados




Flores, caixa de bombom, cartão e palavras doces ao pé do ouvido. Nem precisa mais.  Sim, chegou a hora dos namorados darem uma paradinha para curtirem o brilho do amor e a fragrância do romance. Namorados de início de viagem ou de longa caminhada. É dia dos enamorados.

A pressão dos compromissos, a urgência das conquistas, o ritmo acelerado da vida, e o temporal de exigências sobre nós, frequentemente tornam insensíveis nossos mais belos sentimentos, nos fazem menos dedicados às nossas escolhas do coração. No entanto, sabemos ser especial e gostoso estar apaixonado.  É necessário abrir um espaço entre as infindáveis obrigações para exercitar a cumplicidade do olhar e explorar a emoção de reassegurar o afeto ao nosso bem querer. E neste anunciado rigoroso inverno, é recomendável aquecer a alma com as brincadeiras descomprometidas dos corpos.

É dia dos namorados. Bem que todos os dias deveriam ser dia dos namorados. Como não é assim que funciona, pelo menos temos um dia, definido em calendário, que ao brindar o amor também podemos nos retratar das nossas impertinências e cobranças, assim como desculpar nosso ser amado por alguma falta de paciência e de tempo.  Um sorriso sincero, o entrelaçar de dedos em afetuoso carinho, e uma conversa solta sobre coisa alguma são pequenos gestos que rendem harmonização do casal para acordos, retomadas, ou novos projetos.

Namorar é fácil. Porém, entender-se ao longo do tempo e pela vida afora com o mesmo parceiro de namoro, nem sempre é tão simples assim. O relacionamento de um casal implica em ajustes permanentes, concessões de parte a parte, tolerância às limitações do parceiro, e muitíssimo diálogo, algo imprescindível à qualidade e longevidade de qualquer entendimento.  Além disso, a relação amorosa exige respeito e uma enorme admiração de um pelo outro.  Nem todos sabem, mas amor se nutre de admiração.

 Hoje, mais do que nunca, o relacionamento entre duas pessoas conclama que ambas  existam em individualidade, autonomia e independência. E sem que nenhuma deixe a si própria em segundo plano em relação à outra. Grande e difícil desafio: não submeter nem ficar submetido. O namoro propõe parceria com trocas e aliança. E o relacionamento evolui quando os amantes podem se buscar e se fundir formando um, o casal; e depois podem se distanciar na direção de si mesmo, fortalecendo o ser único de cada um, o próprio eu.

É dia dos namorados, atenção, nossa felicidade não está na mão do ser amado. A felicidade está nos movimentos de um, dos dois, do entorno, das circunstâncias, do destino, das conspirações. Responsabilizar o outro por algo tão nosso é se trair diante da indescritível satisfação de ser, e simplesmente amar.

 E se, neste momento, o seu eu não estiver enamorado por alguém especial, vai aí uma dica: deixe-se enamorar pela vida e levante um brinde, com gosto, aos outros muitos afetos e parcerias de percurso. O amor surpreende - quando e onde menos se espera!


sexta-feira, 8 de junho de 2012

Amigos queridos...


...antes tarde do que nunca eu agradeço as manifestações de carinho pelo meu aniversário.

A idade alcançada hoje não existia no imaginário de quando éramos crianças e adolescentes ao olharmos em diração ao nosso próprio futuro. Os cinquenta ou sessenta anos estavam tão distantes de nós que, mesmo se quiséssemos, seria difícil nos projetar a eles. Porém, diante da aritmética da vida, cada dia que adiciono à minha existência, mesmo sem fazer os nove fora ou dividir as tristezas à metade, parece que sou mais feliz. E isso não é lorota, não.

Hoje tenho discernimento para ver os milhões de erros cometidos e consciência para saber que grande parte deles eu não farei novamente. Sinto-me mais segura, mais esperta, mais calma, mais entregue, muito mais para mim. Estou aprendendo a viver desde aquele tempo, mas no presente sou aluna melhor aplicada. E por já dominar um pouco da arte de viver, consigo até dar dicas e ensinar sobre o já absorvido com pertinência. E paciência.

O melhor de tudo, descobri que eu adoro estar rodeada por amigos: os amigos de longa data; os amigos de passagem; os amigos que se expressam; os amigos que nada dizem, mas sei serem amigos; os amigos que nem são tão amigos e mesmo assim são amigos... Antes eu pensava-me satisfeita de ficar sozinha, agora tenho certeza que minha vida só tem sentido porque estou rodeada de pessoas significativas. E nem por isso abro mão de ficar comigo também, eu confesso, tenho uma cumplicidade única comigo mesma.

Obrigada a todos os amigos pela lembrança, atenção e carinho; obrigada pela amizade e pela referência de amigo que são. Sei que terei amigos para sempre, e isso é minha maior e melhor conquista. Cada amigo tem seu lugar especial no meu coração, eu asseguro.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

Divagação sobre o amor





Saber-me capaz de amar, amando com a liberdade dos pássaros e a soltura dos ventos, é bem mais gratificante do que insistir em um amor confinado e enrijecido, lutando pelas migalhas de um amado que pouco ou nada sabe amar. Ou como alguns aspiram, brigando pela posse de algo que nunca será de propriedade de alguém.


Amar enquanto romance é bem mais sedutor do que, em nome de um grande amor, entregar cegamente sonhos e tesouros ao amado que, na troca, te alimenta de inseguranças e ansiedades mesmo quando queira suprir-te de amor.


 Saber-me capaz de amar, sem contabilizar o amor dado ou recebido, prescindido o quanto o outro pode ou se permite amar, satisfaz-me pelo simples e maravilhoso fato de ser eu quem está a amar.





O que eu quero dizer com essas frases jogadas na tela? Não pensei, nem sei se faz sentido o que escrevi. Deixa-me ver.


Talvez... 


Que o amor vem e vai, e que ele é livre para fazer e percorrer e derreter.


Que se o meu amor estiver acorrentado à pessoa amada, incondicionalmente, eu sofrerei e morrerei de amor, e sobreviverei cabisbaixa e derrotada, exilada dos amores possíveis presentes e futuros.


Talvez...


Que ao aceitar o amor no seu ir e vir, dirigindo meus arroubos à pessoa amada, focada no presente, conforme o capítulo escrito pelo destino, o mais importante é saber que eu posso amar, e que eu posso morrer de amor, mas que eu não morrerei porque o amor vive em mim, e mais, porque o amor em mim é vida.


Que minha capacidade de amar pode me reanimar, me realimentar do amor que é meu, o amor próprio que mora comigo e está sempre em mim. Porque este amor, simplesmente, sou eu.


E o outro, querido ser amado e desejado ao meu prazer, este, eu sei que não me pertence. Ele é apenas a circunstância que a vida me apresenta. Sei que esse ser amado pode ficar, assim como pode ir. E se esta for a sua vontade, eu o deixarei ir. E não o esquecerei. Mas minha capacidade de amar continuará comigo, e eu continuarei amando. E amarei outros amores.


Talvez...


Que, ao amar, eu apenas estou presenteando o ser amado, livre e solto ser do mundo, com o amor que me inunda a alma, o corpo e os pensamentos.


Talvez...


Que eu posso compartilhar minha vertente produção de afeto, irradiar meu calor e odor de fêmea, e estender minha leveza com o ser amado, se ele quiser e puder emprestar-se a ser amado, se ele quiser e puder interagir através do amor que cada um carrega em si.


Talvez...


Seja isso.


Faz algum sentido?