sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Olhos vazados



     A aspereza dos dias e a rudeza das noites, as relações mal sustentadas pela extrema necessidade, a falta de expectativas diante de um mínimo por vir, além da perda das próprias referências existenciais, vão deixando alguns prontos para a guerra, mas outros,  a maioria deles, estão sendo torturados com o rápido esfriamento dos corpos, das emoções, e...  De suas almas?

     Os olhos de pálpebras caídas não olham mais os outros olhos, mesmo diante de olhos por onde o amor já transitou. Os olhos apagados, enegrecidos, submetidos, não veem e nem mais sabem a quem pertencem, mesmo sendo olhos que um dia sonharam coloridas perspectivas. 

     São povos, seres humanos dizimados diante dos nossos olhos indiferentes ou impotentes. Diante de nossos olhos inseguros, ingênuos, quando não, pobres de espírito. Olhos que desviam o olhar, que se lacram e adoecem com uma cegueira auto impingida de alto risco de contágio social. Grave mal de aparência inofensiva, mas que leva ao completo ressecamento de valores de quem o contrai.

     O cenário é assustador aos meus olhos. Temo que a seguir por esse caminho, sejamos todos seres de olhos vazados, destruídos pela ignorância e falta de empatia humana, engolidos por líderes vaidosos e ávidos pelo poder.