Acordei cedo e sai de casa passada das 6 horas e 30 minutos, como faço todas as segundas, terças e quartas-feiras. Estamos no inverno: o ar é frio e a escuridão da noite se estende manhã adentro. Neste horário as ruas estão desertas, os apartamentos silenciosos, e os sonhos de muitos estão sendo interrompidos pelos sinais de despertar. E os galos, ausentes das metrópoles, cantam apenas na lembrança de infância da gente mais velha.
Meu carro deslizava rápido por entre avenidas. No topo do céu eu via a lua, faceira, cheia, luminosa, distribuindo luz branca e prateada às esparsas nuvens a rodeá-la. As nuvens clareadas pela lua ficaram com seus contornos realçados, rendados, como em dia de festa. A imagem era poética e a sensação mágica. Meu dia começou afortunado, senti meu coração sorrir.
Rapidinha, cheguei ao clube. Vestida com maiô e roupão por cima, chinelo e meia de dedinhos, como de hábito passei no vestiário para deixar minhas sacolas. Lá encontrei mais duas amigas corajosas, quase velhas como eu, também se preparando para nadar. Na borda da piscina outros colegas prontos para o salto. Em minutos, nos jogamos todos na água climatizada da piscina externa, no meio da escuridão fria da manhã, mas iluminados por holofotes e pela majestosa lua.
Brinquei com a lua enquanto nadava de uma borda a outra da piscina. Ela me espiava e eu a ela. Quase todo tempo respirei mais do que às vezes necessárias só para ver a lua enfeitando o céu. Porém, eventualmente, disfarçava e fazia de conta que nem a olhava. A lua, toda prosa, não se continha e me provocava piscando miúdo a sua luz, escorregando-se suave e vagarosamente para a linha do horizonte, oculta por detrás dos edifícios. Com o pretexto de arrumar os óculos, parei de nadar por vários segundos, simplesmente, para me deliciar com a beleza da lua, repleta de gratidão.
O tempo foi se adiantando; o treino se gastando; e o sol, preguiçoso, ensaiando chegar, apenas clareou o dia. Só muito mais tarde é que ele se mostrou. E a lua, toda linda – alegre, redonda, clara – discretamente misturada à luminosidade do céu límpido, a semelhança do azul da piscina, de fininho, foi desaparecendo no frio.
Saí cedo e fui nadar. Hoje tive o privilégio de curtir o amanhecer em companhia da lua, cheia de si mesma.