terça-feira, 4 de agosto de 2020

PASSEIO NA PRAIA

 

Praia deserta, os murmúrios do mar

Gritam, preenchem todos os espaços.

No alto o sol ilumina, propaga-se,

Mas não aquece, a brisa é fria.

Eu caminho nas areias úmidas, choveu à noite,

O mar está gelado. A natureza é excessiva.

Mas a beleza vem com ressalvas,

Há perversão na alienação destrutiva do ser humano.

Latas, embalagens, garrafas pet, tocos de cigarro,

E demais lixos mancham as areias brancas.

Despejos pluviais escorrem sucessivos

Encharcam e carregam as areias da praia

Que sangram pelo descaso...

Tiro os óculos e perco a nitidez da imagem

Ela não se perde de mim, se mantém

Beleza brilhante, reluzente, apenas capturada com efeito,

Ou defeito.  A praia é exuberante a todos os sentidos,

Comove mesmo se, apenas, eu a respirar.

Apesar do meu desconsolo com a negligência humana

Nada me faz mais feliz do que estar aqui, nessa imensidão

Sedutora. O mar brinca em movimentos espumantes

Provoca, busca tocar os meus pés, mas antes de alcançá-los

Recolhe-se discreto, como se por timidez.

 

 


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

DEVANEIOS NOTURNOS


Pensamentos perturbadores povoam e se agitam na mente,

Enquanto o corpo mantém-se inerte e jogado sobre os lençóis frios.

A noite avançando na madrugada expõe um silêncio,

O silencio da cidade em coma profundo.

Estou perdida em mim, ou de mim?

Pálpebras, antes cerradas, agora completamente erguidas.

Olhos secos, ingurgitados, não de choro, mas de loucura.

Verdades e mentiras se entrelaçam não fazendo sentido

No jogo de luzes e sombras pervertem-se as noções de certo e errado

Verdades escapam, iludem. Desintegram-se.

As verdades são etéreas, são múltiplas, contraditórias...

Verdades falsas. Sobram as mentiras que acredito

Mentiras que explicam e se consolidam, que nos expõem,

Mentiras que me traduzem. Verdadeiramente?


sábado, 1 de agosto de 2020

Estrada paraíso


De uns tempos para cá, por questões pessoais mescladas com reminiscências profissionais, vejo-me exigida a passar de carro com frequência pela mesma estrada, indo e vindo sozinha.

E só, me delicio como na primeira vez.  Sinto indescritível fascínio ao ver as ondulações da serra no horizonte, o espelhar do vasto lago, o tom verde escuro das árvores à distância contrastando com o verde vivo da natureza próxima, e a via discretamente sinuosa. Além das características hipoteticamente estáticas, sutilezas vão dando personalidade à paisagem conforme a hora do dia, as condições do tempo e a estação do ano.  

O carro desliza com a velocidade reduzida pelo meu encantamento. Vou fotografando mentalmente cada seguimento do percurso para não perder nenhum detalhe, para não correr o risco de desperdiçar a mínima sensação de prazer. Toda vez é assim, não importam os motivos nem a pressa que me justificam, naquele momento eu saio do meu mundo exigente e me abandono ao êxtase dos escolhidos. Sinto a magia de ser parte, e de ter tudo.

Pelo trajeto elejo recantos nos quais eu poderia viver eternamente. Aproprio-me destes pequenos universos em trânsito sonhando moradias e estilos de vida, inventando destinos aos meus personagens mais íntimos, secretos e exóticos. E como fundo musical aos improvisados roteiros, costumo cantarolar sons em arranjos leves e desconexos que se compõe na alma. São minutos de pura poesia que me revigoram após infortúnios que tive em horas ou dias pregressos, ou que me fortalecem aos duros enfrentamentos que virão nas horas ou dias futuros.

Os compromissos me levam à estrada. O caminho se faz paraíso.

Meu epílogo: Do paraíso os meus diversos “eus” trazem noticias tuas. E sozinha, na estrada paraíso, sinto a tua presença irradiando o meu presente. E me inspirando.