De uns tempos
para cá, por questões pessoais mescladas com reminiscências profissionais, vejo-me
exigida a passar de carro com frequência pela mesma estrada, indo e vindo sozinha.
E só, me
delicio como na primeira vez. Sinto indescritível
fascínio ao ver as ondulações da serra no horizonte, o espelhar do vasto lago,
o tom verde escuro das árvores à distância contrastando com o verde vivo da natureza próxima, e a via discretamente sinuosa. Além das características
hipoteticamente estáticas, sutilezas vão dando personalidade à paisagem conforme
a hora do dia, as condições do tempo e a estação do ano.
O carro desliza
com a velocidade reduzida pelo meu encantamento. Vou fotografando mentalmente
cada seguimento do percurso para não perder nenhum detalhe, para não correr o risco
de desperdiçar a mínima sensação de prazer. Toda vez é assim, não importam os
motivos nem a pressa que me justificam, naquele momento eu saio do meu mundo exigente
e me abandono ao êxtase dos escolhidos. Sinto a magia de ser parte, e de ter tudo.
Pelo trajeto
elejo recantos nos quais eu poderia viver eternamente. Aproprio-me destes
pequenos universos em trânsito sonhando moradias e estilos de vida, inventando destinos
aos meus personagens mais íntimos, secretos e exóticos. E como fundo musical
aos improvisados roteiros, costumo cantarolar sons em arranjos leves e
desconexos que se compõe na alma. São minutos de pura poesia que me revigoram
após infortúnios que tive em horas ou dias pregressos, ou que me fortalecem aos
duros enfrentamentos que virão nas horas ou dias futuros.
Os compromissos
me levam à estrada. O caminho se faz paraíso.
Meu epílogo: Do
paraíso os meus diversos “eus” trazem noticias tuas. E sozinha, na estrada
paraíso, sinto a tua presença irradiando o meu presente. E me inspirando.
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