quinta-feira, 15 de maio de 2014

NOSTALGIA



Acordei entre lágrimas e sorriso

Tive um sonho bom. E triste:

Via-te ao longe, cabelos brancos,

Ralos e compridos aos ombros.

Teu corpo agasalhado em cinza

Olhos escondidos atrás das lentes

A procura... Talvez por mim?

Os olhares se cruzaram e tu vieste,

Em passos lentos, firmes, tu vieste a mim,

Com expressão indecifrável, tu vieste.

E eu fui a ti, sem saber por que ia, mas ia.

Abraçamos-nos forte e tu choraste.

Desaguaste no meu ombro a tua emoção

Um amor guardado, negado, e vívido.

E eu te senti corajoso, te senti homem.

Tuas lágrimas ficaram em mim,

Teu abraço me aqueceu e acarinhou

Tua imagem a procura... (Era de mim?)

Apagou-se. Ficou apenas a sensação

Do amor que se perdeu de nós.

sábado, 10 de maio de 2014

Mãe


Mãe! É a minha.

 

Sim, mãe também sou eu, mas no momento o termo ‘mãe’ leva o pensamento a resgatar a figura da minha mãe. Como posso descreve-la? E homenageá-la? Como dizer do imenso amor que sinto por ela, e que ela bem sabe, usando o tão amplo e maravilhoso recurso das palavras? Efetivamente, não há adjetivo simples ou composto, primitivo ou derivado, que consiga dar conta, minimamente, das qualidades que exprimem o universo de sentimentos que pulam no peito pela minha mãe. Parece pueril? Quase ridículo uma senhora na porta da velhice referir-se à sua mãe dessa forma? Mas junto à minha mãe serei sempre a sua menina, uma das suas “bruxinhas”, independente de que eu esteja com sessenta ou setenta anos.

 

Quantas vezes eu brinquei com meu filho caçula dizendo que a melhor mãe do mundo é a minha? E ele retrucava falando que a mãe dele era a melhor. E eu rebatia: “a minha mãe é a melhor porque foi ela quem fez a mãe de vocês, e ensinou a ela ser a boa mãe que é.” E ele se divertia  procurando enaltecer as minhas virtudes. E a brincadeira terminava com muitos abraços e beijos e amassos de carinho. Os mesmos abraços e beijos e carinhos que sempre me derreti recebendo, e oferecendo à minha mãe ao longo dos tempos. E que me derreterei a supri-la na nossa velhice e por todo o tempo em que estivermos juntas nesta dimensão da vida. E eu sei, cá para mim, certo e cristalino: jogava com meu filho, mas com a mais pura das verdades – a melhor mãe do mundo é a minha!

 

Mãe, minha amada mãe, meu grande apoio e orgulho, minha grande inspiração, grande alegria, e um dos meus maiores incentivos para lutar e buscar a vitória diante de obstáculos e enfrentamentos. Gosto de ser parecidinha contigo, mãe, em tudo quanto é possível - até nos defeitos, que, aos meus olhos, são tão insignificantes e apenas te conferem a condição humana. Acho graça quando imagino que estou ficando surdinha como tu, eu gosto de me perceber esbanjando alegria como tu sempre fizeste e fazes, eu aprecio a tua beleza de valores, de sentimentos e de figura feminina, desde sempre, e almejo ser uma velhinha linda como te vejo ser. Mãe, eu te amo de corpo e alma, e muito além de todos os limites.

 
É cópia, mas é lindo: "Mãe, primeiro e eterno amor." Mil beijinhos à minha mãe.



segunda-feira, 5 de maio de 2014

Amanhã tem mais (ensaio)


O corredor era comprido. Ela olhou para os lados e para trás, não vinha ninguém. Arrumou a postura, remexeu ombros e cintura, e caminhou, do início ao final do corredor, rebolando acintosamente. Pôs a mão no trinco, e já abria a porta, quando alguém falou do meio do corredor:

- Mãe???

Ela se virou e sorriu um meio sorriso.

"Mas era só o que me faltava, com tanta gente para chegar, podendo nem chegar, é justo o meu filho quem vem logo atrás?"

- Oi, filho. Que bom que chegamos juntos. Vamos entrar?

- Por que estavas rebolando deste jeito? Acho que estava exagerado para uma senhora da sua idade!

- Ora, meu filho, tu estás me chamando de velha? Presta atenção, todas as mulheres caminham assim. Agora chega de conversa boba e vamos entrar. Assunto encerrado, certo?

Ela abriu a porta e ambos entraram.

"Como vou aprender a rebolar se nem posso treinar? Filhos, filhos, ele tinha que chegar justo agora? Não era hora. Caminhando como soldado é que nunca mais arranjarei namorado. Atrevido, além de me censurar ainda me chamou de velha... Vou procurar uns óculos com retrovisor. Deixa estar!"

Parou diante do espelho por segundos, mirou os próprios olhos, e sorriu piscando um olho para a imagem refletida. Em seguida, num passo duro e troteado, se foi cruzando peças.