Estavam apenas ele e a mãe em casa. Por qualquer motivo os irmãos mais velhos haviam saído. Num raro momento, recostada no sofá e com os pés sobre a banqueta, a mãe assistia a televisão. De mansinho, mas sóbrio, ele sentou no mesmo sofá deixando um lugar entre eles. Esperou alguns minutos, como se a estudar o exato instante para dar início, e no seu costumeiro jeito tímido, em tom de voz calmo e baixo, falou:
- Mãe, nós precisamos conversar. Agora que eu estou fazendo quinze anos eu quero...
“Oh, céus!” Antes que ele continuasse falando, uma profusão de idéias, imagens, e lembranças, atropelando-se umas às outras, invadiram o pensamento da mãe que se ausentou, por segundos, do anunciado diálogo.
“Será que ele quer falar sobre sexo? Não me preparei para esse momento, estou desatualizada. Deveria ter conversado com os guris mais velhos, pedido suporte ou passado essa responsabilidade para eles. Não, não, eu sou a mãe, sou eu que devo orientá-lo e preveni-lo. Mas, além do uso do preservativo, o que mais devo dizer? Tenho certeza que ele já sabe sobre as doenças sexualmente transmissíveis, o risco de gravidez; ele lê muito e já teve orientação sexual no colégio. Então, o que será que me cabe? Dizer: tudo bem meu filho, já estas na idade, vai nessa. Ou: te cuida meu filho, escolhe bem com quem vais te relacionar, seja cauteloso e desfruta da gostosa experiência de intimidade. Ai, meu santo: talvez eu deva enfatizar que aceito qualquer que seja sua opção sexual, e que jamais deixarei de amá-lo se suas escolhas diferirem das sonhadas por mim.”
A mãe tentou aterrissar, porém quando deu por si, a sequencia de pensamentos povoavam a cabeça. “E, se ele disser que já transou, que quer trazer a namorada para eu conhecer? Será? Eu nunca percebi nada! Quem sabe eu estava tão desligada que não vi o andar dos acontecimentos? Vivo sempre tão ocupada com o trabalho e preocupada com as contas, a casa, e sei lá mais o quê; é provável que tenha negligenciado, que não tenha acompanhado às mudanças do meu filhinho.”
- Mãe, eu já tenho praticamente quinze anos, até com barba na cara estou. Por isso, quero te fazer um pedido: pára de te referir a mim como filhinho, de chamar meus amigos de amiguinhos, de pedir para eu tomar meu remedinho, arrumar minha caminha ou dobrar minhas roupinhas. Eu sei que sempre serei teu caçula, mas até o pequeno fica grande. Mãe, eu estou crescendo: um dia vou estudar fora, sei que posso sofrer por alguma namorada, como aconteceu com os manos, mas hei de casar e ter filhos. Precisas deixar de me ver como criancinha e ficar tranqüila porque, mesmo eu me tornando adulto, sempre serás a minha querida e amada mãe.
Se ela não estivesse sentada, teria caído sentada no sofá. Seus olhos encheram-se de lágrimas, o sorriso se fez límpido e discreto, e o abraço aconteceu mais espontâneo do que nunca.
- Meu filho lindo! Tu tens razão, eu vou cuidar. Tem um lado meu que já te vê homem, mas tem outro que te vê sempre um menino.
- Eu sei, eu sei!
E, com olhar maroto, prosseguiu:
- E sabendo disso, para te ajudar quando usares algum “inho” fora do lugar, por puro esquecimento, vou estalar os dedos para te avisar, assim, tudo bem?
E, com olhar maroto, prosseguiu:
- E sabendo disso, para te ajudar quando usares algum “inho” fora do lugar, por puro esquecimento, vou estalar os dedos para te avisar, assim, tudo bem?
Carinhoso e meigo, deu um beijo no rosto da mãe e tomou rumo.