quarta-feira, 30 de novembro de 2011

DICAS

Peça atenção, não a cobre
Mostre as falhas, não acuse os erros
Negocie as ações, flexibilize sua inconformidade
Acolha as diferenças, não agrida a forma de ser do outro
Ame do seu jeito, e deixe-se meramente ser amado.
Dialogar não é exigir!


INSTANTES


Ar soprado pelas hélices do ventilador
Calor emanado do esgotamento do prazer
Transpirações desaguadas nos lençóis
Corpos nus confundidos na perfeita fusão.
Um quarto, dois seres, um amor
Destinos que se cruzam. Seguirão?
Vidas perseguindo o pleno do instante.

E, seguindo o instante seguinte,
Vozes imperativas do silêncio opressor
Assolam em sussurros uníssonos:
- Aprumem-se! Vocês já têm uma certa idade,
Não vêem?



terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ciúme



Antes mesmo de abrir o computador já ensaiava em pensamento o que poderia escrever. Há dias imagino abordar sobre o tema do ciúme, esta disposição afetiva pouca admirada no rol dos sentimentos humanos, e tantas vezes camufladamente atrelada à existência de outros sentimentos, também pouco nobres, como a raiva ou a inveja.
Embora faça parte das nossas experiências desde a infância, o ciúme pode tornar-se um sentimento perturbador entre as relações fraternas, de pares e amores ao longo da vida, expondo inseguranças, imaturidade e, por vezes, desajustes.  Ainda assim, ele não é de todo ruim, com atenção percebemos que tudo é uma questão de medida.
Em nosso cotidiano enaltecemos o amor, o carinho, a gratidão, a alegria, a ternura - todos os sentimentos positivos, bonitos e admiráveis. Mas não somos anjos, nossa existência humana nos faz sofrer com os sentimentos baixos e mesquinhos no outro lado da balança, na constante busca pelo equilíbrio nessa eterna instabilidade de nosso ser.
O ciúme guarda em suas entranhas um sentimento de posse da pessoa que ama sobre a amada. E o temor da perda do ente amado para outro, qualquer que seja este outro, inclusive se real ou imaginário, desestabiliza gerando insegurança e promovendo reações. Quanto mais baixa for a auto-estima de quem ama, provavelmente maior será a resposta do ciúme e o ataque emitido por ele. E o mal estar pode crescer e crescer e crescer diante da espiral de comportamentos criada pela novela do ciúme. O enredo é bem conhecido: sofrimento mútuo aos envolvidos. Entre outros, na direção do enciumado ao alvo do ciúme surgem a dor, a angústia e a raiva nas formas de cobrança; e, possivelmente, na via contrária aparecem o ressentimento, a tristeza e o ódio como retribuição às acusações e agressões embutidas nas trocas afetivas. A comunicação de intenção amorosa obtém uma precária harmonia na instância dominador-dominado. E ao lado do amor sobrevive o conflito.
Quem ama quer preservar. E para isso deve cuidar. A relação de amor pede um bom vínculo, proximidade emocional, e muitas e contínuas interações. No movimento da vida dão-se os encontros e os desencontros, os entendimentos e os desentendimentos, estabelecem-se os acordos e os desacordos. E na turbulência dos acontecimentos temos que aprender a dançar ao som de músicas e ritmos diversos. O controle sobre o outro pode asfixiar, o excesso de segurança desinteressar pela falta de investimento. Descobrir a medida é difícil e demanda esforços, amor próprio, e uma boa dose de coragem e persistência diante das frustrações.
Ao ciúme administrado, sem a desestruturação das partes, pode-se reconhecer um sentimento de amor, um desejo pelo zelo da relação, e, principalmente, a necessidade da eleição de ações que valorizem, também, a pessoa que ama. Além disso, pode-se transmitir o recado à pessoa amada: a relação vale à pena e a pessoa que ama está atenta a ela.
O ciúme em si não é um problema, mas sim em como ele aparece, pois é na sua intensidade que se percebe a qualidade do amor  e o nível de desajuste ou desequilíbrio dos envolvidos nas tramas do coração. Lamentavelmente ainda não há um aparelho ou tabela para precisarmos esta medida, mas tenho certeza que conhecemos, nem que de passagem, o tal do bom senso. Se há sofrimento por causa do ciúme, que busquemos ajuda.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A moda

            

O comportamento é objeto do estudo da Psicologia, e a moda é um de seus numerosos caminhos. Assim sendo, a moda utiliza o corpo e seus movimentos como forma de expressão e comunicação. Comportamento e moda vinculam-se historicamente explicitando sentimentos, motivações,  e evolução. Entre os recursos que a moda oferece está a possibilidade de nos inserir em um grupo ou em um determinado contexto, por identificação ou circunstância.
A moda teve início na Renascença com a urbanização e o enriquecimento dos burgueses franceses. Com o despertar da vontade de imitar a nobreza, e com poder aquisitivo para isso, a burguesia passou a reproduzir seus trajes. Para os nobres se diferenciarem dos burgueses, passaram a criar novas formas e padrões estéticos que, por sua vez, eram novamente copiados, e assim por diante. A partir daí foi dado o impulso à engrenagem de transformação e criação da moda e a um comportamento social estratificado.
            Muitas foram as influências que determinaram os caminhos percorridos pela moda. Ela seguiu de perto a ciência, a industrialização e a cultura. Respondeu ao surgimento de necessidades; dos estilos de vida; adaptou-se às condições e diferenciações climáticas; criou tendências e identidades sociais; exprimiu idéias e sentimentos; identificou grupos e subgrupos, permitiu fantasias erótico-sexuais em padrões aceitos pela sociedade. A moda atual não segue códigos rígidos, dando vazão à liberdade e à criatividade, personificando quem a usa. A inspiração das criações tem sido buscada, em muito, no passado e no street style. E, a releitura de estilos é a novidade. A moda feminina abriga de tudo, embora se sugiram tendências.
Entretanto, com tanta evolução, os estilos nem sempre privilegiam o prazer do conforto. Percebemos isso quando, por exemplo, desenvolvemos um olhar crítico aos calçados femininos. Belos, com finos saltos altos, elegantes bicos a estreitarem-se, pretos ou vermelhos e, por vezes, confeccionados em material brilhoso. Puro fetiche! Sapatos provocadores que desenham e expõe pernas torneadas e sensuais. Que arqueiam a coluna ressaltando o peito e arrebitando ‘uma das preferências nacionais’. E em detrimento do conforto, as mulheres equilibram-se por calçadas esburacadas com os pés comprimidos, a torcerem tornozelos e desenvolverem joanetes. Mas, despertando olhares masculinos de desejo, deliciados com a estimulação de suas fantasias. Naturalmente, poucos homens e mulheres percebem, conscientemente, a comunicação erótica estabelecida. Mas ela existe. E lá vai o objeto de desejo, ignorando seus prejuízos, a desfilar repleta de prazer pela sedução provocante de seu caminhar.
          Estendendo nosso olhar mais atento, encontraremos semelhança a outras peças do vestir que espremem, apertam, sufocam ou expõe ao risco da inanição e das intempéries do tempo  o pobre e sofrido corpo. Mas, por que temos que abrir mão do saudável, do confortável, do prático para nos sentirmos modernos, bonitos, adequados ou atraentes? O prazer desta sensualidade, a satisfação quase sádico-masoquista que se estabelece na comunicação subliminar entre os sexos através de algumas modas, cobra alto preço no futuro. Será que as pessoas têm consciência e sabem o quanto vão pagar à frente?

sábado, 12 de novembro de 2011

VAI E VEM


Quando pisares sobre o teu chão com os pés descalços
Quando sugares a seiva do teu solo por tuas raízes a te nutrir
Quando te deliciares com a melodiosa língua do teu povo
Quando receberes o abraço amigo dos teus conterrâneos
Quando sorrires como criança junto aos da tua infância
Quando chorares de saudade ao tempo passado distante
Quando sentires a emoção na garganta ao revisitar tua casa


Lembra que aqui construíste e deixaste uma casa
Lembra da vida feita em outro chão, em meio a outros abraços
Lembra da sonoridade desta fala e de seus sotaques
Lembra dos sorrisos trocados, das lágrimas compartilhadas
Lembra das gentes e amores cativados nesta terra, tua nova pátria 
Lembra que tua história se escreve além do horizonte e das divisas
Lembra que aqui tens a mim, esperando pelo teu retorno.  



Aqui me tens!


domingo, 6 de novembro de 2011

CAMINHO


Caminho sem pés, sem passos,
Voo sem asas, sem pássaros.
Coração arrastado à poesia e afetos raros.
Barulhos. Amores afogados. Entulhos.

Meu corpo anseia o toque da presença perdida
No lusco-fusco do dia, entre brumas e ruas.
Solidão comprimida entre muros. Ferida,
Bóio a deriva de indiferenças tuas.

Costuro instantes, retalhos e futuro:
Nada de ti, nada do tempo, nem despedida.
Nado no nada!  Líquido impuro,
Vida enfarinhada, sensibilidade mordida.

Cresce o frio! O cinza. Vazio:
Sem pés, sem assas, sem e nem.
Resigno-me a este abandono sombrio:
Estou só, na busca de um caminho.

Meia Idade


Estar-se na meia idade talvez significasse que se está no meio da vida. Mas para saber-se no meio da vida deveríamos saber qual é o tamanho da vida inteira. E quem é que sabe ou quem é que define a idade de referência da vida humana?
Muitos são os estudiosos na área da medicina e biologia que procuram conhecer a elasticidade da vida nos tempos atuais e futuros, baseando-se em dados da evolução da espécie humana. Também são incontáveis os estudiosos, das áreas humanas e sociais, que buscam identificar os comportamentos individuais e coletivos de sociedades e culturas na história do homem, com vistas a fixar as fases da vida em seu prolongamento.
É possível que o cruzamento de estudos nas várias áreas do conhecimento nos leve a ratificar definições já estabelecidas e retificar outras quanto às fases e à elasticidade da nossa existência.  Provavelmente precisaremos assimilar e nos adaptar a novos e sucessivos fenômenos, como, por exemplo, o que já vem se apresentando na atualidade: a velhice maior ou, dizendo de outra forma, a quarta idade.
O assunto é extenso e pede estudos científicos. Porém, minha questão hoje é pessoal e circunstancial: quero pensar sobre a meia-idade como a fase da vida na qual me encontro neste exato momento, contextualizada no meu aqui e agora, independentemente dos critérios que a determinaram.
Sou uma pessoa de meia idade vertendo sonhos; infindáveis desejos concebidos desde os remotos tempos até o passado recente, pipocando e pedindo espaço. Meus filhos estão criados, o tempo se faz dobrado, e a capacidade de amar se expande além da mais alta aspiração. Palpita no peito afeto para amar novas vidas, descobrir novas paixões, estabelecer novos laços de carinho e admiração, e manter amores conquistados com cuidado.
Sou uma “envelhecente” que aspiro à vida além dos 90, e com bastante saúde para usufruir da longevidade ambicionada. Projeto meu futuro com zelo e dedicação à vida que tenho nas mãos. O presente está recheado de realizações, e de frustrações também, construídas ao longo da minha história. E pretendo usar cada centímetro desta bagagem em benefício dos próximos empreendimentos.  Há muito descobri que as mais preciosas lições decorrem dos meus próprios acertos e erros. Atualmente faço esforços para perdoar-me aos erros cometidos - que normalmente não são graves - refazendo caminhos, objetivos ou relacionamentos.
Os anos voam e neles percebo meu corpo mudando em processo ininterrupto. Apesar de crer-me em forma, o desenho da silhueta está mais arredondado, a pele ganhou manchas e vincos e textura variada, os pelos e cabelos estão esbranquiçados. Meus olhos pedem permanentemente o enfeite das lentes, e há quem diga que minhas orelhas estão crescendo, embora eu não note nenhum aumento da audição. Estou modificada. Porém diante do espelho continuo me encontrando e me encantando. Sinto-me bonita! Estranho, capto minha beleza em detalhes antes ignorados. Sim, atento para uma juventude existente em mim, um tanto transformada, confesso, mas com robustez para encarar os desafios da séria vida e da vida brincada. Aposto nos neurônios, músculos, ossos e órgãos, todos trabalhando com eficiência e se intercomunicando com êxito aos esforços de obter um comportamento ativo e saudável. Mesmo assim, não negligencio as visitas aos especialistas. Quem procura acha, e os médicos têm encontrado soluções aos problemas manifestos, descartando as questões mais graves, para minha alegria. Atualmente brindo não sofrer mais as turbulências do humor decorrente do ciclo menstrual.
Sou uma mulher de meia idade predominantemente feliz, ocasionalmente invadida por tristezas que me derretem em lágrimas. Habitualmente sou animada, eventualmente experimento uma nova e desconhecida crise. E, por vezes, minhas seguranças perdem-se por falta de autoconfiança, ainda! Reconheço-me produtiva, meditativa, preguiçosa, coerente, criativa, estressada, e tudo o mais que sempre fez parte de mim. Igual e distinto. A experiência obtida com a vida tem promovido a diferença.
A menina virou mulher. A pessoa adulta está envelhecendo. E eu, como futura idosa, ainda desejo um dia contar sobre as experiências que estou por viver. O passado me enriqueceu, o presente me envaidece, e o futuro me desafia. O sucesso me fez brilhar. Os percalços me ajustaram, me fortaleceram, e também deixaram cicatrizes que revelam quão duras foram as lutas empreendidas. A vida evoluiu em mim, e eu evoluí nela.
E, estou apenas na meia idade. Ou no meio da vida? Vida como tempo contado ou como fato? O que direi quando estiver completando o meu percurso de vida?


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Cotidiano - Sob outro prisma


 

Não entendo o que há de errado, mas algo deve estar errado!

O dia começa cedo para mim: acordo às 6 horas, com exceção dos sábados e domingos, quando é comum eu levantar por umas 8 horas. A agenda é cheinha mesmo aos finais de semana. Faço muitas e cada vez mais coisas durante o dia todo, e chego exausta à noite porque não parei de fazer. No entanto, ao deitar a cabeça no travesseiro, com o intuito de ler um pouco e pegar no sono, tenho a impressão que estou em dívida – parece que não produzi o quanto eu precisava, que não realizei o almejado, que não contribui com o que deveria.

Não entendo o que há de errado!

Será que estou exigindo além de mim, ou será que eu deveria estar me ocupando com outros fazeres? Será que deixei tanto por fazer e agora estou tentando recuperar os atrasados, ou será que quero abraçar o mundo com medo de perdê-lo? Será que estou me projetando às minhas idealizações de mim mesma e, por isso, me cobrando? Ou será que essa insatisfação é pura ansiedade? Ou desespero? Sei lá, eu não estou entendendo.

Sinto frustração quando me deparo com o ritmo do meu envelhecimento e a fragilidade das minhas realizações, assim como com o contingente de obrigações que penso ser meu. Fico preocupada (ou será que é angustiada?) ao perceber que o tempo voa tão rápido quanto os meus pensamentos, quase não deixando vestígios. E que as minhas ações não conseguem concorrer com parcerias tão ágeis assim; que a maioria dos meus projetos e sonhos poderá ser apenas registrada em uma conversa ou em alguma folha em branco, mas provavelmente não se cumprirá como realização.

Sinto medo de partir dessa vida e não ter desfrutado da felicidade, não ter amado o potencial de amor que trago em mim, não ter cuidado bem do meu mundo, não ter aprendido a aproveitar a vida como poderia. Sinto medo de partir e não ter deixado nada de mim (além dos filhos?), de não ter feito a diferença com a minha existência (eu não sei bem o que quero dizer com isso, mas é isso mesmo que quero dizer). Sinto medo de concluir não ter valido a pena viver a vida que vivi.

Gostaria ainda, e tanto, de aprender mais sobre história, geografia, inglês, espanhol, decoração, psicologia, artes, costura, fotografia, culinária, educação, literatura, e. Gostaria de realizar mais a partir das minhas aptidões para a escrita, a pintura, a psicologia e o esporte. Gostaria de ser mais efetiva como mãe, como filha, como amiga, como amor. Gostaria de alcançar mais estabilidade emocional, segurança econômica, organização em geral, e coragem para os enfrentamentos. Gostaria de distribuir mais minhas palavras inspiradas, carregadas de poesia e afeto, e os sorrisos de alegria e acolhimento que trago comigo; gostaria de me desprender dos roteiros formais, brincar e compartilhar a construção de momentos leves com quem eu cruzo caminho. Gostaria de fazer da minha vida uma espiral abrindo-se infinitamente às novas conquistas.

Gostaria, ah, e como gostaria, de viver o amor sem limites, sem medo, sem jogo, sem prazo, sem distância. Gostaria de viver o nosso amor como o mais bonito, o mais intenso, o mais maduro, o mais certo, o mais verdadeiro. Gostaria de viver este amor como se fosse o último.

Não entendo o que há de errado, mas se algo está errado, tenho convicção que nem me importaria tanto se estivesse bem mais ocupada ao teu lado, simplesmente te amando mais.

 

CILADA


Companheiro amigo de todas as noites,
Oh, sono por onde andas?
Por que me abandonaste?
Foste dormir em outras paragens?
Desejo-te tanto, volta para mim
Vem pegar-me no colo
Receber meu corpo quente e solto.
Vem brincar com meus distraídos sonhos
Enlevar-me aos paradisíacos cantos da noite dormida.
Sono querido liberta-me desta ingrata insônia
A malvada prendeu-me nas teias de sua armadilha.
Insônia que me maltrata a cada minuto, a todo segundo
Mantém-me sob suas garras nestas obscuras horas.
Oh, sono!  Eu não gosto dela
E te gosto tanto. Vem! Volta para mim!