Estar-se na meia idade talvez significasse que se está no meio da vida. Mas para saber-se no meio da vida deveríamos saber qual é o tamanho da vida inteira. E quem é que sabe ou quem é que define a idade de referência da vida humana?
Muitos são os estudiosos na área da medicina e biologia que procuram conhecer a elasticidade da vida nos tempos atuais e futuros, baseando-se em dados da evolução da espécie humana. Também são incontáveis os estudiosos, das áreas humanas e sociais, que buscam identificar os comportamentos individuais e coletivos de sociedades e culturas na história do homem, com vistas a fixar as fases da vida em seu prolongamento.
É possível que o cruzamento de estudos nas várias áreas do conhecimento nos leve a ratificar definições já estabelecidas e retificar outras quanto às fases e à elasticidade da nossa existência. Provavelmente precisaremos assimilar e nos adaptar a novos e sucessivos fenômenos, como, por exemplo, o que já vem se apresentando na atualidade: a velhice maior ou, dizendo de outra forma, a quarta idade.
O assunto é extenso e pede estudos científicos. Porém, minha questão hoje é pessoal e circunstancial: quero pensar sobre a meia-idade como a fase da vida na qual me encontro neste exato momento, contextualizada no meu aqui e agora, independentemente dos critérios que a determinaram.
Sou uma pessoa de meia idade vertendo sonhos; infindáveis desejos concebidos desde os remotos tempos até o passado recente, pipocando e pedindo espaço. Meus filhos estão criados, o tempo se faz dobrado, e a capacidade de amar se expande além da mais alta aspiração. Palpita no peito afeto para amar novas vidas, descobrir novas paixões, estabelecer novos laços de carinho e admiração, e manter amores conquistados com cuidado.
Sou uma “envelhecente” que aspiro à vida além dos 90, e com bastante saúde para usufruir da longevidade ambicionada. Projeto meu futuro com zelo e dedicação à vida que tenho nas mãos. O presente está recheado de realizações, e de frustrações também, construídas ao longo da minha história. E pretendo usar cada centímetro desta bagagem em benefício dos próximos empreendimentos. Há muito descobri que as mais preciosas lições decorrem dos meus próprios acertos e erros. Atualmente faço esforços para perdoar-me aos erros cometidos - que normalmente não são graves - refazendo caminhos, objetivos ou relacionamentos.
Os anos voam e neles percebo meu corpo mudando em processo ininterrupto. Apesar de crer-me em forma, o desenho da silhueta está mais arredondado, a pele ganhou manchas e vincos e textura variada, os pelos e cabelos estão esbranquiçados. Meus olhos pedem permanentemente o enfeite das lentes, e há quem diga que minhas orelhas estão crescendo, embora eu não note nenhum aumento da audição. Estou modificada. Porém diante do espelho continuo me encontrando e me encantando. Sinto-me bonita! Estranho, capto minha beleza em detalhes antes ignorados. Sim, atento para uma juventude existente em mim, um tanto transformada, confesso, mas com robustez para encarar os desafios da séria vida e da vida brincada. Aposto nos neurônios, músculos, ossos e órgãos, todos trabalhando com eficiência e se intercomunicando com êxito aos esforços de obter um comportamento ativo e saudável. Mesmo assim, não negligencio as visitas aos especialistas. Quem procura acha, e os médicos têm encontrado soluções aos problemas manifestos, descartando as questões mais graves, para minha alegria. Atualmente brindo não sofrer mais as turbulências do humor decorrente do ciclo menstrual.
Sou uma mulher de meia idade predominantemente feliz, ocasionalmente invadida por tristezas que me derretem em lágrimas. Habitualmente sou animada, eventualmente experimento uma nova e desconhecida crise. E, por vezes, minhas seguranças perdem-se por falta de autoconfiança, ainda! Reconheço-me produtiva, meditativa, preguiçosa, coerente, criativa, estressada, e tudo o mais que sempre fez parte de mim. Igual e distinto. A experiência obtida com a vida tem promovido a diferença.
A menina virou mulher. A pessoa adulta está envelhecendo. E eu, como futura idosa, ainda desejo um dia contar sobre as experiências que estou por viver. O passado me enriqueceu, o presente me envaidece, e o futuro me desafia. O sucesso me fez brilhar. Os percalços me ajustaram, me fortaleceram, e também deixaram cicatrizes que revelam quão duras foram as lutas empreendidas. A vida evoluiu em mim, e eu evoluí nela.
E, estou apenas na meia idade. Ou no meio da vida? Vida como tempo contado ou como fato? O que direi quando estiver completando o meu percurso de vida?