domingo, 10 de março de 2024

O machismo está sentado ao lado


O lobo se cobre com a pele de cordeiro, e todo vaidoso se admira em frente ao espelho sentindo-se dócil e bonzinho como se ele realmente fosse um cordeiro. Pois é assim que eu vejo quantidade de machistas circulando por aí, com discursinhos subjetivos e superficiais defendendo a mulher na sociedade, mas que, diante de qualquer situação concreta, logo descarrega uma mala de culpas, pesadas como uma muralha de pedra, às costas da mulher, heroína mulher que se desdobra em mil na luta diária para se afirmar e sobreviver nesse mundo desigual, desrespeitoso, estereotipado, discriminatório, mundo que ainda se regozija pela supremacia masculina.

 Confesso que meu sentimento hoje é de rebeldia, é de fera ferida, é de mulher que bate no peito, com força e coragem, a defender o seu direito de ter-se reconhecida pelo seu imenso poder de transformação. Meu sentimento hoje é de enfrentamento, é de combate aos esforços machistas de nos diminuir, nos calar, nos sufocar, nos culpabilizar, nos anular, nos aprisionar, nos ofender, nos agredir, nos matar... como mulheres.

Hoje estou ofendida diante desse indigesto mundo masculino, no qual machistas mal disfarçados de aliados das causas por igualdade e justiça, dizem o que bem entendem, e julgam sem critérios para desqualificarem as mulheres.

E justamente no dia 8 de março, dia para reconhecer as lutas históricas das mulheres por igualdade de gênero, igualdade de direitos e oportunidades, dia de luta contra a violência à mulher, e a qualquer tipo de discriminação, hoje eu me senti profundamente agredida como mulher.

Eu explico.

Hoje eu tive uma conversa informal com um amigo... ou será que eu me enganei? Pensei que fosse, mas ele era um lobo...

Diante da exposição de uma problemática de saúde emocional e comportamental de um jovem, apresentada por mim a esse amigo-lobo, eu tive que ouvir, atônita, a pobre e rudimentar análise feita por ele, considerando apenas um único aspecto do complexo problema, calçado em um argumento da ciência jurídica usado de forma rasa e limitada, na qual, sem pestanejar, aproveitou a primeira oportunidade para culpabilizar uma mãe: 

A doença emocional do jovem era culpa da mãe, pois sendo os pais separados, a mãe teve mais tempo de convívio. Simples assim! 

Um pai ausente, ou um pai agressor à figura e à imagem dessa mulher, mãe, não impacta sobre um filho? Por outro lado, uma mãe sobrecarregada com dupla jornada de trabalho, com mais filhos, com suas lutas para progredir profissionalmente, para oferecer melhores condições econômicas à família, nada disso necessita ser considerado na busca por entender um problema? E o grupo familiar como um todo, ou a escola e a sociedade, ficam plenamente eximidas? Isso, sem considerar possível pré-disposição biológica ou hereditária como fator coadjuvante de qualquer problema. Não, não não!!! É lógico que a culpa é da mãe.

Gente, ainda hoje, isso?

Não, a culpa não é da mãe!!! 

A mãe tem responsabilidade, sim, mas o pai também tem responsabilidade, tanto quanto. A pequena e grande família têm lá suas responsabilidades diante de um problema emocional e comportamental de um jovem, a escola também tem sua parcela de responsabilidade, a comunidade tem responsabilidade assim como a sociedade também tem. Inclusive, o próprio jovem pode ter responsabilidade pelo seu problema. A mãe não é a culpada por tudo, mesmo que ela tenha tido mais horas com os seus filhos. Por que não cogitar que essa mãe pode ser uma vítima, e não a algoz diante do problema, pois sabe-se lá qual a influência que todos os outros elementos tiveram sobre o distúrbio do jovem? A mãe teve mais tempo com o filho, mas, e a falta de tempo do pai não incide em sofrimentos ao filho? A negligência, ou o abandono, não pode adoecer um filho? E as possíveis agressões físicas ou psíquicas, vamos deixar de lado?

Com certeza, nós mulheres precisamos de mais empatia por parte da sociedade, e mais visibilidade às nossas reivindicações para alcançarmos um mundo mais equilibrado e justo para todos.

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