segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Os incomodados que se retirem



Desde que me conheço por gente, nas pequenas rivalidades e desavenças com os irmãos, ouço de forma recorrente que “os incomodados que se retirem”. E sempre achei razoável a proposta, por isso, com muita naturalidade fui deixando tudo o que me incomodava para trás. Mas hoje me vejo sem saída. Se eu me retirar dos ambientes e das relações que me incomodam, não terei para onde ir e, pior que isso, cairei em estado de isolamento. Sim, estou fortemente convencida, eu não encontrarei um clube, um partido político, ou um país que me acolha, que me represente ou me entenda como desejo. Não conseguirei estar nem entre as pessoas que estimo, pois me desconforto à falta de diálogo diante dos intolerantes embates na defesa de verdades pessoais, assim como me inquieto ao nefasto risco de ser alvo das pequenas e grandes trapaças por quem me rodeia. Ou ainda, porque está difícil administrar o popular, pouco ético e tão brasileiro, “jeitinho” de levar vantagens sobre os outros.

Estou chateada, inconformada, quase revoltada. Gostaria imensamente de me retirar diante da quantidade de incômodos, como eu sempre fiz, mas dessa vez não dá, mesmo que a ideia continue a me seduzir. Meu discernimento aponta para duas saídas: ou me retiro da vida por falta de lugar ou companhia para mim (o que realmente não cogito), ou enfrento o que me assola encarando as provocações que a vida me submete. Sem uma saída confortável, hoje decido diferente, e brado em alto e bom tom a minha nova posição: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira.” Não darei mais as costas às coisas que me incomodam. Enfrentarei os dissabores com determinação, lutarei contra os infortúnios através dos recursos da inteligência, apesar da emoção por vezes atrapalhar as lógicas da razão, e me valerei da experiência para descobrir alternativas minimamente eficientes diante de tantos reveses. Ah, sim, dessa vez a incomodada não se retira.

Quando eu pensaria que aos “sessentinha” estaria com tantos problemas, e da mais ampla natureza, a desafiarem a ordem estabelecida e consagrada pelos razoáveis resultados? Quando eu acreditaria que, nessas alturas do campeonato da vida, eu ainda seria exigida a desenvolver uma postura muito mais ativa, enérgica e combativa? Agora só falta eu me candidatar para as próximas eleições. Isso seria revolucionário.


3 comentários:

  1. E por que não, prima? O verdadeiro candidato é sempre movido pelos inconformismos da vida!

    Que o Novo Ano nos traga as melhores surpresas!

    Beijos

    Mauro Meirelles de Oliveira Santos

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  2. "Daqui nao saio, daqui ninguém me tira!" Acho que são pessoas assim, inquietas, com muita vontade de questionar e viver, que precisamos. Os jovens precisam de mulheres e homens com "sessentinha" ou mais, cheios de vida, incentivando e mostrando que, por mais difícil que seja, temos que seguir acreditando e lutando pelo melhor. Texto perfeito!!!!! Adorei!!!! Beijos

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  3. Agradeço tardiamente, mas de coração. O apoio incentiva. Bjs

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